Poemas curtos de Clarice Lispector
Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim.
Me mato? Não. Vivo como bruta resposta. Estou aí para quem me quiser.
Vivemos exclusivamente no presente, pois sempre e eternamente é o dia de hoje, e o dia de amanhã será um hoje, a eternidade é o estado das coisas nesse momento.
E porque minha alma é tão ilimitada que já não é eu, e porque ela está tão além de mim – é que sempre sou remota a mim mesma, sou-me inalcançável como me é inalcançável um astro.
Não estou à altura de imaginar uma pessoa inteira porque não sou uma pessoa inteira.
Talvez eu agora soubesse que eu mesma jamais estaria à altura da vida, mas que minha vida estava à altura da vida. Eu não alcançaria jamais a minha raiz, mas minha raiz existia.
Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir. Mas enquanto eu estava presa, estava contente? ou havia, e havia, aquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira?
Ora, não sou linda. Mas quando estou cheia de esperança, então de minha pessoa se irradia algo que talvez se possa chamar de beleza.
A esperança também não tem número. Perder uma coisa é inefável: nunca sei onde as coloquei. (...) Ser é de um provisório impalpável. (...) Juro que preciso de soluções. Não posso ficar assim completamente no ar.
Viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir.
Eu acho que, quando não escrevo, estou morta.
Hoje compreendo-o. Tudo lhe perdoo, tudo perdoo aos que não sabem se prender, aos que se fazem perguntas. Aos que procuram motivos para viver, como se a vida por si mesma não se justificasse.
Quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.
Às vezes escrever uma só linha basta para salvar o próprio coração.
A crueza do mundo era tranquila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.
Mas ela já o amava tanto que não sabia mais como se livrar dele, estava em desespero de amor.
Experimentamos ficar calados – mas tornávamos inquietos logo depois de nos separarmos.
Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma.
Quero exigentemente que acreditem em mim. Quero que acreditem em mim até quando minto.
Que simplicidade. Nunca pensei que o mundo e eu chegássemos a esse ponto de trigo.
