Um Estranho Impar Poesia
Eu tenho um pé no horizonte
e outro no paraiso
eu tenho uma fonte infinita de riso
e um sol se pondo atrás do monte...
RETOQUE
Poderia começar dizendo que sou um romântico,
Tudo que você sabe de mim ou de ouvir falar...
Na verdade eu vivo de retoques, só que as vezes dou cores demais
ao que era apenas preto e branco...
mas quando eu amo... pelo menos quando eu amo eu sou sincero...
bem, acho que não sou um bom partido
hoje em dia, as pessoas precisam mais de status do que de sonhos
e se você tivesse de escolher entre queijo e amor...
sem querer dizer que você é um rato,
acho que você escolheria queijo.
Isso não lhe deve deixar constrangida,
O que você pensa ser monólogo pode ser uma ratoeira,
Mas se você saiu ilesa, se você saiu inteira
Você realmente é um roedor...
Claro que isso é só mais um retoque...
Desculpe o mau jeito de um semeador de sonhos
Desta desvirtude você não sabia nem ouviu falar
Mas quem pode saber tudo de um romântico?
As vezes ele se confunde com suas fantasias e coisas tão abstratas...
As pessoas precisam apalpar, as pessoas precisam de chão como apoio...
Os céticos aproveitam as coisas até onde terminam
E nos românticos sabemos que, onde termina para eles
Para nós apenas começa e tem o infinito como limite...
É como voar como uma gaivota, não se debater como morcegos,
Desculpe a insistência, voltando aos ratos...
Fica esse devaneio em forma de verso,
O verso em forma de beijo,
O resto é o que você não pode saber do sonhador;
Fantasias... coisas tão abstratas...
A paixão é um corcel branco alado, todo enfeitado,
arreios dourados...
o amor é um jumentinho cinzento, velho e lento...
SOBRE A PERFEIÇÃO
tinha a lua como testemunha,
flores que ornamentavam um jardim,
de tão nervosa, ruía as unhas
jurando-me amor sem fim
nos olhos, a profundidade de um oceano,
na alma trazia o paraíso,
dentes de madrepérolas no riso,
mas não sabia dizer eu te amo...
Contatos imediatos
Fragmentado, eu canto
E sorrio, eu sou um verso
Em cada esquina das minhas emoções,
Sangria madrugada a fio,
Teus dentes me trituram
Num sorriso irônico,
Anseio a insanidade
Para te ver varrendo a lua,
Sonhar e desejar contatos imediatos
Num beco da tua rua,
Mas, o que me resta é o atlântico,
Sou pirata de barcos de papel ,
Em batalhas memoráveis
Contra um capitão gancho,
Naufrago derrotado sem nem poder dizer- te amo
Mas as esmeraldas, as pérolas esse tesouro
Teus olhos e teu sorriso
Prometem batalhas inesquecíveis
Numa aventura eterna
Por mares nunca dantes navegados...
DEL CASTILHO
Havia um sofá...
Um “so far” na proximidade
Da intransponível solitude...
O toc-toc da Olivetti ou da remington
Para minha inspiração
E uma corda imaginária no teto
Para minha solidão...
Havia horas para se empacotar a vida
E fazer pilhas de paciência...
O gotejar incessante de alguma torneira
No mais profundo silencio,
Passos pelas dependências da minha ansiedade
Fantasmas de mil purgatórios...
Havia o telefone para confidências
De paixões inadimíssiveis
Durante a madrugada...
Havia o corredor que conduzia `suburbana
Sangrenta e insaciável...
Havia a igrejinha onde remiam nossos pecados
A nova América que vestia o nosso país
E um viaduto para problemas sem solução...
VIRGÍNIA
Um dia a solidão inventou a lua e as estrelas, e a melancolia de contemplá-las; caminhava a beira do açude para descobrir o avesso do firmamento que certamente estaria no reflexo de seu espelho. Descobriu que o lago são lágrimas choradas pelos que se desiludiram com o amor e a vida, ou as lágrimas que ainda não choramos. Quando não pensava em nada viginha colocava os planetas nas margens do açude; terça casava com alfredo em marte; quinta casava com lucas en jupiter, quarta casava em venus, domingo se divorciava e voltava a terra, e, na terra era solitária. Há muito tempo o gaiola trouxera as suas mais belas recordações nas águas do rio; Iara era o fruto dessas recordações, mas um dia o gaiola se foi; a lua e as estrelas mergulharam no espelho do açude, e a noite cinzenta só mostrava o vulto de um espírito que não mais percebia os crisântemos e açucenas que floresciam às margens do lago. Virgínia buscou a lua e as estrelas no fundo do lago e descobriu o mistério e o silêncio de águas profundas...
Escrever agora é um hábito
É como tomar café com pão pela manhã...
eu sou metódico, sistemático...
talvez umpouco enigmático...
mas o que fazer com tanta sensibilidade
o que fazer com tantas possibilidades
o que fazer com a cidade
na palma de minha mão
o que fazer com o deserto
no olhar da mulher
eu bebo o meu café
e como o meu pão...
