Versos de Interesse para uma Mulher

E o que era "eu"
É uma simples palavra
Na boca das trevas de Dezembro

A sensação de tocar com os dedos
O que não tem realidade -
Uma pequena borboleta.

Lágrima aflora.
Na música lá fora
uma alma chora.

Rosto no vidro
uma criança eterna
olha o vazio

Quando a chuva para,
por uma fresta nas nuvens
surge a lua cheia.

entre velhas páginas
uma folha ainda verde
da casa antiga

Em Março de 79

Farto de todos aqueles que com palavras fazem palavras mas onde não há uma linguagem;
Dirigi-me para a ilha coberta de neve.
A veação não conhece palavras.
As páginas em branco dispersam-se em todas as direcções.
Eu dei com vestígios de cascos de corça na neve.
Linguagem, mas nenhuma palavra.

Nalguma preferência uma estima é baseada,
E estimar todo o mundo é não estimar nada.

Na velha roseira,
entre as folhas e os espinhos,
uma aranha tece.

cada haikai
uma nova peça
num quebra-cabeça sem fim

Em cima do túmulo,
cai uma folha após outra.
Lágrimas também...

a cigarra anuncia
o incêndio de uma rosa
vermelhíssima

Cercada de verde
ilha na hera do muro:
uma orquídea branca.

Já é primavera:
Uma colina sem nome
Sob a névoa da manhã.

Uma velha sem dentes
que rejuvenece
cerejeira em flor

o bambual se encantava
parecia alheio
uma pessoa

noite calada
uma loba uiva -
homem no cio

Juntos,
um homem e a brisa
viram uma página

Sobre a laje fria
diz adeus à primavera
uma rosa murcha.

Sombra de árvore -
Até mesmo a companhia de uma borboleta
É karma de uma vida anterior.