Tiago de Melo Poesia
O mar é meu refúgio mental, onde despejo o que não cabe no peito. Admiro sua imensidão insondável, ora espelho sereno, ora abismo em fúria. Nele encontro o que me falta, silêncio que não pesa, tempestade que não julga. Sou feito de ondas também, ora brisa, ora naufrágio. Mas ali, entre sal e horizonte, sinto que posso existir inteiro.
Como um carvalho retorcido, com marcas cravadas em seu tronco, sigo crescendo. A dor me molda, o tempo me endurece e a cada estação que passo, crio raízes mais fundas, mais fortes, mais minhas. Não sou árvore reta, mas feita de curvas, cicatrizes e permanência.
Não converso sozinho, mas dialogo com meus estados de espírito, vozes sem corpo, sombras que habitam meus pensamentos. Nem sempre nos entendemos, às vezes falamos em línguas estrangeiras, em murmúrios desconexos, em silêncios que pesam como pedras. Há dias em que a raiva grita alto e a tristeza responde em sussurros, outras vezes, a calma tenta interceder, mas é afogada pela dúvida e pelo medo.
Sob a perspectiva cíclica da consciência pensante, o diálogo constitui o eixo primordial que sustenta qualquer relação minimamente civilizada.
Pela singularidade que certos sentimentos transcendentais carregam, há um instante de suspensão do tempo quando nos encontramos na presença de quem verdadeiramente amamos.
Exageradamente adornada de fábulas, nossa infância é um despreparo; um ensaio muito ruim para o que viveríamos em seguida.
A herança do passado constitui-se no mais oneroso legado que podemos receber, mesmo sem desejá-lo ou consentir em sua posse.
Como as aves que seguem o chamado das estações, também me ponho em movimento, não por destino certo, mas pela esperança de um abrigo transitório, onde meu espírito encontre alguma forma de repouso.
O mundo lá fora desaba em água e cólera, e eu aqui, sob este teto de vidro, vestígio translúcido daquilo que um dia chamei de proteção, permaneço imóvel, vulnerável, suplicando em silêncio para que sua fragilidade não ceda antes da minha. Como se houvesse hierarquia no colapso.
O vento lá fora não sopra, fere, ele vem cortante, como se quisesse arrancar da pele os nomes que o tempo tatuou em silêncio.
O mundo range como madeira antiga prestes a ruir. Há algo no ar que pressagia desabamento, como se tudo ao redor estivesse sustentado apenas pela memória do que já foi sólido.
A terra treme e não é o chão, sou eu. Cada rachadura no solo parece ecoar uma falha em mim, somos feitos da mesma matéria instável.
O fulgor do teu olhar incendeia minha alma, e rendido a ti, desvencilho-me do tempo, tornando-me criança outra vez, entregue ao espanto da descoberta.
Sou como um riacho humilde que, entre pedras e barreiras, traça seu curso sinuoso; nunca estanco, apenas me desvio, impelido por uma força invisível que me arrasta para o mar infinito, um destino maior que me orienta e transcende meu próprio ser.
Esses meus sentimentos confusos, nascidos de batalhas esquecidas e águas escuras, não clama por atenção, apenas permanecem. Vai de geração em geração, cruzando limites, sustentados pela força discreta daquilo que é verdadeiro demais para morrer.
Num canto repousa um violão silenciado, ansiando por mãos que o façam lembrar do que é ser música. Eu, a poucos metros dele, também espero: que alguém me toque com a mesma delicadeza que se dedica a um som prestes a nascer.
A tempestade que se forma no fundo de um copo de uísque, após algumas doses, não é efeito da embriaguez, é o desbloqueio silencioso de lembranças mal enterradas, de amores antigos e mal resolvidos. Não necessariamente são meus, mas ainda assim doem como se fossem.
Diante de uma esfera que reflete o mundo ao redor, não me reconheço no reflexo. Ainda vejo o menino assustado, encolhido na própria pele. Vejo o covarde que, apesar dos anos, não encontrou força para enterrar seus próprios demônios e talvez nem tenha decidido se quer viver sem eles.
Cruzamos pontes invisíveis todos os dias, guiados por decisões que brotam do inconsciente, enquanto o corpo opera em silêncio, obediente a um roteiro que raramente questionamos. Atravessamos, sem saber que escolhemos.
Como uma criança, anseio por sentir com verdade, falar com leveza e desconhecer a mentira, pois nela, nada há de natural. A criança não finge, apenas existe, inteira e sincera no que sente.
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