EMBARCAÇÃO
Nem tanto assim,
Os meus delírios são só meus,
É um refúgio,
Nada mais que enganar a ilusão,
Eu aprendi a ser assim fugidio,
Mais fugaz, que vagabundo e vadio
Pra escapar da paixão,
E se as vezes me sinto sozinho...
É solitude não é solidão,
Nem tanto assim...
Este deserto é plantação,
Nos descampados eu tenho o meu teto,
Nos absurdos percebo o que é sábio,
Bússola e astrolábio é este vazio,
Neste deserto sou embarcação...
LEVE NOÇÃO
Tenho a leve noção de como
Deus se sente quando escrevo um poema...
E se chove meteoros,
Eu os transformo em pétalas de açucena,
E se formam tsunamis,
Eu já velejei por vagas abismais,
Américo, descobrindo continentes,
Meus versos as vezes plácidos,
As vezes impertinentes ,
Minhas estrofes perversas,
Sádicas, de verbos ateus,
O que eu não sei de Deus?
Não saberia de mim mesmo,
Conheço o Pai, o Filho e o Santo Espírito,
Sou feito imagem sua e semelhança,
As vezes nasço criança em Belém,
As vezes me crucifico em Manaus,
As vezes pensamentos maus,
Me fazem Herodes e Judas,
Trucidam recém-nascidos,
Entregam seus amigos,
Condenam inocente, crucificam um santo...
Até que esta criação me dá a leve noção
De ser um pouquinho Deus...
CHICOS
O velho Chico é um poeta
Que alimenta o nordeste,
O Chico velho faz rimas,
Encanta primos e primas
Cantando histórias da vida,
Cantou a prima geny,
Idolatrou o meu guri
E ergueu sua construção
O Chico velho desce a canastra
Corre pra Bahia e pernambuco
O Chico velho viu negros,
Indios e mamelucos
Presos e mortos na ditadura
O velho chico tem uma candura
Que traz farturas e irrigação
O Chico velho já germinou
Tantos frutos no meu coração
PAR DE ASAS
Tem uma assembléia de ratos no porão,
Uma congregação de fantasmas no corredor
Tem uma lembrança se desfazendo,
O tempo fenecendo,
Um femeeiro fornicando;
Eu tenho o medo
Como escudo para todos os males,
Tem zumbis nas esquinas,
Tem uma criança galopando num hipopótamo,
Porcos dormindo sobre pétalas de rosas
E um elefante se equilibrando
Sobre as hastes de uma videira ,
Tem a erupção de um vulcão na sala de estar,
Uma lagoa na cozinha,
Meteoros caindo no quintal, fogo no canavial...
Mas a minha caneta mágica
Cria um par de asas,
Um tapete voador e um horizonte,
Me faz flutuar e exorcizar todos os demônios...
PERFIL
Você brinca, fala, gargalha, e cantarola um falso contentamento, mas o ar triste não te abandona, e o teu perfil lacônico se eperde no infinito, em contraste com o horizonte, a divisar o inatingível dos astros; você é um vulto, você é quase uma miragem que eu envolvo e apesar de tudo eu consigo entender a tua abstração; a tua incompreensão; só não posso crer, que você queira se furtar aos sentimentos que eu não te nego. Eu reconheço os meus defeitos e aceito os teus, mas a indiferença é uma imposição, e se compõe na tua tentativa de de uma integração; isso passa a ser fingimento e isso eu não suporto. Compreendo a inconstância e a estupidez de tudo, mas aceito e sofro essas mesmas vicissitudes, só não entendo que você não perceba que temos algo, que nem a vicissitude das coisa consegue mudar, e, é isso que me faz ansiar a tua espera, é isso que me faz ter esperança e desesperar o teu desespero, é isso que consola a minha angústia e me faz sofrer a tua aflição, é isso que me liberta demim mesmo e me faz ser escravo de você; é isso que me faz existir na tua vida, e não viver a minha existência, é isso que me liberta de mim mesmo e me faz ser escravo de você, não, eu não sou o ideal que você idealizou, sou um cara cheio de defeitos, de ambições e limitações; mas é esse cara cheio de defeitos, que chora a tua tristeza e que tem como objetivo o teu ideal; sim eu sou o reflexo de você, mas você não se olha e eu perco a minha imagem, olhe pra mim, sim eu te amo, mas o que há de errado nisso? O que há de absurdo, se para cada pecado teu eu tenho um perdão, se para cada olhar eu tenho uma promessa, o que há de absurdo? Eu te amo, e, isso nem a inconstância das coisas, nem a instabilidade da vida vai mudar, porque eu não te idealizei, mas se você não existisse eu teria que te inventar...
HINO
Faremos um verso
Pra rimar com o mundo,
Um mundo pra rimar
Com o resto do universo,
Amar-te- ei tanto
Que estaremos sempre juntos
E mesmo quando eu for defunto
Haverá esse encanto,
Faremos uma estrofe mais forte
Momentos cheios
Do que serão lembranças,
Crianças que correrão no quintal
E brincarão na varanda ,
Cantarão canções de roda e de ciranda
Que nos farão lembrar
Nossas adolescências,
Amar-nos-emos tanto
Que os horizontes serão nossos quintais
E todos os generais nos obedecerão,
Declararemos paz a todas as nações
E amor a todos os casais...
