Quimera

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Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.

Não querer associar-se senão com aqueles que aprovamos em tudo é uma quimera, é mesmo uma espécie de fanatismo.

Émile-Auguste Chartier
ALAIN, Propos: Texte établi, présenté, et annoté, Gallimard, 1970

Se nos dermos de coração a uma quimera, se ela, nas formas vagas e aéreas que reveste, nos sorrir e namorar, em vão julgamos tê-la pelo que verdadeiramente é; há sempre um ou outro momento em que a acreditamos realizável e até realizada.

Se...

Se todos os planos e projetos, por ventura ou quimera não deram certo, ainda assim valeu a pena acreditar!
Se os sonhos que sonhamos juntos, por capricho do destino, não se realizaram, ainda assim, valeu a pena sonhar!
Se promessas foram feitas, mas por motivos alheios a nossa vontade, não puderam ser cumpridas, ainda assim, valeu a pena ouvi-las!
Se o desejo de partilhar uma vida foi sonhado, mas as vicissitudes da vida não permitiram... ainda assim valeu a pena desejar!
Se o sonho de caminhar de mãos dadas ao entardecer, sem nada falar, apenas sentindo o prazer inenarrável da presença do outro, não foi possível, ainda assim, valeu a pena imaginar!
Se presentes foram prometidos (beijos, abraços, noites de amor, passeios ao entardecer), mas não puderam ser entregues, no dia combinado, ainda assim, valeu a pena esperar!
Se os momentos que passamos juntos, ainda que separados por uma tela fria do computador, não mais se repetirem, ainda assim, valeu a pena cada palavra dita, cada lágrima sentida, cada beijo desejado, cada momento vivido!
Se você, aí, do outro lado, sentiu, por um ínfimo instante, o desejo de me amar, me tocar, me beijar, me abraçar e me proteger, como eu senti por você, mesmo que a realização dos nossos desejos não se concretize...

Valeu a pena viver!
Valeu a pena amar!

A Quimera do Amor,

Eu descrevo nosso amor como uma tarefa inglória, sem o charme de uma conquista constante, sem o glamour das promessas, só com o lado obscuro da despedida que antevê sempre sufocado no silêncio de palavras que nunca serão ditas, ficam lacunas, hiatos de vontades não realizadas e de quimeras que lentamente se apagam quando confrontadas com a realidade, e que irá a qualquer momento se retirar de forma sábia para hibernar quando não puder mais viver com restrições.

Quando uma criança tem a sabedoria de um velho, é um monstro, uma quimera. Quando um velho tem a sabedoria de uma criança, é um deus, uma luz brilhante.

“[A mocidade] Ama a vigília, aborrecendo o sono; / Tem projetos de glória, ama a quimera; / E ainda não dá frutos como o outono, / Porque dá flores como a primavera”.

A vida, quem sabe uma quimera,
Diante a realidade
Sonhos, fantasias,
Quereres…
Todos tem a capacidade
De ir
Longe!

Você

Vês, vês, vês a última quimera,
meu sono adormecido da vida,
e meu ser abandonado na espera,
de você, apenas você sem despedida,

O amor é ausente, é sol quente,
a espera de água mijada de chuva,
é boca rachada e dormente,
é sua voz que não mais se escuta.

E o sol irá despontar no horizonte,
com estrelas e lua em um céu incolor,
e seu beijo na madrugada se esconde,
a procura de você, amor!

PRIMAVERA (soneto)

Ah! Chegou a estação da primavera
Quimera, com seu perfume multicor
Que sejamos tal. Ah! Quem nos dera,
Assim desabrochar no botão do amor!

Pelo chão musgos, nos troncos a hera
Em cada haste, a prenda do Deus cultor
Traz à poesia cor. O belo assim quisera,
E o afável em espera, cheiro acolhedor;

Cantam os pássaros, na doce aurora
O sol então suspira, e a vida ao dispor
Cada tempo, encanto, de hora em hora;

A qual a alma da terra gorjeia chão a fora.
Nasce a primavera... e neste tenro andor:
As flores diversas, ornam a variada flora...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
23 de setembro, 2018
Domingo, Cerrado goiano

⁠ÚLTIMA PÁGINA

Chegando à última página da estória
nossa, o que era uma curiosa quimera
agora tão sofrida, e tão vazia de glória
sinto o aroma de quem nada espera

Sensação que chora, que desespera
quanta ilusão perdida, agora memória
sombreada de uma apagada oratória
tal as flores desbotadas da primavera

Pois me perdi no ter-te como deveria
na companhia, lembrança e encanto
o amor é uma necessária doce poesia

Eis o meu maior pesar, tanto... tanto!
não ter querido mais! Como eu queria...
Nesta última página larguei meu pranto!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 30/07/2021, 20’06”

Te quero minha alma
Em doce quimera
Nas estacões do amor
Em noites quentes de verão...
Te espero vida minha
Ao cair da tarde
Na madrugada fria
Nas horas de saudade...
Amo-te meu amor
Como o poeta ama a poesia
Com todo meu coração
Com a esperança
De ter você aqui.

