Textos em versos
A DOAÇÃO DE SI MESMO
Não cobre afeto, doe-se de graça.
Não critique o torto, endireite-o.
Não suplique por sorrisos, distribua alegria.
Deixe de depositar expectativas nos outros, deposite-as em você mesmo.
Não procure a culpa, encontre o erro para repara-lo.
Não lamente sobre as desventuras da vida, apenas viva. Pois, o acaso da vida é fruto daquilo que você faz para acontecer, e cada lamentação é o sinal confidenciado de que você não fez o seu melhor.
Entregue-se mais aos outros. Sem meio ser inteiro. A felicidade é um tesouro valioso, mas que só é multiplicada quando conseguimos dividi-la.
E se por algum motivo, em qualquer momento da vida, você resolver desistir de algo, pense primeiro em desistir da passividade que repousa em sua covardia.
A VERDADEIRA IMAGINAÇÃO CRIADORA
Existe uma grande distância entre aquilo que se lê e aquilo que se entende, e é justamente, ao entreato desses longínquos lugares, onde reside a fantasia. Não existem palavras sem imaginação, nem imaginação passiva ao que se traduz em realidade. Pois, em todas as mentes onde sobram juízos, costumam faltar delírios, e sem delirar não se pode caminhar por lugares desconhecidos, conversar com pessoas inexistentes, muito menos dançar despudoradamente, as canções mudas que embalam os bailes jubilosos das maiores quimeras. Tanto por não conseguirem escutar as melodias, quanto pela falta de audácia para despir-se diante da orquestra dos comedimentos que vigiam a prudência dos sensatos para jamais ousarem agir em desigualdade com as convenções sociais que certas formalidades sem forma alguma os impõem.
Ao passo em que se calam e aceitam, se nutrem da única ilusão que não alimenta a alma: comem no prato opaco e sem cor da conveniência, tudo o que seus pares lhe põem goela abaixo, e se fartam da satisfação famélica de ser igual. E mesmo sem jamais serem capazes de distinguir os sabores dos dissabores, arrotam contentes e conformados, ainda com toda fome do mundo inteiro que jamais degustarão.
Na pequenez que se minoram as almas dos acovardados, o mundo inteiro se reduz em proporcionalmente. E enquanto os desvairados sabem que — muitas vezes é preciso perder o teto para enxergar o céu — para os que não avistam o infinito, as distâncias de algumas estrelas lhes escapam à vista. Geralmente, são os brilhos que resplandecem das estrelas mais iluminadas. Entretanto, pelo limite da normalidade serão sempre invisíveis aos olhos opacos dos insensíveis.
A verdadeira imaginação criadora, não se limita ao confinamento de caminhar somente até o limítrofe demarcado pelas palavras que encerram um conto. Mas, em descobrir com novos olhos que — ao chegar naquilo que muitos compreenderão apenas como final — serão capazes de perceber que um ponto, não é nada mais que uma regra ortográfica, e as regras só servem mesmo para os mais obedientes.
Nesse trecho dependerá somente dele delimitar-se. Satisfeito com o que foi lido, ou açorado para desbravar novos sonhos por traz do ponto, fará da sua curiosidade o eufemismo dos transgressores para esboroar as fronteiras invisíveis e seguir além daquilo que foi lido.
Entretanto, é preciso ter bastante cuidado com as palavras. Ao menos, para aqueles que não as consideram tão somente como um mero conjunto representativo de signos com a serventia de expressar um pensamento, ou manifestar uma ideia. Afinal, os pensamentos e as ideias, quando não pronunciadas estarão guardadas para sempre no porão daqueles que não a disseram, enquanto, do contrário, as palavras depois de tomadas vida, permanecerão vivamente soltas e o seu poder dependerá sempre de quem usá-las. As palavras contêm vida ou morte, conquista ou derrota, audácia ou temor, felicidade ou tristeza. Proferidas então, possuem um desmedido poder sobre a vida do outro, podem segregar ou aproximar, construir muros ou estreitar laços, gerar amizades ou destruí-las. Algumas são sedutoras, traiçoeiras e perniciosas.
