Sim nós dois

O céu deu-nos o hábito, / bom substituto da felicidade.

A razão de ser de qualquer fé é trazer-nos uma certeza.

A maledicência pode muitas vezes corrigir-nos, a lisonja quase sempre nos corrompe.

Irritamo-nos menos por causa da ofensa recebida do que por causa da ideia que fizemos de nós próprios.

A morte fala-nos com uma voz profunda para não dizer nada.

Amarmo-nos é lutar constantemente contra milhares de forças ocultas que brotam de nós mesmos ou do mundo.

O sol pode-se pôr e renascer; / para nós, quando a breve luz se apaga, / resta uma única eterna noite para dormir.

Ninguém aqui morre só a sua morte; / é um pouco de nós todos que se vai / e naquele que nasce há um pouco de todos nós / que se torna outro.

Em toda a obra de gênio reconhecemos os pensamentos que havíamos rejeitado. Estes retornam a nós com uma certa majestade alienada.

Depressa: o tempo foge e arrasta-nos consigo: o momento em que falo já está longe de mim.

Sermos bons com os outros e com nós próprios, ajudá-los a viver, ajudarmo-nos a viver, eis a verdadeira caridade.

Amar alguém de idade é embrenharmo-nos profundamente na sua companhia, num caminho de que teremos de regressar sozinhos, no escuro.

Oh, faz-nos felizes, e nos terás feito bons.

Se só a dor nos pode educar, pergunto porque é, filosoficamente, proibido encarniçarmo-nos contra o próximo, educando-o do melhor modo?.

Quando o doutor escreve a receita, olha-nos uma última vez para ver se põe um remédio dos caros ou dos baratos.

Encontramo-nos numa festa que não gosta de nós.

Por natureza, todos nós estamos mais prontos a criticar os erros do que a elogiar as coisas bem feitas.

Escrever é batermo-nos com tinta para nos fazermos compreender.

Parece, na verdade, que nós nos servimos das nossas orações como de um jargão e como aqueles que empregam as palavras santas e divinas em feitiçarias e em efeitos de magia.

A nobreza do espírito, com respeito àquela tradicional, oferece-nos a vantagem de podermos atribui-la a nós mesmos.