Se eu Fosse Algum Rei
Eu já não tenho mais idade para fazer de conta. Eu não quero fingir. Eu não posso fingir que isso aqui é um castelo, que nós somos mágicos e encantados.
Eu quero fazer silêncio
Um silêncio tão doente
Do vizinho reclamar
E chamar polícia e médico
E o síndico do meu tédio
Pedindo pra eu cantar
A ESTRANHA
"(...) Ela só quer que eu sinta, que eu pense, que eu respire, que eu disque aqueles números mais uma vez, mais uma vez, mais uma vez.
(...) O mais estranho da estranha é essa felicidade plena em que vivo. Esse estado de graça. A estranha encheu meu estômago de borboletas coloridas. Encheu de suspiros a minha alma. Me encheu de rendição.
É uma dessas alegrias de dar pulinhos e de murmurar alegria no semblante mais sério. É uma dessas alegrias tão abençoadas por Deus que Ele é quase cúmplice de esporádicas baixarias e mentiras.
É uma dessas alegrias desconfortáveis mas que tem cara de cama quente e travesseiro fofo.
(...) Ela nem me liga, ela dança linda e vermelha no meu tórax. Eu perco o ar, esbugalho os olhos.
Ela nem me liga, formigando cada parte do meu corpo, transformando meu desenho em pontilhado. Depois me instiga a chamá-lo para que forme minha imagem, me faça existir.
(...)Ela apenas me sorri irônica e por piedade aquieta-se alguns segundos. Depois, eu mesma não agüento e a procuro: estranha por estranha, negar uma paixão é muito mais louco do que aceitá-la dentro da gente."
Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim.
Eu quis fazer um mundo nosso
Um tempo nosso pressentido
Numa troca de olhares
Mas você só quer os bares
O imprevisível dos lugares
Perdidos sem mim
Me queira bem. Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas. Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito linda e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Viver é o meu código e o meu enigma. E quando eu morrer serei para os outros um código e um enigma.
Despenhadeiros.
Eu não sabia que o perigo é o que torna preciosa a vida.
A morte é o perigo constante da vida.
AVESSO
pode parecer promessa
mas eu sinto q vc é a pessoa
mais parecida comigo
que eu conheço
só q do lado do avesso
pode ser q seja engano
bobagem ou ilusão
de ter vc na minha
mas acho q com vc eu me esqueço
e em seguida eu aconteço
por isso deixo aqui meu endereço
se vc me procurar
eu apareço
se vc em encontrar
te reconheço
Mas você – eu não posso nem quero explicar – eu agradeço.
Devo confessar preliminarmente, que eu não sei o que é belo e nem sei o que é arte.
Vou ensinar o que agorinha eu sei, demais: é que a gente pode ficar sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo. A gente deve de poder ficar então mais alegre, mais alegre, por dentro.
