Poesias Infantil de Chico Buarque
O SONHO DO CARAMANCHÃO
Meu sonho é ter um caramancháo
Um caramanchão florido
construído com madeiras rústicas,
ripado e muito bem estruturado
Fecho os olhos e contemplo
A beleza da natureza
O caramanchão saído de um sonho
Tal qual no último romance lido
Plantas trepadeiras
crescendo em cada canto
proporcionando sombra e frescor
A brisa trazendo odores variados
Um banco ali seria colocado
para acolher no lazer
momentos de leitura e prazer
Descanso para os apaixonados
Ao redor um gramado verde,
também com pequenos canteiros
variedades de flores
Trazendo muitos olores
Em tudo muito charme e elegância
prá minha pequena estância
Tornando aquele local
Exuberante e bem especial
Edite lima / 15 de março/ 2020
Condição Humana
Mais uma vez um vírus,
sim: um vírus
nos diz — zombeteiro —
que tudo o que construímos,
que todas as nossas luzes,
todas as nossas glórias e conquistas —
tudo isso é tão pouco,
tão quase nada...
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Sim, ora um vírus,
ora um micróbio
e outros microscópicos
nos dizem coisas desse tipo...
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Temos visto as ruas do mundo:
desertas — escatológicas —,
ruas e monumentos belíssimos,
belíssimos e desertos —
os seres humanos entocados,
fugidos uns dos outros —
e tudo por um vírus,
por mais um vírus...
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Meu Deus, são tantos vírus,
tantos vírus através dos tempos,
tantos vírus que nos separam,
que nos impedem!...
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Enquanto — humilhados —
lutamos por soluções,
a Vida parece convidar
e propor a todo ser humano
empatia e reflexão,
reflexão e empatia
com e sobre esta hora —
com empenho, ações e ajuda
ao Outro
em nossa pobre condição humana.
LA
Carrego tempestades em mim
que ninguém acalma
que ninguém entende
que ninguém compreende
Só aparecem depois que a calmaria já chegou.
O cara era fodástico:
matava um leão por dia...
Não demorou, o tal do Hércules
— sem querer e sem saber —
hospeda um ser bem microscópico
que — sem nenhuma ironia
nem seriedade —
o matou.
Os leões festejaram,
os amigos também.
Já a mulher, nem tanto.
LA
Saudades, minha Nega,
dos nossos espirros de alcova
e das minhas corizas
das tardes de domingo!...
LA
Sim, Não Existe: É
Os homens têm quebrado seus malhos
sobre a bigorna
do entendimento de Deus.
Têm queimado sua razão,
ralado seu intelecto,
torturado seu coração,
erguido torres,
inventado oráculos,
mediunidades
para chegar ao céu,
aos píncaros do Sonho-Quem.
Mas o infinito
continua maior
que o finito —
o homem não pode achá-Lo,
simplesmente porque Ele não existe:
Deus principalmente É —
por dentro e fora,
matéria e sonho,
em tudo, sobre tudo
e em bem mais de quanto existe —
aquém, em meio e além:
Deus não existe: Deus É.
LA
Processo Agônico
Enquanto o universal Corpo Humano
laboratoriza o tal Corona,
trabalhemos e oremos
para a sua reação de auto-imunidade.
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Assim como o Corpo de Cristo
tem por modelo as virtudes do Filho,
o Verbo Santo, Deus Encarnado
em que cada membro edifica esse Corpo
para que juntos se imunizem e triunfem
sobre o Mundo de César,
mundo do luto e do poder mamônico —
assim também ocorre com o Corpo Físico da Humanidade:
urge que ele se laboratorize ( pela inteligência
e perfeição que lhe são natas ) —
a fim de que se reorganize e triunfe
do desastroso acometimento.
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Durante esse processo agônico,
demo-nos as mãos, trabalhemos e oremos.
LA 18/03/2020
Um Tilintar De Prata...
Um tilintar de prata, um quê de rosa,
aquela voz caía fundo em alma,
brisa morna através de fina palma,
murmúrios a luzir poesia em prosa.
Um tilintar claríssimo, uma glosa
de fino repentista em tarde calma...
o escorrer pelo rosto de uma lágrima,
uma lembrança entre azul e rosa.
Finos talheres que jamais usei,
taças cantando um sonho cor de vinho,
voz hialina dizendo o que não sei.
A rosa, a prata, a voz: esse o caminho —
lembrança sazonada de um outono
caindo como folha ao abandono.
LA
...
