Póstumo
Alguns homens nascem póstumos.
Há homens que nascem póstumos.
Ai de mim, Póstumo, Póstumo, fugazes / correm os anos; e as preces / não podem retardar as rugas a velhice / premente e a morte inevitável.
Póstumos
São farinhas do mesmo saco
Mesmos sacos de farinhas
Mesma farinha em trilhas
Frutos da mesma sacola
Festa com mesma trilha sonora
A qual se toca entocados
Intocáveis a qualquer revolta
Vícios vividos sem limites
Nos repiques de um carnaval
Onde todos se mantém fantasiados
Com seus narizes de palhaço
Em um cortejo que sabe lá seu final.
Até aos 24 Anos -
Nasci póstumo!
Neto de Alguém…
Avô de mim mesmo…
Filho de Ninguém ...
E de onde vim?!
De parte incerta
- por certo! -
Vivi póstumo na Vida,
tão póstumo,
que da Vida me perdi ...
E o que de mim fiz?!
Alguém que longe,
de tão longe
chegou a Si!
Profunda sintonia,
estranha contradição...
Mui mal me senti ...
Aqui e ali ...
Sem Coração!
Aquém-de-mim !
Num Universo sem fim ...
Meu triste e pobre Universo!
Sem verso, nem reverso,
fui Poeta, Solidão, Fado e Asceta,
intima Espiral de profunda comunhão!
SONETO PÓSTUMO
O destino me mostra de repente
Que a vida já não tem o mesmo encanto
Nesta dor a dilacerar a gente
Em que o sorriso deu lugar ao pranto
Só quem perdeu sabe o que a alma sente
Ao sucumbir em algo que dói tanto
Ante a saudade que se fez ardente
Numa queda que não sei se levanto
Ó meu Deus! Como pôde ser capaz?
De tão cedo levá-lo ao Céu num ai
Se sabes a falta que ele me faz
Na minha triste lágrima que cai
Em face da dura campa onde jaz
A quem com orgulho chamei de pai
SEXTO HEXÁSTICO
eis-me aqui sujeito póstumo
zumbi de deambulações
aedo de poemas tortos
catando esmos corações
ditirâmbico sem o báquico
hino para minhas orgias
Ademais, nem o sucesso póstumo da minha obra é coisa que mexe com o meu coração. Só o que espero é estar no céu com Nosso Senhor Jesus Cristo, com a Santa Virgem e com os meus entes queridos.
AUTORRETORNO
Eis um póstumo chegando aos esgotos do paraíso para viver sua eternidade!
“Recevez en retour cet être qui est votre création.” – assim falei para um barbudo
sisudo sentado sobre uma nuvem de merdas…
Claro! Descarreguei minha raiva porque não queria estar ali
naquela situação idiotizada, diante duma besta que me pretendia julgar
pelos feitos – bons e maus – duma vida que só queria que fosse minha.
O canalha divinizado ouviu-me impassível como se Deus fora!
Olhou-me e descarregou uma gargalhada celestial – mas demoníaca!
Pasmo fiquei diante daquela insanidade divinal, de miserável sabedoria.
Afinal, quem pensara ele fosse para me dar – a mim – aquele tratamento!?
Porventura, não sabia aquele idiota – que tudo sabe! – ser-me um poeta!?
Imaginei-me estar diante do meu outro Demiurgo – tão criador!… tão criatura!…
E logo percebi que aquele demônio era pura e tão somente uma ilusão!
Merda suculenta nos esgotos das veias da Hybris de nossas criaturas.
Póstumo rubro caústico.
Sair da base, bater as asas, quebrar as estruturas. Isso que farei. Desafinarei o piano e arrebentarei as cordas do meu bom e velho violoncelo. Não agüento mais a monotonia de nossas vidas, as reuniões de família em pleno alvorecer, ter de jantar com vários homens que nem conheço sendo apresentada em casamento só porque eles são bem sucedidos. Cansei do chá das cinco, de cuidar dos meus irmãos. Gostaria de exceder minhas fronteiras, esvaecer. Pular do nosso século dezenove diretamente para o século vinte e um, era da perdição. Lá eu viverei ao som de “Highway to hell – AC/DC”, a ilustre liberdade, meu livre-arbítrio. Tenho certeza que não há nada mais completo do que isso.
Enfim optarei com quem casar isso se o fizer. Desculpe-me desde então se isso ferir seu orgulho papai, mas apreciarei vários homens, sairei com eles, beijá-los-ei e irei pra cama com todos. Pagarei minhas dívidas com o corpo, viverei da minha tez e minhas pernas nunca impedirão miúdos varões de deleitarem-se do meu néctar, do meu mel. Não serei mais forçada a ir aos saraus da cidade, tendo que voltar “tarde” pra casa, às dez horas da noite. Sairei de casa nesse horário e chegarei ao amanhecer seguido de um nascer do sol sendo levada no colo após uns grandes tragos de rum e várias doses de merlot.
