Soneto da Espera

Cerca de 9596 frases e pensamentos: Soneto da Espera

Soneto sobre Oração

Venda-se o olhar do Santo
Sepulcro do Cristão
Indulgência que amargo é o pranto
Através de pecaminosa palavra de Oração

Transcende-se a voz do Cardeal
Perante a lei do céu Supremo
Filho bastardo de mero mortal
Que saliva Onírico veneno

Vedes o manto que Sagrado estampa
A boca do Bastardo que profana
O Pai Nosso de alguém

Vedes o Homem que absorve fé em pandemia
Receptáculo dos versos da Ave Maria
Amém

Inserida por SantosVasconcelos

Soneto Sobre Amor

Sentei-me a uma cadeira ao lado
Transbordando outra cadeira vazia
Não fechei os olhos por medo de sentir-me triste
Em cada relógio em que as horas não passam

De minha boca gelada esvaem-se suspiros desanimados
Em momentos em que o frio cristaliza-me interiormente
Interiormente sou inóspito
Que nem a dor atreve-se a se aprofundar

E horas se vão, horas não vêem
E profundamente paralisam-se
Em um segundo...

Enfim... e quando me levanto da cama
Permaneço estagnado em uma lágrima
Perguntando-me... O que é amor?

Inserida por SantosVasconcelos

LÁGRIMA (soneto)

Quando meus olhos leram o cerrado
Umedeceram de lágrima ressequida
Que pagou os meus pecados da vida
E o que devo, ainda num tempo calado

Por outro lado, brada a poesia, e lida
Se não é como gastaria, é um estado
Faço todos os dias, pois me é sagrado
Nela, as lágrimas, escrevo a dor doida

Também rimam a felicidade, o meu fado
No poema misturado, n'alma repartida
Porém, cada lágrima, um sonho sonhado

De lágrima em lágrima, a poesia cumprida
A existência traduzida, o verbo anunciado
E segue, poeto, até a hora da despedida...

Luciano Spagnol
Outubro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO PRUM ADEUS

Tendo a cova por último ornamento
Na incógnita lápide minha pequenez
Lembrança na lembrança, um talvez
Sob a terra o mais vil esquecimento

No redobrar dos sinos, a total nudez
Dum defunto sem data de nascimento
Um ninguém, de solidão e sofrimento
Dos que à vida, na vida foi escassez

Deixei atos em versos de sentimento
Podem até ser os tais sem a polidez
Mas, foram vozes, e não só momento

No adeus, o adeus com total lucidez
Pois se meu fado foi sem argumento
Então, pós morte, perde-se a validez...

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO AO PÉ DO PEQUI

O fado ao pé do pequi, no cerrado
pôs-me a ouvir e um soneto narrar
estórias que eu não podia imaginar
e que fez da gratidão o meu agrado

Era o destino me propondo reciclar
pra me tirar do espírito aperreado
do fútil que estava acorrentado
me dando a chance doutro lugar

Sim, ai eu pude então ser evocado
qual a terra prometida, vim me achar
na eterna busca de ser encontrado

De filho pra pai, pai me vi no olhar
então na compaixão fui anunciado
e entendi o doce sentido de amar...

Luciano Spagnol
Cerrado goiano
ao meu velho pai

Inserida por LucianoSpagnol

quase soneto cheio de si

ó minha amada, canto em teu louvor
como se fora nato noutras terras
mais adestradas nos bailes do amor,
em Franças, Alemanhas, Inglaterras;
canto-te assim com tal engenho e arte
que até Camões invejaria o fogo
com que me ardo, outrora degredado
entre mil musas lusas e andaluzas,
e agora regressado aos seus brasis,
ó minha ave, minha aventura
e sobretudo minha pátria amada
pra sempre idolatrada, salve, salve:
o resto é mar, silêncio ou literatura

Geraldo Carneiro
Lira dos cinqüent'anos, Relume-Dumará - Rio de Janeiro, 2002, pág. 86.
Inserida por pensador

CERRADO NUM SONETO

Bendito és tu, cerrado de cascalhos
que em tuas ramas o belo derrama
num céu imenso e cheio de drama
de exóticas flores e tortos galhos

Escancaraste a janela num monograma
dum horizonte rubro e de secos borralhos
num contraste de luz e sombra em talhos
que a admiração esculpe num panorama

Bendito sejas tu, trançado em retalhos
de relva rastejantes que no chão flama
refrescantes nascentes, e áridos atalhos

E do seu sol poete, poemas declama
ipês florescentes e avoengos carvalhos
que encenam vida, e a vida proclama...

