Velha
“Eu ainda guardo aquela velha caixinha de música, lembra? Aquela que você comprou pra mim no centro histórico da sua cidade. E ainda coloco pra funcionar toda vez que sinto saudade sua. Na verdade, é uma das minhas muitas manias querer que as coisas funcionem a meu modo e no meu tempo. Porém, da mesma forma que tenho essa velha e péssima mania, o universo conserva a mania de rir da minha cara a cada vez que eu fracasso. Fracassei com você mais uma vez. E aí fui obrigada a doar os presentes que você me deu, pois seria covardia deixá-los envelhecerem guardados no armário. Exceto pela caixa de música. Você sempre dizia que cada música tem o poder de criar histórias únicas e essa música da caixinha conta a história de dois corações se encontraram e enquanto um foi lua, o outro foi sol. E o ritmo de ambos não permitiu que um eclipse se formasse. Essa lua quer tudo no teu tempo, já o sol não soube medir a temperatura dos raios que lançava. Essa música, em específico, conta a história de dois corações que nunca aprenderam a dançar aquela valsa. Nada deles era ensaiado e, embora isso seja o mais lindo no amor, o ensaio da mão dada e da conversa e do diálogo é só uma das partes de uma receita inteira sobre como fazer dar certo. Lembra que eu gosto de tudo no meu tempo? Mantenho em meu pulso um relógio com dois minutos atrasados pra que nada que eu faça em relação a você seja apressado demais. E eu sei que não faz sentido. Mas aquela música, aquela da caixinha que eu ainda guardo, ela também conta a história de alguém que mete os pés pelas mãos e erra incontáveis vezes tentando acertar. Mas se há algo que ninguém nunca me contou sobre o amor, é que por mais que os erros sejam peças importantes de um tabuleiro, também são eles que nos fazem levar um xeque-mate. Do tempo, da vida, do outro, do próprio amor. Quando eu fui lua, você foi sol e a gente teve que aprender a viver assim, se admirando de longe, se querendo por perto, mas obrigados a viver separados. E aí a música que toca nessa caixinha me lembra que a composição feita dela também fala de amor. Fala de beijo na boca, de discussão, dos medos e dos pequenos acertos do dia a dia. Fala daquele abraço apertado e da gigantesca saudade que minhas células sentem das suas. Na verdade, agora eu posso ouvir uma história diferente ecoando da melodia. Fúnebre, triste, melancólica, como quem diz que infelizmente essa música não pertence mais a mim. Eu não aprendi a te deixar. Mas a cada nota que falha pela gasta bateria dela, eu me convenço que esta história morreu e que preciso- muito- construir outra. Seria burrice não fazer isso. Agora posso dizer que ainda guardo a caixinha, mas quando sinto saudade sua, me contenho e faço um café. Vi no jornal que hoje tem eclipse, mas infelizmente não sou mais a lua.”
Minha amada.
Há coisas que a gente sente e não sabe explicar. Mas quando se trata de você, tudo em mim grita. Grita teu nome no silêncio, grita tua falta no vazio, grita teu amor em cada gesto meu.
Eu sou aquele que conta os segundos quando você demora. Que sonha acordado com teu sorriso, que se perde no tempo só pra te encontrar num pensamento. Sou o que te espera sorrindo, mesmo quando o mundo pesa. Sou o que abre a porta do carro e do coração, todos os dias, pra você entrar. Eu sou o cara que te ama do teu jeito — com tuas manias, teus silêncios, tuas tempestades e tuas manhãs de sol.
Sou o que te acaricia os cabelos depois do amor, e que acorda feliz só por te ver respirar ao meu lado. Se amar é voar sem asas, então eu voo. E se amar é ser abrigo, então eu sou casa.
Esse cara Sou Eu. E sempre serei.
Com todo o amor que há em mim, Teu.
꧁ ❤𓊈𒆜🆅🅰🅻𒆜𓊉❤꧂
Tequila, café e cigarros exatamente nessa ordem me preenchiam. Aquela velha história do amigo engarrafado me era completamente aplicável, não havia companhia melhor. Porque eu não desejava conversar, pessoas se preocupam demasiadamente e eu não precisava de especulações, conversas enfadonhas e repetir tudo o que estava acontecendo comigo. Não. Eu não quero falar sobre isso. Isso o quê? Se eu tivesse noção do que era. Acontece que esses dias estão tortuosos e eu não desejo levantar-me daqui, a poltrona já adquiriu o formato do meu quadril e a TV me dá o entretenimento necessário para continuar trancafiada aqui. Sossego é o que eu quero. Desde que ele fora embora eu ouço versos que me falam sobre amores arruinados, o coração já não bate, esquecera completamente o tal do Tum-tum-tum. Será que o coração bate assim? Há algum tempo que não sei como ele reage, porque os dias estão vazios. Sabe toda aquela ideologia de que é possível viver sozinho? Pois é. Acreditava nisso piamente porque ele estava ao meu lado, agora que se foi tudo é cinza. E eu chorei um oceano inteiro essa noite. Eu precisava esvaziar. Porra eu preciso ser internada.
Estou me desprendendo daquela velha cartilagem
Me desvencilhando de tantos heteronômios adquiridos na estrada da vida
Da vida que começa em mim e termina no outro
Da vida que muitas vezes começa aqui e cruza com outras
E de tantas... tantas que me perco no impasse de ser e existir
Atualmente, ser feliz é questão de prioridade!