E Se meu olhos não encontrarem mais os seus
E Se minhas mão não cruzarem mais à tuas
E Se o tempo me colocar na direção oposta a tua
E não poder mais te encontrar...
Por do sol
Todo por do sol traz a esperança
Do que vem pela frente
Traz a vontade de fazer diferente
E dá força pra continuar
A caminhada da gente
Obrigada, Senhor
Por cada nascer do sol
Por cada por do sol
Pela sequência da vida
edite lima / abril 2020
Eu não tenho nada
Apenas uma escolha
Uma escada a pular
Um sol a escalar
E uma lua a imaginar
Imaginar um encontro desencontrado
Imaginar a lágrima que não rolou
Mas molhou um rosto
Queria te encontrar agora
Te dar aquele abraço
Teu pôr do sol
Mas vou ficar na vontade
Pois anoiteceu
A madrugada chegou
A vontade passou
E o que posso levar
E a vontade que ficou
DESPEDIDA
Hoje tive que deixar você
Te deixar de lado pra eu poder viver
Essa despedida eu sei que vai doer
Mas não resta nada que eu possa fazer.
Tive que te deixar seguir com sua vida
Pra poder também seguir a minha
Ou acabava agora ou mais tarde
Você não viu que essa amizade tem prazo de validade.
Eu gosto de você e você não gosta de mim
Não consigo sustentar uma amizade assim
Te olhar e não poder te tocar dói demais
Faz mal pra mim e eu não aguento mais.
Essa despedida é necessária
Mas não esqueça que o tempo passa
E que um dia vou aprender a viver
E de você não vou mais sentir falta.
Morta, acabada
É assim, que minha alma,
Vaga desesperada.
Na esperança de um dia,
Encontrar a tal sonhada felicidade.
"Folhas secas destorcem meu caminho
Antes eu era o sol
Hoje sou apenas a brisa leve
De uma tarde de inverno.
Meus passos ainda cansados
Procuram repouso
Mas só vejo folhas
Encobrindo o rastro que um dia
Criastes para mim...
A natureza desta vez foi mais forte
E me perdi de você..."
Pala amigo
Meu velho pala amigo
Companheiro de vaquejada
Contigo rodeei os muros
Das geladas madrugadas.
Meu velho amigo, meu pala
Do aço provaste o gosto,
E sem fazer muito esforço
Cerzi alguns buracos de bala.
Agora descansa ai...
Deitado sobre os pelegos,
Feito a velha gaita surrada
Pelo tempo e pelos dedos.
Minuano aguerrido,
Não te faz de distraído...
Com certeza tu sabes
Da enorme saudade
Que sibila na tua canção,
Pois traz na tua garupa,
Mais que frio... traz solidão...
Brasão farroupilha
Meu velho manto sagrado de pala a coberto
Sempre com muito valor te levei na minha encilha,
Hoje te trago por cima dos meus joelhos dobrado
Pois sei que no meu passado, muito tu me cobriu
Da chuva, do vento e do frio...
Hoje... porém, estou velho não monto só pastoreis...
Quando me despedir dos arreios que encilham esta vida
E se fizer liberta minha alma farroupilha,
Te levarei jaz ali... jogado por cima,
Minha mortalha, o meu brasão farroupilha.
O segredo é viver
Não temos nada nesse mundo
A vida é um trem bala
Um estralar de dedo
A vida é viver
Não tem outro segredo!
O eremita
Era uma homem com visões pequenas
Num mundo gigante de possibilidades
Era um homem como um grão de areia
Na imensidão do deserto desconhecido
Era uma homem que não achava graça
Nas pequenas formigas
Caminhantes com folhas pesadas
Quando por fim decidiu sair da casa
Em volta da imponente ilha de Manhattan
Pra cruzar a América até o Panamá
Uma vida de eremita foi desbravar
Do frio do Norte aos dias quentes do sul
A floresta Amazônica o fez notar
Que as paredes do mundo são coloridas
E os céus são infinitos
Era um homem que cruzou
O Atlântico até a África
Descobriu um declive no chão
Cheio de canais
Que transportavam fios
Como veias que bombeavam
Sangue na água
Desembocou num gigante coração dourado Foi por terra acompanhar as pegadas
O pedaço do coração havia migrado
Tornando-se castelos, filosofia e arte
Era um homem eremita
Que cruza o Atlântico
De volta para a América do Norte
Ao observar as formigas
Não estavam mais pequenas
Ao observas as quatro paredes
Não eram mais fechadas e duras