Luciano Spagnol
Outubro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

TANTO (soneto)

Que importa, oh sonho! Se sonhei tanto
Se por ti, tanto e mais tanto, estou aqui
E hoje, pra não ver os olhos em pranto
Vejo o tanto de estórias que eu escrevi

Agora são meus fados, cheios de encanto
Dum destino intenso, que sonhei, e vivi
Se truncados, me foi tanto, que são canto
Cantando tanto, que tanto não esqueci

Se o passado se esvai, o futuro no entanto
É presente na minha felicidade, entretanto
A saudade dói, de não tanto, ter tanto mais

Portanto, o milagre de se ser, eu aprendi
Foi tanto amor, que nele eu tanto construí
E estes tantos na alma, nunca são demais

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

ALGO MAIS (soneto)

Eu queria ir além, algo mais que quimera
algo que me abrase, que me punge, arda
e não só consuma o íntimo que acovarda
mas que tirasse o desejo da eterna espera

Queria deixar a alma no tempo acordada
Para ter vivido algo mais, mais primavera
Sem amargar solidão, sem poesia parda
Ou tão pouco, a alegria em uma cratera

Eu queria ter algo mais que um lamento
Queria lembrança de um beijo tatuado
Um olhar eternizado e não de momento

Com tão pouco de mim, e o poetar calado
Eu queria algo mais, sem um sangramento
Dum amor que não tenho... e não só desejado!

Luciano Spagnol
Outubro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO DUM AMOR

Aos olhos surdos, estás ainda, presente
No silêncio do cochicho, tua voz é canção
Meus versos mudos, ainda assim, emoção
E aos ouvidos, o teu vulto nunca ausente

Arrastar-me-ia, se coxo, até a exaustão
Pra ter-te em minhas palavras vorazmente
Qual tal aragem arrefecendo inteiramente
A afeição, a inspiração e o meu coração

Sem sentidos, eu te sentiria novamente
Circulando loucamente na recordação
Qual miragem num perfume languente

E sucumbido, ainda assim, em devoção
Ao teu nome, na alma eu bem contente
Versejaria e te poliria com doce exatidão

Luciano Spagnol
Outubro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SAUDADE (soneto)

Um segundo, não mais que um segundo
o andamento já vivido, num tal lampejo
derretido na lembrança, passado mundo
do tempo no tempo num sucinto cortejo

E neste breve segundo, e tão profundo
o antigo tornou-se não mais que desejo
duma tal recordação, em que me inundo
numa saudade que fala e na alma arpejo

Neste minuto conciso o suspiro oriundo
traz agridoce eternidade... num ensejo
pra amenizar o ser em ser moribundo

E ao final, nesta saudade em manejo
o que teve de valor foi o amor fecundo
que no sentimento... - palpito e adejo!

Luciano Spagnol
Outubro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO MELANCÓLICO

Chove, embrusca o céu do cerrado
o horizonte ribomba em trovoada
nuvens prenhas, parindo gota d'agua
"cachoeirando" o telhado poeirado

Tomba galhos, ventos na esplanada
um cárcere sombrio, espírito calado
a alma com os seus ais embrulhado
contempla os sonhos em disparada

E o tempo a ver, o chão ensopado
escorrendo devaneios pela fachada
dos sonhos, em rodopios atordoado

Salpica na janela, medos em pancada
melancolia, num espanto não desejado
dos meu olhos em pranto, numa cilada...

Luciano Spagnol
Novembro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

ALMA (soneto)

Tenho idade de um tempo qualquer
Vivo menino, jovem ou sou senhor
Neste olhar, tenho o olhar do amor
Embalado, às vezes, no o que vier

Se não vem, tudo bem, sou o que for
Adiante, radiante, serei o que quiser
Depende de mim e de onde estiver
Então, posso ser razão ou sonhador

A idade em mim nunca será mister
É estado de sentimento, um exterior
Garoto ou velho, vai do que dispuser

Às vezes amador, noutras um jogador
Porém, o corpo, não é o que eu disser
Já a alma, estará ao meu total dispor...