Muitas vezes, as palavras são como belas melodias que entorpecem os ouvidos surdos pela avidez de escutar aquilo que precisa para acalentar a alma, minorar as angústias, ou remediar as desilusões. Lê-se, portanto, nem sempre aquilo que está realmente escrito, mas o que se tomou por necessidade.
E ainda que, o entendimento humano seja fruto da percepção individual daquilo que vivenciamos, existem muitos olhos enceguecidos pelos anseios sôfregos de enxergarem tudo àquilo que vislumbram decifrar no conteúdo escrito, de uma carta em branco que ninguém jamais escreveu. Portanto, na verdade fantasiosa – onde só é permitida com legitimidade – dentro do universo letrado, não são as expressões mais suntuosas, os fraseados dispostos em adornados, nem os textos mais eruditos que aferem o valor de uma expressão. O escambo volátil que avalia o seu verdadeiro valimento deverá ser medido sempre na significância única de quem a tomou posse em sua manifestação corrente.
Pois, quão mais grandioso o sentimento inexprimível é guardado no silêncio de dentro, mas diminuto ainda serão as palavras capazes de trazê-las para fora. Contudo, quanto menor for o sentimento, maiores serão as verbalizações disponíveis em descrevê-lo. Assim como toda compreensão que detemos sobre alguma coisa, inexoravelmente – pela própria condição imutável de coisa – será sempre um escravo volátil do tempo, e a sua opinião subordinada às porvindouras e diferentes experiências entre nós e essa mesma coisa.
Valiosas mesmo são as compreensões que não detemos diante dos maiores sentimentos, mas que ao despimos a racionalidade apenas para senti-los, toda e qualquer tentativa de compreensão se torna indispensável. Pois, a beleza que raras vezes se revela além dos limites dos olhos, sente-se com tamanha intensidade que, depois de fitá-la de onde poucos conseguiram vê-la, até mesmo de olhos fechados torna-se capaz de enxergá-la novamente.
COGITARE
Algumas questões não podem ser mensuradas ou concebidas a mente humana senão, por meio da introspecção, dentro de cada ser, dentro de cada um, há algo profundamente enraizado a sua essência, um tanto quanto parte de um todo, como também o todo por si só.
Costumamos ser resultado de assimilações e experiências vividas, isso é explícito externamente na superfície de cada homem, em seu comportamento e modo de agir e interagir com a sociedade e sua realidade, a persona ou a pessoa, o ser formado é salientado por suas ações e decisões se encontra superficialmente em constante troca de interações com a sociedade, enquanto a essência o controla de forma indireta ditando seus anseios e desejos a serem satisfeitos, impulsos e decisões são tomadas de antemão a sua chegada, pois já está impregnado dentro de cada humano, seu ‘modus operandi’, a forma de pensar singular e ao mesmo tempo análoga à formas que o precedeu ou às que lhe são contemporâneas, somos forjados pelo ambiente ao mesmo tempo somos livres a nós moldar e refazer quantas vezes necessárias, talvez aí se esconda o livre arbítrio ou poder de escolha, porém com as possibilidades já todas mensuradas e colocadas em cheque de antemão, o ser humano continua a fazer aquilo que foi feito para fazer, interagir, escolher, reagir de forma automática porém já pré moldada de maneira singular em seu âmago.
Gratidão, que essa seja a palavra para esta nova semana que se inicia hoje, que sejamos gratos pelo dom da vida, pois ela é única e passa rápido demais, gratidão pela família, por acordar cedo para trabalhar, pois muitos não tem nem como se sustentar.
Gratidão pelos poucos mais valiosos amigos, já que hoje em dia uma amizade sincera está cada vez mais rara, que sejamos assim gratos o tempo todo, pois tudo na vida tem algo a nos ensinar, basta abrir os olhos e olhar mais além e com sabedoria enxergar que temos muito mais motivos para agradecer do que para reclamar.
Amor ou desgaste?
O amor não se cria com um tempo
com o tempo se cria intimidade
o amor só nasce,sem cor,sem crença
sem sexualidade,sem vaidade.
