Silêncio e o Tempo
Escrevi o tempo.
Escrevi para ti
Desenhei o silêncio.
Desenhei para ti.
Escutei o silêncio.
Que acalmou o mar.
Rasguei o silêncio.
Em tempo para ti
Para que o silêncio.
Se faça escutar.
Desenhei o tempo.
Feito em silêncio.
Escutei a melodia.
Desejando o silêncio.
Desenhei o tempo.
Numa folha em silêncio.
Joguei ao vento.
No silencio do tempo!
TEMPO
Ontem não pude falar tudo que meu silêncio quer dizer. Não quero magoar nem esquecer. Preciso de um tempo para viver. Você é mais que um bibelô. Significa emoção na minha razão. Caminho febril sentindo torpor. Te quero demais, minha paixão!
O vento na cidade.
Por um momento o silêncio tomou conta da cidade, não da cidade inteira, mas daquela rua, não um silêncio absoluto, mas uma pausa do caos.
O caos dos carros correndo, buzinando, os motores roncando, pessoas gritando, pessoas correndo e vendendo coisas. Havia apenas o som do vento e de um martelo em uma obra próxima.
Foi como se o vento estivesse trazendo a paz, a calmaria. Podia até jurar que ouvi pássaros! O som dos passos dados foram silênciados pelo som do coração e do sangue correndo nas veias.
Uma hora antes, ali mesmo havia passado carros de bombeiros com as sirenes ligadas. Horas depois uma manifestação de mulheres aconteceu.
No silêncio foi dito "obrigada por esse momento"... em pensamento.
"Sou uma grande lágrima nos olhos do tempo e na noite forrada de silêncio meu corpo tropeça nas horas e segue pelos caminhos do nada sem nenhum destino"
O tempo e o silêncio
O tempo perguntou para o silêncio porquê ele estava tão calado.
Não obteve resposta e seguiu adiante.
O silêncio vendo o tempo ir-se colocou-se a pensar no porquê insistia em não falar e tão somente pensar.
Então, pensando bem, o silêncio levantou-se e começou a caminhar ao invés de só pensar ali no canto sozinho, sentiu o sol, aproveitou a primavera e todos os seus encantos. Inebriou-se com o perfume das flores …
Ao reencontrar o tempo, o silêncio lhe dá um demorado abraço e pela primeira vez sussurra em seu ouvido: o tempo é o elixir de todos os males.
Os meus quatro motivos não cabem em palavras simples:
No silêncio, é tua voz que me traz de volta.
No fracasso, teu toque reacende o que pensei ter perdido.
Na tristeza, teu beijo dissolve dores que ninguém vê.
E na vida... é o teu amor que me reconstrói, todas as vezes que me sinto em pedaços.
É por isso que, mesmo sem entender tudo, eu sei — você é o motivo de eu ainda ser.
CONFLUÊNCIA DOS INVISÍVEIS
Há um pacto selado no silêncio
entre o sopro breve do instante e a eternidade que espreita.
Nem sou caça, nem caçador do tempo,
apenas passo, como ele passa,
num compasso de olhos fechados.
Não corro.
Não me atraso.
Sou feito de agora.
E ele também.
Às vezes cruzo com a sombra dele
num reflexo na vidraça,
num fio branco que aparece,
num gesto que se repete sem que eu saiba por quê.
A vida?
É isso que pulsa sem forma
entre a dúvida e o desejo,
entre o que arde e o que abraça.
E a alma, essa caverna feita de ecos,
abriga lembranças, algumas minhas,
nem todas boas, mas todas minhas,
marcadas a fogo ou sussurradas na bruma.
Já a morte,
essa paz sem cor,
que recolhe tudo ao pó, de onde vim,
não me assusta mas comove.
É como ver um campo que nunca floresceu,
um nome que ninguém chamou com ternura,
ou como alguém que passou a vida inteira
escutando a música,
mas nunca se permitiu dançá-la.
Falta nela o riso que rompe o silêncio,
a febre dos que erram por amar demais,
a beleza do que foi quase.
Então eu respiro e nesse fôlego,
sinto:
sou vértice entre o que fui e o que vem,
sou tempo habitando a própria ausência,
sou instante que decidiu permanecer.
Perdura
Aonde existe o vácuo e o silêncio, existe o tempo e a esperança.
O excesso de pensamentos na hora errada e no lugar errado não são seguros nas mentes fragilizadas, então desafoguem!
Não basta só juntar os pedaços, faça o que for preciso para deixá-los na temperatura certa.
O fascínio perdura quando perdoamos e ao mesmo tempo cuidamos do espelho de nossos corações.
"Que o silêncio impulsione-me a não fracassar e venha desassombrar qualquer tentativa minha de recuar".
O tempo passa,
a mágoa persiste,
o silêncio aumenta,
a aceitação vence.
A raiva some,
as lembranças são constantes,
as saudades ferem,
o subconsciente sempre nos trai.
O renascimento é a meta.
Prontos ou não, lá vou eu.
Empurrando a embarcação.
Meu silêncio é a canção
que no sonho se perdeu.
E o tempo que nunca foi meu,
pintou meus cabelos de velho.
Me fez renascer no afélio.
Somos meros instantes na ampulheta do tempo estelar e os olhares do silêncio no eco de nós.
© Ana Cachide