A quimera Tupiniquim.

Em mitologia há um monstro
Que tinha três cabeças
leão, serpente e a cabra.
E tinha muito mais
O seu corpo era dividido
nas partes desses animais.

Respirava fogo,
ele era a Quimera.
a diante um leão
com o corpo de cobra
e a calda de uma cabra.

Foi morto por Belerofonte.
arrancando um de seus braços
espancou-o, até a morte.
Monstros assim são
feitos em partes como seria arte
cada uma com sua função
difícil no seu abate.

Temos diante de nós hoje
o mais terrível monstro da nossa história.
É a união de todas as mazelas e inglórias.
Criado em sementes da desgraça
Da nossa gente a doença da nossa raça.

Composta de vícios históricos
de nosso país e gente
de seus sonhos heroicos
simples e simplórios.

Que neste tempo
se confluíram e aglutinaram
Deixaram de acreditar em justiça
São mendigos de formação.

Hoje vivem de esmola que aceitam
são fracos e vencidos atrofiados
vitimas de uma luta que não houve
enganados na ilusão
da quilo que não são.

Esse monstro se fortaleceu
de uma anti-cultura
e se fez de dissidente
diante de uma ilusão
de um revolução libertária
que não é nem literária.

Hoje é barão sem coroa ou capa
Usa um martelo como açoite
E a foice para decapitar tudo
aquilo que seria o futuro.

Conhecimento de uma maquina podre
tornou o país refém,
os poderes corrompidos.
Pobre de espirito
Fisiologismo visível

Quantos assistiram ao enterro da nossa última quimera?

Estamos numa ponte da qual se pode vislumbrar a próxima paragem. Será tranquila? De construção institucional e interpessoal? De harmonia? Que surpresas nos aguardam, se é que ainda possam existir surpresas nessa terra de Deus, onde cada um tenta ser seu próprio deus ou dos poucos servilóides que o cercam.
Tentanto parafrasear Augusto, talvez até com tristezas e azedumes similares, repito para mim mesma: “acostuma-te ao caos que te espera”, porque tácitos e inertes, agarrados ao seu suposto quinhão ou de saco vazio e doidos pra enchê-los, silenciaram todos na proposição do enterro de muitas quimeras.
Acho até que não seja saudável estar-se a lamentar quando se tem a facilidade de transmutar receios em poesia e, à baila, exaltar o poeta que, embora tenha contemplado o sepultar de sua última quimera, soube, com inigualável aparelhamento poético, rimá-lo com “a necessidade de ser também ser fera”, reconhecendo que se vive, miseravelmente, no meio de feras.
Parando para mergulhar nos versos ‘dos Anjos’, que não denotam terem inspirado esse vulto sagrado da literatura, vamos refletir e, sem delongas, revestirmo-nos com o que der e vier , sem que invertamos as coisas...
Tentarei navegar mais e me confundir com o mar de Cecília Meireles, olhando para um dos seus barquinhos* cujo nome sugere alternativas e isso alivia: ou ISTO ou AQUILO. Pelo menos existe a alternativas dos poemas.

O amanhã é sempre uma quimera, mas o hoje é uma eterna realidade.

Tentar aprisionar os segundos é como separar água. É uma quimera. Devíamos experimentar viver o dia de hoje como se não existisse o amanhã.

⁠⁠Não viva um personagem cheio de 'querer ser', viva você; porque se você viver uma 'quimera', um dia descobrirão quem você realmente era

QUIMERA

Nascem as flores nas floreiras
Cheiram os pés de laranjeiras
Breve é a primavera
e da vida a alegria é apenas quimera
Pois logo desce o triste inverno
Na imensidão do frio que à noite tece.

Assim também é o nascer:
As floreiras são o berço que nos acolhe;
E a estação das flores, a juventude.
Enfim tudo é solicitude, é um morrer
Que se faz no úmido frio sepulcral.

⁠Verdejar de uma esperança.
A paciência de quem espera.
O realizar de uma quimera.
Quem age sempre alcança.