O amor se encontra em dois olhares
se você ama sozinho(a)isso não é amor!
O amor é tão lindo,tão nobre,más também é humilde
ele não escolhe o melhor lar,o melhor lok e nem se quer a melhor pessoa
O amor simplesmente acontece
as vezes infelizmente
as vezes precoce
e as vezes simplesmente não era pra ser e foi.
O amor faz a gente tomar decisões erradas as vezes,más amar é divino,Deus não deu à ninguém um dom mais poderoso ou mais precioso que o dom de amar.
Só temos que evitar o desgaste emocional
evitar dar voz à quem não quer ouvir
evitar mostrar importância à quem não se importa,o amor é lindo más também machuca quando um só procura,um só se esforça,ninguém merece sofrer e ficar esperando o outro,caso tenha perdido o seu amor,siga...siga...e siga .
um dia ele (a)vai ver o tanto que perdeu,e vai voltar atrás,más você nem vai ligar ,pois temos que amar na estrada e não no fim da linha porque quando chega no final cada um é um e não vamos precisar de mais ninguém.
só siga...❤
"Nascemos para a vitória , para a realização'
Em algum momento da vida, muitas vezes nos perdemos de vista. Alguma situação ou alguém nos tira de nós mesmos e passamos a vagar pela vida.
Se parar para observar, todas as vezes em que Jesus transformou a vida de alguém, a primeira coisa que ele resgatou foi o amor próprio, pois é impossível sermos donos de nós mesmos quando nosso eu interior foi deixado para traz.
Se hoje você se encontra dessa maneira, pare um instante e volte a se amar, você nasceu para dar certo e nada nem ninguém pode tirar isso de você, se olhe no espelho e aprenda a amar o que vê, mude sua agenda e comece a
cuidar de si mesmo, ame a sua companhia, afinal o amor começa dentro de nós para só depois transbordar no outro.
Você não ama ninguém
Não diga eu te amo
Se estiver mentindo
Se com a intenção de me enganar
Não diga eu te amo
Se estiver me usando
Se assim te servirá
Mas dirá
Assim dirá
Devagarinho
Baixinho
Para me machucar quando eu descobrir
Porque você só precisa do meu eu te amo
Não
Você precisa da minha atenção
Você não me ama
Você ama me usar
Ama me fazer sofrer
Você não ama ninguém
A casa da Vovó
A casa da vovó era tão grande, lá eu me sentia Latifundiário em vinte metros quadrados, lá eu subia no muro que parecia o de Berlim , lá eu subia nas Goiabeiras, nas pitangueiras e não tinha medo de subir, de cair, de sussuarana e nem tão pouco de perder a hora do almoço porque eu sabia que meu anjo envelhecido ali estava para me lembrar ,carinhosamente , que meu prato preferido estava na mesa.
A casa da vovó era tão grande , lá , no quintal, tinha uma enorme pedra, que hoje, diante de meus olhos nem tão grande era assim!
Lá às formigas eram gigantes, as flores mais coloridas , o suco mais doce e os biscoitos mais crocantes. Lá tudo ficava gostoso, até a couve que mamãe fazia e pedia pra vovó colocar em meu prato. Lá verdura era carne tenra.
A casa da vovó era meu itinerário preferido e ela a guia turística mais fantástica que eu já conheci .Meu passeio preferido, meu colo preferido, meu abraço mais quente e meu sim constante.
A casa da vovó era tão grande e se tornava maior por tanto carinho, tanta generosidade, tanto amor. Não cabia em suas intenções tanto carinho, expresso em apenas um olhar, um aconchego ou um sabonete e um talco quando ela ,de mãos dadas comigo, íamos receber sua pensão.
Assim a casa da vovó era uma mansão , tamanhos cantos que tinha, tamanha a vontade de agradar, tamanho o tamanho daquele envelhecido coração.
A casa da vovó, a casa da vovó era minha esperança de crescer , crescer e encontrá-la , envolver meus bracos pequeninos em seus bracos envelhecidos, ou o contrário ou ,simplesmente falar baixinho:
-Vó pede pra minha mãe deixar eu ficar aqui hoje? Pede vó , pede!