GARIMPEIRO
A vida é um rio,
E o poeta garimpa todo sentir,
Diamantes e esmeraldas
Seriam grandes amores,
Eu só tenho cascalhos
Numa estação de estio...
PARALELEPÍPEDO
Escrevo um poema num caroço de arroz,
Escrevo teu nome no meu navio de papel,
Onde navega um paralelepípedo apaixonado,
Jack sparrow e seus asseclas em busca de aventuras
E tesouros inimagináveis nalguma ilha misteriosa...
As lembranças mais doces que eu tinha,
Rimavam com jiló
Hoje sou um pirata pirado nesse mar imenso,
Nos pergaminhos das minhas saudades
Escrevo o silencio das minhas agruras,
Bando de surdos e mudos fazendo muito barulho,
Conversando sobre maremotos e temporais,
No triângulo das bermudas
Femeeiro mencionando transas’ memoráveis,
Escravos em fuga para um quilombo,
Na terra do nunca e do nada,
O meu poema no caroço de arroz,
Menciona uma noite clara,
Uma clara manhã, uma tarde clara,
Uma claridade vinda de santa clara,
Vinda de santa Clareana, com seus cabelos de fogo,
Com seus cabelos azul turquesa,
Com seus cabelos de turmalinas,
Com seus cabelos negros como a asa da graúna
E nesse oceano tem esquadras armadas,
Submarinos nucleares, cruzadores e porta-aviões,
E o meu barquinho de jornal,
Veleja incólume nessa incongruência,
Este paralelepípedo...
Esse mar imenso, piratas...
PULAR ESTRELAS
Dá cá um pouco desse hálito,
Dessa beleza cálida,
Orvalha o beijar,
Me acena a esperança
De ter algum dia a esperança,
A alegria de orvalhar ...
Ah, o mundo é belo nesse olhar;
Eu sei de tudo do sobretudo
Feliz que envolve essa pele de seda,
Do absurdo de crocodilos, de abacaxis,
Tatus e mandacarus; paradoxo
Ao cetim das maçãs do teu rosto,
Eu gosto das peras dos teus seios,
Amamentam a minha libido
Eu sou atrevido no sonhar
Dá cá um pouco do teu olhar
E olha a lua comigo
Que eu te ensino a pular estrelas ,
Ser leve como colibris e libélulas,
Para provar que a vida pode ser bela...
TRÊS DIAS
Um dia eu morri por três dias
E no paraíso minha tia Zilda ainda falava
De Engenheiro Pedreira como se fosse uma
Daquelas longínquas cidade do faroeste americano
Imaginei que tudo fosse um engano
E no meu sonho vi no jardim do paraíso
Jésse e seu irmão Frank James
Pensei: -que que esses salteadores fazem aqui?
Vi José "Malamuerte" Almada,
Caçador de recompensa
Que apavorava no Novo México;
E um punhado de ladrões de gado
Que sitiavam Tombstone, no Arizona
"O que esses bandidos fazem aqui no céu?
Parecia meio cruel mas ali mesmo no Guandu
No leito caudaloso do rio, os presuntos boiavam
Levando o terror causando calafrio
Era a faxina que o esquadrão da morte
Executava nas cercanias
Muita gente morreu para essa limpeza,
Talvez mais do que devia,
Mas ninguém nada via, ninguém nada sabia...
E pela manhã a sabiá cantava,
As flores floresciam
E tia Zilda aguava as trepadeiras,
As samambaias e as flores do jardim
Cantava uma canção antiga
Como se fosse eterna a vida, e a vida era assim...
A BADALADABALADADABALAACHADA
AFizera um verso esquisito que chamava de funk
Usava um cabelo esquisito e se dizia punk
Mas durante a madrugada,
Durante a "parada,"
Uma súbita parada, intuía o perigo
Mas naquela onda, chapado tinha uma insana valentia...
A badalada balada da bala achada
Aconteceria para a tristeza de poucos e de muitos a alegria
A badalada balada da rajada
Aquilo não era funk
Aquilo não tinha nada de punk
Mas dançava esquisito aquele som aflito
Cheio de brilhos mas sem nenhum estribilho
Ágata, a gata namorada, amante sem morada
Cecília, a filha sorria suave uma valsa
A dizer "te amo" muda de ritmo, de vida
Mas a rajada, aquilo não era funk
Mas sacudia um balanço, um frio, um sono
Um abandono na madrugada...
Uma sirene gritava um desespero
Mas "já era tarde..." alguém dizia...
No final da tarde de um sábado
tinha um riso meigo,
o Silvio Santos,
os santos de brancos e negros
tínhamos os cinemas
e as praças de Nova Iguaçu;
um olho na mira
e o indicador no gatilho
e a me acolher
a solidão de Del Castilho
foram tantos os enganos
santos e profanos
a ilusão tem sua ternura,
suas loucuras
suas promessas
seus encantos
estou tão sozinho
a rasgar o cetim do passado
no final da tarde de um sábado
pensando amanhã é domingo
e o que foi lindo... se foi lindo, se foi.
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