Restos
Um quase lamento de domingo
Naquela madrugada, juntei todos os meus cacos
com os restos da imensa tristeza que me consumia
e tranquei tudo junto com os meus sonhos
em um envelope branco sem selo.
Junto com as cinzas do meu corpo cansado
e com o pranto que inundava meus olhos de lágrimas na ocasião.
Por todos os lados que eu olhasse
só via os insetos (todos) caminhando sem rumo,
perdidos pelo chão da cozinha.
Na pia, os pratos sujos, com os restos da janta de ontem.
Despedaçado por dentro,
vesti a dor que o caminho pintava d’ouro.
Caminho amargo e duro que se precipitava.
E bem em meio a este meu lamento,
vi refletido no espelho do móvel de subir ratos lá de casa,
dois ou três segundos do mais puro desespero
e da mais singular desilusão.
Perdi meu eu
Força ao caminhar, de mim carrego apenas o que restou. Restos de momentos que não vão voltar, restos de um sentimento levado pelo vento, levado para o além do horizonte. Eis aqui estou. A solidão é a única que me faz companhia, entre namoros fracassados e família distorcida, tu és a única que ficou. Não sei dizer o que sou ou o que quero, só sei senti-lá, como se dependesse de sua presença fria como essa noite. Teu abraço mórbido me protege daqueles que um dia me iludiram, e daqui do alto não escuto mais os carros ou as pessoas, pessoas que só deixaram a dor, e disso só me deu forças pra construir esse redoma. Minha fortaleza ilusória que se tornou prisão, e agora estou preso, exilado sem saber de mim. Diziam que as noites foram feitas para refletir, mas o que vou refletir se nada eu tenho a dizer? Não sou mais o mesmo e nunca serei de volta. Só me resta sentir saudade do que nunca tive e esperar que os dias não sejam tão fatídicos, e as noites não me machuque tanto. Se vocês virem meu eu por ai diga que o espero. Nesse plano ou no outro, mas antes vou terminar o cigarro.
Por onde passamos, deixamos restos de nós. E no fechar do círculo, catamos nossos cacos, se não demorarmos muito a voltar. Mas, as separações continuam como ficaram, com um agravante, algumas peças se perderam. Quase me recomponho, quando volto para casa.
Eis onde mora o pecado.
Os restos de comidas jogados no lixo
pelos mais abastados,
dariam para saciar a fome de milhões
de esfomeados.
Foi pelos pré-socráticos
que a filosofia teve início,
logo as estruturas atuais
são os restos do ofício.
Seus pequenos fragmentos
constituem a doxografia,
escrevendo grandes prosas
abandonando a forma da poesia.
Seu mestre foi importante
e morto injustamente,
por mostrar aos ignorantes
sua opinião consciente.
Ele foi um grande filósofo
e sua mente nos clareia,
triste o motivo de sua morte
que foi a ignorância alheia.
O crime de Sócrates
foi defender a razão,
pois para ter inimigos
basta dar sua opinião.
Os métodos iluministas
foram de grande influência,
pois espalhou sua visão
com base na coerência.
PESAR NATURAL
Assassino incerto,
Sem tiro certo.
Pagar pelos restos.
Imortal animal.
Inseto.
Minhoca e borboleta
Mosca e barata.
Lagartixa e, tatu bola.
Pisar esmagar.
Sem a consciência culpar.
Pesar dos pesares azar.
Pernilongo.
Tapa orelha.
Perder o sono.
Tudo fica em pune.
Vaga-lume.
Em nossa composição química corporal somos todos constituídos por restos de poeira estelar e, feito elas, devemos ser luz a brilhar neste palco da vida terrena.
É possível que o amor morra. Mas há também a infeliz certeza de que os restos ficam dentro de nós a nos assombrar. Não passamos, pois, de cemitérios ambulantes.
Meu calado preocupante,meus restos de apodrecimento,meu titulo dos meus versos.
aqui o hoje e amanha esquecido,dos sete dias alem,por tudo que se foi,agora já se foi,hó amem!
Após a tempestade
as folhas que de mim se desprenderam
são restos de uma fúria sem sentido
Após a tempestade
os galhos quebrados são os gritos de uma
alma castiga pelo vento da insensatez
Após a tempestade
restam as poças de lágrimas de um
coração ferido pelo furação
das palavras sem amor
E depois de tudo, a brisa que alivia todas
os arranhões limpa as nuvens carregadas
de tristezas e trás consigo o sol que irradia
o lado colorido do arco íris..
É difícil acreditar que houve uma temporal.
Talvez tenha sido apenas uma garoa
e aquele tumulto não se passava
lá fora e sim aqui dentro
Restos de uma vida
Tiraste-me do ventre materno, me prometestes uma vida e amor eterno.
Disse-me que eu seria um guerreiro, que deveria lutar e que eu seria seu herdeiro.
Aceitei ainda sob a inocência de um menino; e feliz, me expus ao destino.
Sabia que seria difícil pra mim, que não poderia desistir, e deveria seguir até o fim.
Mas, não imaginei assim minha vida, batalhas tão intensas, desconexas e sofridas.
Impuseste-me a desigualdades, ignorância recorrente e a longas tempestades.
E quando eu não pude suportar, submeteu-me as leis dos homens e me deixastes condenar.
Sob os apupos da multidão, com uma cruz sobre os ombros, me arrastastes pelo chão.
Atiraram-me pedras, cuspiram-me na face e arrancaram-me os cabelos com as mãos.
Ainda assim, não contente, dilacerastes todo o meu corpo com vergalhos e correntes.
E agora, já no fim do caminho, na cabeça, cravam- me uma coroa de espinhos.
Vertem-me as lágrimas do desgosto e o sangue ainda quente me escorre pelo rosto.
Não entendo porque deve ser assim, porque pessoas comuns zombam e riem de mim.
Por fim, cravam o meu corpo no madeiro elevando-o ao céu. Na sede, sinto o amargor do fel.
À minha volta, não vejo arrependimento, apraziam com as lágrimas e com meu sofrimento.
Aqui me tem sido tudo muito sofrido, a meu ver, uma vida de amarguras, triste e sem sentido.
Sinto não haver mais jeito. Agora, como ultimo feito, hão de cravar-me uma espada no peito.
Sem nada mais que lhe apraz, na cruz apenas um corpo inerte; devo menear a cabeça para trás.
Este será o meu ultimo sinal; findaram-se aqui os meus dias, tua luta terá chegado ao final.
Na soberba, sentiras um vazio, tênue tempestade, uma brisa leve e o gemer de um vento frio.
Terás tido todo o meu ser, exposto as tuas vontades, objeto único de sofrimento ao seu bel prazer.
Terei sido sob as leis dos homens, humilhado, morto e crucificado, porém tudo terá sido consumado.
Tu terás conquistado a minha morte; como ultimo pedido, não me abandone a própria sorte.
Quando virdes minha alma a vagar e sem saber para onde vai, terás arrancado a minha vida.
Então, apossa-te tu dos restos de mim, enxuga-me as feridas e devolva-me para o meu pai.
Abraços fraternos
Valdeci Santos em: Pinçados a mão- versos, reflexões e poesias.
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