Tag anoitecer
Assim que se fecha a porta do dia ouve-se o bater de asas manso da noite, que como uma borboleta de luz pousa na crepuscular flor do tempo e abre as suas asas mágicas enchendo o céu de estrelas; enchendo os sonhos de luz!
O dia declina lentamente até tocar o silêncio do ocaso; local onde os sonhos dormem, onde a saudade fustigada pelo sol se esconde à sombra da noite.
DE BARRO
Sou barro
Sem forma
Sem beleza
Barro sem serventia
Poderia ser pisado
Soprado pelo vento até não sobrar um grão sequer
Simplesmente virar pó
Sou barro
A espera que o Oleiro
Me coloque em suas mãos
E dê a forma que quiser.
Que em seus sacros braços Deus acolha o nosso sono e, no silêncio grandioso da noite adorne os nossos sonhos com o singular brilho que irradia da paz de uma noite feita de luz.
Que a noite chegue com o descanso merecido, com a pausa necessária para recuperarmos as forças para amanhã logo cedinho começarmos um novo dia pleno de luz, paz e poesia.
MINHAS DECISÕES
Minhas decisões
Acertadas ou não
Sangraram
Rasgaram a carne
Quebraram a casca
Minhas decisões
Acertadas ou não
Fizeram-me sentir
A dor das metamorfoses
Sem elas eu não sentiria
O frescor do vento nas asas.
DONOS DA VERDADE
Procuro onde mora a normalidade
Quem dita as regras do feio ou esquisito
A quem foi dado o compasso, prumo, régua
Não acho
Se souber, me procure
Quem sabe assim eu me cure
Estarei por aí
Aqui, ali
Nesse mundo confuso
Quem sabe a louca sou eu
Ou você que me lê
Inspiro, respiro, piro
GAIOLAS
Abandonei as gaiolas
Para ganhar os ares
Enxergar novas paisagens
Sentir o vento
Larguei as gaiolas
E para surpresa minha
Escolhi o ninho.
DESATINO
Perdi-me da razão
Não mais lembro do seu rosto
Nem ouço sua voz
O que afirmam ser o certo
Acho errado!
O que ensinam ser errado
Já nem sei!
Perdi a razão!
Se achar não me devolva
Nem diga onde estou
Nessa grande maluquice
É provável que os loucos guardem o último resquício de sanidade.
RECOMEÇOS
Vou seguindo de recomeços
De todas as segundas
De tantos janeiros
Já não sei se sou pedaço
Nem sei se sou inteira
Vou seguindo desse jeito
Sou feita de recomeços.
É sob um céu rendado de cores que o entardecer é entregue aos cuidados do Criador para que em suas mãos artesãs seja bordado com ponto cheio de estrelas o indecifrável mistério da noite.
Lugar de águas precoces, onde se esconde a minha esperança. Me levanto... anoitecer ventoso, onde busco encontrar meu conforto.
O dia está acabando, o sol já se pôs, mas
o amor de Deus, o seu cuidado e a sua
presença permanecem. Ele está construindo
o nosso amanhã. Vai dar tudo certo, vai ficar
tudo bem. Descanse!
As asas que protegem nossos vôos, durante o dia, são as mesmas que, à noite, sob a imensidão prata da lua abrem-se sobre nós em plenitude para guardar nosso sono.
Hino à Tarde (soneto)
Do sol do cerrado, o esplendor em chamas
Na primavera florada, entardecendo o dia
Fecha-se em luz, abre-se em noite bravia
Inclinando no chão o fogo que derramas
Tal a um poema que no horizonte preludia
Compõe o enrubescer em que te recamas
Rematando o céu em douradas auriflamas
Tremulando, num despedir-se em idolatria
Ó tarde de silêncio, ó tarde no entardecer
De segreda, as estrelas primeiras a nascer
Anunciam o mistério da noite aveludada
Trazes ao olhar, a quimera do seu entono
Cedendo à vastidão e à lua o seu trono
Sob o véu de volúpia da escuridão celada
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
MÃE, até o próximo DiA das Mães!
Antes de partires e levares esse abraço anímico que se plasma na junção que transcende nesse anoitecer, leve minhas lágrimas de saudades e borrifique no orvalho o perfume de tua essência ao amanhecer, e terei a certeza que estaremos unidas para a eternidade mãe e filha num só ser. E em decreto é firmado que todos os dias das mães eu te chamarei lá do céu pra descer e me aninhar como um embrião novamente dentro de você...
BOCA DA NOITE
na boca da noite, calar-se
o cerrado se cafua
o sol fustigado
a lua nua
o céu estrelado...
Anoitece, e o dia recua.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
ANOITECER (soneto)
Desmaia o dia no árido cerrado
Num adeus de luz e esplendor
É Deus com o seu recompor
Do céu azul ao negro estrelado
E eu, aqui num mero espectador
Sob este tão espetáculo, admirado
Não sei se rio, choro ou fico calado
Inerte... no âmago belo do criador
É um rosário pelo encanto desfiado
Conta a conta, infinito e acolhedor
D'amor, benção, no tempo denodado
Está hora, do ângelus, do cair multicor
Enteando saudades, dor ao enevoado
Vem a noite, para vida por ela transpor
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro, 2016
Cerrado goiano