Tomarei pílulas anticoncepcionais e usarei a nova invenção contraceptiva, chamada camisinha, para não cometer a ousadia de ter uma família com sete componentes, feito a nossa. O custo de vida médio de lá é muito baixo e fica difícil existir muitas famílias com mais de três filhos. Por fim, em uma de minhas futuras saídas pela madrugada afora, sofrerei meu primeiro porre, esquecerei das pílulas, da camisinha, logo engravidarei de um desconhecido aos meus quinze anos de idade. “Au revoir.”
Amor Póstumo
Você foi uma benção e uma maldição em minha vida.
Benção porque descobri que ainda tenho a capacidade de sonhar, de me emocionar e até de chorar ouvindo uma música ou lendo um poema de amor.
Uma benção por despertar meus cinco sentidos ao ouvir sua voz e querer desesperadamente um carinho seu, um abraço forte.
Você foi benção porque me fez descobrir um mix de emoções e bons sentimentos ainda guardados dentro de mim.
Benção porque, por nós dois, eu tentaria ser mais forte, mais humana, mais humilde, mais mulher, mais tudo!
Você também foi maldição. Maldição porque me deixou meses à espera de uma única atitude sua: coragem.
Maldição porque, mais uma vez, despertou (de propósito) um sentimento anteriormente frustrado por ti, como se finalmente tivesse tido a noção do que havia feito comigo no passado.
Maldição porque me deixou plantada 24 horas por dia durante meses ouvindo algo que não tinha nada a ver comigo, à espera de uma frase qualquer que valesse a pena, que fosse do seu coração para o meu.
Abdiquei de inúmeros fins de semana, feriados, lazer, família, apenas pra ficar ali, atenta a tudo, buscando qualquer indício seu.
Você foi uma maldição porque sabia que não teria a coragem de ir adiante, mas, mais uma vez se insinuou pra mim, mexeu comigo, me envolveu no seu jogo de sedução, brincou com meus sentimentos e depois, como sempre, fugiu.
Fugiu como se fosse eu que oferecesse perigo a sua moral e seus bons costumes, como se eu fosse impura, insana, indigna da sua afeição...
Sim, você foi maldição porque se achou no direito de insinuar que a covarde era eu. Que era eu o motivo da sua insônia, que seria eu a pessoa de duro coração e cheia de mágoas...
Tenho sim minha parcela de culpa, pois esqueci que o coração é enganoso, e por isso tive o que realmente mereci...
Acredite se quiser; eu não tenho nenhuma mágoa de você. Na verdade eu te agradeço pelo: "Nada que poderia ter sido tudo, mas não foi. "
Todo o amor é póstumo; enquanto o vivemos tem a impiedade do sol, que tudo mostra, ou seja, tudo esconde. O amor vivo é uma roda de alegria e dor, conforto e tédio.
Saudade Póstuma
Você se lembra de tudo como se fosse hoje, dos momentos felizes que se foram. Das dores, claro você esqueceu. Pois o tempo cura tudo, mas não apaga a saudade.
Desejando que o passado se transforme em futuro. E que tudo seja como antes. O passado são seus planos futuros, já seu presente, é viver o passado.
Mas são saudades póstumas, e não eternas. E é você quem insiste em segura-las. São como barreiras que te impedem de andar. Mas quem é que disse que você quer andar?
Bom, e do futuro você esqueceu. No meio desse montante de passado, ele se perdeu.
O velhinho
Que saudade daquele cabelo branquinho
Tão macio que parecia um algodão
Saudade daquele riso que ecoava num raio de 50 metros
Que as vezes fazia a gente rir
Mesmo sem entender a situação
Que nostalgia daquele "tindandô" da infância
Aquele que cresci ouvindo ser cantado para os netos mais novos
Um atrás do outro sem diminuir o amor por nenhum
Que falta faz aquele abraço do velhinho cheiroso
Aquela bronca de quem detestava brigar
É mais um 27 de outrubro
Que só posso apreciar você olhando para este imenso céu
Não sei em que parte é que você anda
Só sei que quando levanto os olhos para olhar esse azul sem fim
Eu me lembro que minhas memórias da sua existência
Estão vivinhas aqui dentro de mim
Ah, meu velhinho aventureiro
Quantas lições você deixou
Aprendi fazer café só porque ele gostava
Mesmo quando ficava horrível
Ele incentiva e dizia que tava bom
Ah, meu velhinho mais lindo
Como no dia de hoje eu trocaria todos os meus desejos
Pela chance de poder outra vez te abraçar
Ah, como todos estaríamos mais felizes
Se mais um aniversário juntos pudéssemos comemorar.
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