E ela com aquele sorriso conivente me abraçava e dizia:
-Pode deixar, ficaremos juntas mais um dia.
E eu simplesmente ,hoje envelhecida na saudade, falo:
- A casa da vovó era tão grande! Mas o amor da vovó era bem maior.
Apenas siga!
Isso mesmo, não importa o que aconteceu, o que te falaram ou o que não te falaram, siga em frente. Porque quando você levantar a cabeça irá ver que a frente tem um belo destino que ainda pode ser traçado por você, e aí o que tá esperando?!
Vai lá, pega suas coisas, se possível pegue uma mala e leve consigo apenas o que deseja, apenas o que vai te fazer bem nesse novo caminho, mas se quiser ir sem nada, também vá. Mas leve coragem para que você consiga se aventurar no caminho, leve bom ânimo também, tá pensando que o caminho é curto?!
Se enganou! É longo e requer ânimo e vontade, tendo vontade de ir, você irá chegar tão longe que nem ira acreditar.
Apenas siga, em frente é claro!
Expande a tua mente ao infinito
que não temerás o impossível
Deixe tua razão devorar tuas crenças
Liberte-se das amarras da fé
e serás fiel à ti mesmo
Amor próprio não sobrevive
de opiniões alheias!
Coragem é uma ferramenta
muito pesada, mas quando
se consegue usá-lá,
se desmonta qualquer
fronteira
No meio da noite ataquei o armário da cozinha e achei um pacote de batata palha (eu amo batata palha) e logo pensei “Certeza que está murcha”
Abri, comi e me deparei com uma batata palha extremamente crocante; e então pensei comigo “Como temos essa mania de antes de começar a fazer algo já dizer que não vamos conseguir”
Nos alto flagelamos e muita das vezes não fazemos por colocar inúmeros obstáculos na frente. Estamos pensando em começar algo novo e juntamente pensando que não vai dar certo e aí antes de tentar, o ponto final já é estabelecido.. Nos dias de hoje nos falta determinação, coragem de seguir em frente sem antes pensar que não vai dar certo; eu sei que falar é fácil, mas você já tentou para de falar e começar a fazer?!
Se desprende do medo! Se arrisque!
Você só saberá do final quando sair do começo!
Às vezes a vida é uma farsa
Às vezes a vida insiste
em me chamar pra sair
Mas eu estou lá,
sentado na frente da TV
assistindo algum programa idiota
.
E eu não sei quem são
os personagens
E nem sei seus nomes
Mas não gosto daquelas
maquiagens e figurinos
com seus chapéus, calças e botas
.
Talvez eles também não gostem
Talvez a vida apenas
também não tenha
os chamado pra sair
.
E talvez a vida
nunca os chamem pra sair
Estão tão presos dentro daquela
velha tv, que já nem ouvem
mais o chamando
.
E podem!
Porque não vão?
-Não sei
Mas acham que eu tenho inveja?
Inveja eu tenho de quem
não precisa trabalhar
e não precisa pedir
.
Uns estão ganhando dinheiro,
outros gastando,
mas poucos estão
realmente vivendo
Eles vivem?
Eu sobrevivo
Espero um motivo
Ou prefiro continuar
aqui sentado
.
À menos que a vida
me chegue sorrindo
E não com essa cara
de personagem idota
com seu figurino
de chapéu e bota (Falsa)
Esqueça as poesias velhas
As velhas roupas desbotadas
As velhas meias
Os velhos sapatos
Esqueça as velhas risadas
As canecas velhas
de café passado
Esqueça os velhos assuntos
Os velhos romances
As velhas mulheres
com suas belas tetas
Ah!! Esqueça também daquele velho
perfume de cheiro enjoado
que você odeia
Esqueça os velhos lugares
Aqueles os velhos olhares
Aqueles os velhos tempos
Ah, tempos!