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

LINHA DA VIDA (soneto)

A linha da vida, na vida é sinuosa
Da partida a emaranhada chegada
Quimera criada e felicidade caçada
Já a morte... Ah! A morte é teimosa

E nesta estrada, a sorte misturada
Certeza e surpresa bem manhosa
Mas tudo com uma pitada furiosa
De cor e sabor, se bem aproveitada

Tal qual uma poesia em sua tosa
Irresoluta é a linha a ser traçada
Porém, é elaborada na sua prosa

E no tem tudo e no não tem nada
Há saída, entrada, espinho e rosa
Como corredeiras (vida) não fica parada...

Luciano Spagnol
Novembro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO NUTRITIVO

Se liberte por demais da vã filosofia
No fado não se tem um alvo certeiro
Tenha a harmonia, seja companheiro
Avigore o tudo e o nada sem utopia

Tudo passa, se transforma por inteiro
E nesta corredeira leve-te sem agonia
O bom da esperança é sair da galeria
Sonhar o possível, lutar como guerreiro

Vencer é armar-se de amor, ter cortesia
O generoso partilha glórias de cavaleiro
Achar-se na sombra é meta de covardia

Não te percas no efêmero, só nevoeiro
Ter, não pertence a ninguém, é fantasia
A alma se nutre do bem, do verdadeiro

Luciano Spagnol
Novembro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

ENFADO (soneto)

O quarto penumbroso e triste. Meu viver!
Um silêncio na alma que ela parece morta
Eu num olhar vago, uma pujança absorta
Não tenho ânimo, nem uma reação sequer

Rabisco gestos pálidos que a nada importa
O mundo lá fora a passos largos. Ouço dizer
O meu aqui dento de solidão põe a embeber
O vazio lânguido, num isolamento que corta

E neste enfado, no enfado inquieto do ser
Que é que me interessa além desta porta?
Se sempre é o mesmo, o mesmo parecer

Aqui neste útero meu sonho se transporta
Que diga a sorte, e o destino o que quiser
Aqui poeto quimera, que abre comporta... (do meu envelhecer!)

Luciano Spagnol
Novembro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

MINHA PESSOA (soneto )

Eu sou o do fio da meada perdido
O que poeta devaneio e quimera
Verão ou inverno é só primavera
Neste fado, sonhar, é permitido

Emaranhado, pensado, eu quisera
Em exequível gratulação ter vivido
Mas olhar amargo me foi servido
E tal refutado, tive sorte megera

Aos olhares um quase despercebido
Impelido pra muito além da biosfera
Espírito enlutado, dum senso sofrido

Nas tiranias, choro, sou pessoa sincera
Áspero, sem ser, de amor sou provido
E no querer mais, me tenho em espera

Novembro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Ouça o soneto , se olhe no espelho , sinta o vento do ventilador ,faça e desfaça não tenha medo nos somos glóbulos de amor.
A metamorfose e a hipótese se juntam em um só.
Descaradamente todo mundo mente para se satisfazer do El Amor , naturalmente buscam em gente o melhor sorriso reluzente .
Escute as paredes elas proclamam coisas que os humanos deixam de exaltar.
Paixão incógnita descrevo a proza do mar e deixo me levar .
Saia de casa perca a hora , não tenha pressa de voltar ,nada se apaga tudo se passa e só se esquece se marcado não ficar.
Eu só lamento e choro por dentro por deixar as coisas pra mais tardar

Inserida por poetizandopensamento

SONETO ENCARNADO

Cerrado, pinta o céu de encarnado
por não poder pintar a noite estrelada
assim, vesti a sombra da esplanada
de prata, do luar em tom apaixonado

Pra extinguir o rubro desta tal cilada
e aprisiona-la até o arrebol no prado
o sol se demole num gesto nacarado
tão cansado, retirando-se em toada

No breu, a cor, escarlate enevoado
permanece, então, na noite trancada
pra de novo no dia surgir encantado

Então, no empalecer da luz arrozada
dorme desmaiada, do dia acalorado
no ciclo do cerrado, em sua jornada...

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO NOTURNO

No olhar do entardecer silencioso
o dia adormece e se põe a sonhar
envolto no aroma, da noite, precioso
se vai derreado nos braços do luar

Se há choro, porque há fado danoso
também, há perfume de rosa pelo ar
se alguém soluça, há evento doloroso
pois, no amor, aquele não soube amar

E neste lusco fusco do tempo ditoso
vai-se o tempo no ininterrupto caminhar
pois, a vida no tempo é tempo vaporoso

Assim, vem o dia, logo a noite a tombar
num ciclo do destino um tanto misterioso
mas, que na existência, é um poetar...

Luciano Spagnol
Novembro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol