Sim nós dois

Acontece muitas vezes que somos estimados na proporção em que nos estimamos a nós mesmos.

O senso comum diz-nos que a terra é imóvel, que o sol gira à sua volta e que os homens que vivem nos antípodas andam de cabeça para baixo.

Tudo quanto nós próprios descobrimos ou voltamos a descobrir são verdades vivas; a tradição convida-nos a aceitar somente os cadáveres da verdade.

Às vezes desperdiçamo-nos: o nosso verdadeiro desejo é deixar de viver exclusivamente para nós próprios.

Um passo a mais para nos perdermos e reencontramo-nos.

Devemos esforçar-nos por ser razoáveis, mas não por termos razão; a sinceridade acima da infalibilidade.

A obra que trazemos em nós parece-nos sempre mais bela do que aquela que fizemos.

À medida que a vida e os anos nos maltratam, aprendemos finalmente a conhecer-nos. Mas, nessa altura, já não vale geralmente a pena estabelecer relações.

Nós só conhecemos as paixões dos outros, e o que chegamos a saber das nossas, é deles que podemos aprender.

Quando desejamos pomo-nos à disposição de quem esperamos.

Cada novo conhecimento importante que se faz decompõe-nos e volta a compor-nos. Se esse conhecimento for da maior importância, passamos por uma regeneração.

Sem eu’s nunca existirá nós. O nós é feito de eu’s.

A arte dos loucos pode tocar-nos; enriquece-nos porque encontramos em nós essas estranhezas.

Quando se apanha um mentiroso, ele pode perguntar-nos - e o que é verdade? E o mais provável é termos de o deixar seguir.

Nós não ficamos a querer menos a quem conhece os nossos defeitos do que a nós próprios por sofremos deles.

A glória consiste em tornarmo-nos um assunto, ou um substantivo comum, ou um epíteto....

Definem-nos o milagre: uma derrogação das leis da natureza. Não as conhecemos; como saberíamos que um fato as derroga?

O juízo que fazemos dos outros diz o que nós somos.

O mundo julga-nos, não pelo que somos, mas pelo que parecemos ser.

Ao envelhecermos, tornamo-nos mais loucos e mais sagazes.