Esqueça
As vozes na tua cabeça
As vozes
Esqueça
As vozes às vezes
fazem muito barulho,
mas você não tem que ouvir
sempre as mesmas
velhas histórias
E jogo fora o toco do cigarro
Me levanto
e sigo
Mas sem saber onde ir
Sonhos de papel
Andava descalço, tinha o aparato somente de seus sonhos e sempre notava que as pegadas deixadas naquele pequeno acampamento onde a poeira levantava a cada passo dado, o vento desfazia, não deixando que as mesmas se moldassem na areia. Já notava aquela pequena silhueta passando pomposa, mas sem nenhuma pretensão. Andou por mundos obscuros e brincou de viver machucando e sendo machucado. Viveu amores, mas, como amores são coisa da vida esta procurou de alguma forma fazer deles um aparte. Talvez tenha tentado agregar cada momento em um capitulo único de sua existência mas não conseguiu, ficando a vagar entre passado e presente até reencontrar em sonhos de papel aquela pequena silhueta que passou a ser uma esperança, talvez tenhamos brincado de viver pois não procuramos a segurança de um laço seguro, os nós se desfizeram e hoje vejo que não se tratou de algo mais do que sonhos de papel.
(pauloclopes)
Antes me calava. Envelhecendo e subindo degraus de consciência humana, não me calo mais. Me enxergo. Me enalteço. Não lido com o racismo de forma fácil. isso me retém ódio, angústia, falta de esperança... A real é que estou cansado de me ver através dos olhares dos outros. Eles me veem como uma ameaça e isso é uma ameaça para mim.
Confesso, não tinha esse entendimento quando criança e adolescente e achava normal colocar uma ''roupa de sair'' para ir à padaria, que sempre ficou a uns dois quarteirões de casa. Achava normal ter que estar sempre ''bem vestido'' - em qualquer ambiente que fosse - para não ser confundido com um maloqueiro ou um ladrão.
Nesse tempo, evitava falar sobre isso. Eu queria mesmo era sentir essa igualdade que todos falavam. Tirava por menos. Achava que podia ser coisas da minha cabeça. Mas no fundo o sentimento de inadequação existia. Sempre existiu. O povo preto sabe do que estou falando.
Sem fim, pois hoje é dia de celebrar o resgate diário da nossa identidade. Poder para o povo preto!
(Dia da Consciência Negra)
Faz pouco tempo que deixei de viver sob o mesmo teto dos meus pais, mas o suficiente para saber o que é caminhar com as próprias pernas. E o suficiente para me fazer refletir sobre todo o privilégio de alguém que tem - ou teve um dia - mainha e painho no quarto ao lado.
No meu caso, esse privilégio é ainda maior. É infinito. Pois, um dia, estive muito perto de não ter essas figuras ao meu lado para me ajudar a crescer. Mas fui escolhido. Fui adotado. Ganhei uma rainha, um super pai e uma família maravilhosa, que são os maiores responsáveis por tudo aquilo que sou.
E o que seria de mim sem vocês? Tentar dar uma resposta a essa pergunta é falhar miseravelmente. Eu nada seria. Obrigado, família, por essa oportunidade de viver.
(relato de um filho negro adotado).
O encontro.
Em um desses dias despretensiosos eu o avistei na parada de ônibus, aquela cena nunca saiu da minha mente. Ele tinha uma distração interessante, as pessoas, o movimento que elas faziam ao seu redor, o meu olhar fixado e obsessivo não chamavam sua atenção. Eu fiquei ali, a observar, percebi que estava com a concentração voltada para um livro, Kafka, ótima escolha, certamente não era um leitor iniciante. Permaneci alguns minutos no mesmo local e ele também, nossas visões não se modificaram nesse meio tempo, a minha para ele, e a dele para o livro. Quando finalmente um ônibus de cor escura se aproximou, isso foi o bastante para rouba-lhe atenção, guardou o livro que estava em mãos dentro de uma mochila ao lado de sua perna esquerda e seguiu em direção ao ônibus, foi quando percebeu que o olhava, me lançou um olhar atento e um sorriso no canto da boca e foi-se. Ele nunca saiu da minha mente, dediquei alguns textos a ele, como este agora, voltei ao ponto de ônibus por alguns dias na tentativa incansável de reencontra-lo, mas nada foi possível.
