Verbo
Olhe a sua volta, o verbo "estar" é mais forte do que o "ser". Tudo se transforma e nada é pra sempre.
VERBO AMAR
Quem sou?
Já não sei mais
Sei que queria ser amada
Queria provocar saudade
Provocar desejos
Encantar
Andar de mãos dadas
Beijar na boca
Ser a cúmplice... a companheira
Ser a menina... a mulher
A razão... a emoção
Queria ser entendida pelo olhar
Queria apenas conjugar o verbo amar
Conjugar o verbo é simples. Eu conquistei. Eu conquisto. Eu conquistarei. Mas, de fato é simples realizar o verbo?
Ame o mundo,mesmo que você não seja amado por ele;pois é muito melhor conjugar o verbo amar que conjugar o verbo odiar.
A sociedade contemporânea só conjuga o verbo na primeira pessoa...
Não existe Nós...
Somente Eu...
Haverá sociedade?
O singularismo é a palavra de ordem.
Estudar é um verbo que poucos praticam, mas os poucos que executam migram para o substantivo chamado sucesso.
O verbo naufraga em silêncio
[como de costume]
E eu, avessa a tudo
Levo comigo o cofre com os meus sete desejos
Não há vírgulas enquanto sigo viagem
Há um único e maldito parágrafo
Que grita sem misericórdia!
E eu! Eu hemorrágica!
Nada estanca os delitos
Que saem das minhas veias rompidas
Confesso meus homicídios, mas não peço perdão
Há lacunas, há culpa, há sulcos em minha testa
(e há vultos passeando pela minha sala)
Tempo, tempo, tempo
Lembro salmos, provérbios, versículos
Percebo que desenho minha própria caricatura
[e não vejo graça alguma]
Continuo sangrando e quase desfaleço
Apresento os polos da minha versatilidade
Enquanto volto atrás e lembro-me que azar também é palavra
(mas que não se pronuncia)
Tento a sorte, então
E pergunto por deus...
[que mudou de endereço faz tempo]
Vê, Senhor, o meu olhar de súplica!
Trarias de volta a alegria da minha inocência???
E minha alma? Levaria de vez contigo?
Resgata-me com teus tentáculos de piedade
Ou,
Marca pra mim uma audiência com Cristo
Fala que sou poeta.
E desejo que ele escreva o prefácio do meu livro
Livro da Morte
Onde falo das minhas únicas certezas:
Do fim
Da decomposição da matéria
Dos ossos secos
Das minhas mentiras atenuadas pela licença poética
Ai de mim! Ai de mim!
No Livro da Morte
É onde escondo o meu vocabulário chulo
E os meus medos, os meus enganos, e todo esse meu ódio por ser volátil!
E por estar em um caminho sem volta
Mas há consolo, mas há poesia, mas há canções de amor por toda a parte
Então prossigo
Naufragando com um meio sorriso
Vou reticente...
Sempre.
Até achar o ponto.
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