Numa manhã de segunda-feira o despertador tocou às sete horas, o corpo me pedia mais cama, mas as obrigações me forçavam a sair da lá, por fim consegui levantar-me com a sensação de pesar cem quilos. Encaminhei-me para o banheiro, tomei um banho que durou menos do que eu esperava, tomei um café rápido e parti para a Universidade onde trabalhava, era professora do curso de Letras, especificamente de Literatura. Ao chegar lá nada me denunciou novidade, mais um dia normal, como durante aqueles últimos dois, foi quando avistei aquela figura que durante muito tempo se manteve viva em minha memória, fraca agora, mas viva, era o homem que um dia fitou meu olhar, não sei se ele havia me reconhecido, mas algo o deixou um pouco desequilibrado diante a minha presença.
- Olá professora Julia. É um prazer conhece-la pessoalmente, durante muito tempo acompanho seu trabalho e me sinto fascinado com tanta criatividade com a sua escrita.
Além de professora eu me dedicava à escrita, havia publicado dois livros, “Três contos de pura solidão” e “Cem anos de amor & dor”, romances clássicos.
- Olá, obrigada por acompanhar meu trabalho. Perdoe-me, embora me conheça devo dizer que não reconheço ou não me recordo do seu nome e/ou de você. – Além de uma boa escritora eu também era uma boa mentirosa, ele permaneceu presente em minha memória por longos dois anos.
- Não, claro. Que tolo! Não nos conhecemos, me chamo Gustavo, sou professor também, agora professor substituto aqui na Universidade. Irei substituir o professor Fernando na disciplina de Literatura Brasileira. É uma honra conhece-la.
- Que legal, um companheiro para discutir sobre literatura. Isso não pode ser melhor.
- Enfim, preciso ir para a aula, posso pagar uma cerveja hoje à noite para você enquanto conversamos um pouco?
- Sim, claro. – Aquela certamente seria uma oportunidade de contar-lhe tudo que havia acontecido há dois anos atrás no ponto de ônibus.
Logo depois das seis horas da tarde eu o reencontrei na sala dos professores, curiosamente da mesma maneira que teria visto há dois anos, cabeça baixa, lendo, a movimentação e presença de outras pessoas não chamavam sua atenção, nem que por um instante. Aproximei-me e o toquei, só assim pude roubar um pouco daquela atenção para mim. – Vamos?
Ele não conhecia a cidade, como presumi. Entramos no meu carro e levei-o a um restaurante famoso, mas calmo da cidade. Algo me dizia que o conhecia há muito tempo, não sei se pelo fato de muito tempo imaginar aquele momento ou se pelo fato de ele ter se mostrado à vontade demais, embora que ainda assim estivesse um pouco nervoso, percebi pela maneira que batia nas pernas com as pontas dos dedos. Ao chegarmos ao restaurante ele pareceu um pouco quanto curioso, mas não o julgo, senti a mesma sensação quando estive ali pela primeira vez, era um lugar um tanto quanto casual, demonstrava um pouco de cultura em sua decoração.
Quando sentamos em uma mesa próxima da varanda com vista para a cidade eu iniciei a conversa.
- Sinceramente eu não sei como dizer isso, mas hoje pela manhã eu não fui honesta com você, não uma foi mentira absoluta, mas uma meia mentira, se por assim posso classificar. Já conhecia você, mesmo que só de vista, uma breve vista. Há dois anos eu o encontrei no ponto de ônibus dessa mesma cidade, eu estava chegando para ensinar na Universidade e encontrei você em um dos bancos, com a cabeça baixa, lendo um livro de Kafka, nada tomava sua atenção, mas você me tomou muita, na chegada do seu ônibus você me lançou um olhar penetrante e um sorriso de canto da boca, aquela imagem ficou viva durante dois anos em minha mente, desejei encontra-lo por muito tempo e agora você “cai em minhas mãos” se por assim posso dizer, é estranho e ao mesmo tempo reconfortante. - Sem me dizer nada, apenas a me observar eu continuei. – Você permaneceu presente em meus pensamentos até o presente momento e hoje eu reencontro você, está comigo agora, existe destino maior que esse? – Por um instante eu só queria que ele me calasse com um beijo e/ou abraço, e assim fez, em um movimento minucioso ele me beijou, o seu beijo foi tão intenso, tão penetrante que por um instante ali eu desejei morrer, havia imaginado aquele instante por muito tempo, mas nunca havia chegado nem perto do que realmente aconteceu.
Por um instante ficamos ali, calados, apenas refletindo o que acabara de acontecer, mas o silêncio em alguns momentos se torna agressivo e nada confortante, então retornei a falar.
- Eu não peço que me entenda, nem muito menos que faça esforço para recordar de algum momento. Por favor, não. Só não me ache estranha e isso será de grande importância para mim.
Ele me olhou agora com um olhar diferente, um pouco assustado, mas com leveza. – Não seja boba, acho que eu esperava por esse momento tanto quanto você, sempre fui um grande admirador do seu trabalho e agora eu descubro que você sempre manteve em sigilo um interesse por mim. Enquanto eu, pouco me recordo daquele momento na parada de ônibus, sempre soube tanto de você. Você por outro lado recorda-se perfeitamente do momento, mas pouco me conhece, o destino parece brincar com nós dois, mas finalmente nos uniu.
Destino. Nunca acreditei nisso, sabe? Mas agora, percebendo que ele nos deu outra chance, que nos proporcionou outro encontro, agora eu percebo o quanto foi generoso conosco. Se assim posso dizer, o destino está ao nosso lado, e agora do seu lado não quero mais sair.
Se existe falta, é porque já houve excesso.
Quantas vezes você já se sentiu só, com aquele pensamento de ter por perto algo ou alguém que você acredita que é dever ser seu ou estar ao seu lado. Pare e reflita! Somos feitos de exageros, temos a tendência de não saber oque é necessário, já que o essencial é invisível aos olhos. Na maioria das vezes estamos querendo mais daquilo que já transbordou.
as maiores árvores demoram anos pra crescer mas se não fossem o sol e a umidade diários, morreriam antes mesmo de pensar em florescer.
às vezes um sonho parece longeeee. então, enquanto você luta por ele, salve cada parte dessa jornada. não esqueça o quanto você já caminhou e dê valor as suas conquistas.
cada passo dado leva a algum lugar, mesmo que não seja ao lugar que você almejava. e ainda assim, serve pra te dar a certeza das escolhas que você deve realmente fazer.
dê valor as coisinhas! esse monte de coisinhas vira um coisão! seu coisão. um coisão que você sonhou. vai acontecer! tenha paciência e não pare de fazer suas coisinhas.
Crescemos
Quando crescemos o que menos ligamos é a idade, vivemos sem números, apenas com a correria do dia a dia, vivemos tumultuados de problemas, o que menos desejamos é mais um problema.
Quando percebemos que nós tornamos adultos, não é diante do primeiro boleto, ou da primeira compra, É diante das complicações e da coragem de seguir diante de tantas preocupações.
Crescemos cedo quando somos a solidão do caminho, não nós tornamos dependentes de nossos pais, muitas vezes sentiremos falta de não ter com quem brigar.
Crescemos quando percebemos que nós tornamos parte dos dragões que derrotavamos, não somos cheios de razões ainda.
Somos parte da vida complicada e ilesa de paz, somos adultos, crescemos na esperança de envelhecer logo.
Ou melhor dizendo, a boa parte da população faz isso, cresce, envelhece e morre.
Há a outra parte, que vive com a alma jovem, e não deixa que as memorias sejam só memorias, a parte que luta para ser um pouco mais do que apenas uma imagem, a parte que não segue o esperado, a parte que obdece a alma e segue instruções do que acredita do que é certo, corrigindo os erros com o coração.
Essa parte ja nasce adulta, já cresce sem nem saber o que foi juventude.
