Poesias de Pedro Bandeira Mariana
AUTO DA DANAÇÃO
Já sob a densa treva sepultado
em minha sombria jornada rumo ao Érebo
com esses olhos em frangalhos
que a hora inexorável urge em comer
por Zeus (ou por Hades), eu hei de ver
minh’alma tão patética
enfim se rebelar
reivindicar seu salvo-conduto
seu direito de ir e vir
e arrancando, de profundis
do corpo inerte que já não habita,
um resquício de vida
num suspiro derradeiro
pela oca boca cadavérica inda atrevida
às margens do Aqueronte
desafiar da Morte o austero barqueiro
vociferando, prenhe de indignação
minhas póstumas palavras de ordem:
Ei, Caronte! Seu velho escroto!
Não pago um óbolo p’ra viajar nesse esgoto.
(*) Inspirado pelo Movimento Passe Livre.
Liberdade.
Abro a porta, me vejo sozinha. Posso ouvir os latidos do cão do vizinho. Entro devagar, estou cansada. Deixo minha bolsa no centro da mesa e penso em colocar apenas uma música, aquela música que me lembra de como eu era livre, leve….solta. Coloco no toca disco, relaxo, solto meus braços, não ligo pros vizinhos, pois estou sendo eu mesma. Empurro a mesa do centro, afasto o sofá, aumento o volume só mais um pouco, danço…como se não houvesse o amanhã, canto como se tudo fosse a última vez. Me deixo ir e aos poucos vejo que estou contagiada. Sorrio e pego me dizendo ”como é bom ser livre”.
MEA-CULPA
Quando eu enfim
desembarcar desta viagem -
pelo andar da carruagem,
bem sei, não tardo -
eis meu pesado fardo
de pesares
culpas
remorsos
arrependimentos:
não ter aprendido
a dirigir, nadar, dançar
tocar um instrumento
não deixar herdeiros
nem legado
(além de um punhado
de poemas inacabados
planos frustrados
sonhos interrompidos)
ter magoado fulana, que não merecia
ter ofendido beltrano, e não me desculpado
ter amado sicrana, sem ter sido amado…
Mas deveras
hei de partir de coração partido
só por te haver jurado
amor eterno, e não cumprido.
BATISMO DE FOGO
Entre porres de bourbon
e ressacas marinhas
delirium tremens
febres terçãs
vestígios de naufrágios
canteiros de martírios
salmos, epifanias
mosaicos de neon
preso em teu labirinto entre fortes
desde as maciças retas concretas
de tua carnadura urbana
às tenras curvas abstratas
de tuas coxas mundanas
dentro de ti – ai de mim! -, Copacabana
fiz meu rito de passagem
meu batismo de fogo:
fiz-me
homem
menino
poeta.
Após um chá, ela estava perdida novamente!
Em folhas de solidão, que revelam somente a liberdade de encontrar um novo amor. Gostaria de chegar no final da sua história, uma nova melodia, mas ela espera…na vontade do destino, porque sabe que no final estarão juntos.
Vários capítulos já se foram, versos continuam sumindo…e indo pro passado.Fechando o seu último livro não terminado, percebe que sozinha não está, mas que sempre estará pensando nas pessoas que a amam de verdade.
MENINA DOS MEUS OLHOS
Menina de olhos risonhos
de fada, de querubim,
meus olhos são tão tristonhos,
me ensina a sorrir assim.
Menina de olhos tão doces,
tão castanhos, tão profundos,
ah, quem me dera, se eu fosse
seu dono, por um segundo!
Menina de olhos aflitos,
perdoai, pelo amor de Deus,
se encaram-te assim, tão fitos,
meus negros olhos ateus:
já são devotos contritos,
de joelhos, aos pés dos teus.
" Quando as coisas não saem como planejamos não significa que estamos sem sorte...
Significa que ... ou precisamos aprender a esperar um pouco mais... ou simplesmente não era pra ser. O resto é culpa e não merece atenção!"
154
Mas eu que falo, humilde, baixo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado;
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.
Propus que o pulso
não fosse expulso da via
que o próprio Confúcio
em sua mente diria
pra dar posse a mera justiça precoce
da Terra, que não corre
e em meio ao ócio sua paz
sempre espera.
PALAVRAS
Palavras, são formadas por simples letras, de grandes frases
que tem o grande poder de amar ou destruir, guerrear ou dar a paz. Nao devemos joga-las ao vento, a procura de um ouvido, indisposto a ouvi-las.
Poesia feita de pó de histeria,
com pitadas de revolta e anarquia,
duas colheres de insatisfação coletiva,
untada com distorções e microfonia
dissolvidos em um megafone que berra
contra o inerte e apático padrão de vida pseudo estético
e esta pronta a receita de um Vandalismo Poético...
Não da para ficar falando
das palmeiras de nossa terra,
quando o povo não tem acesso a ela,
para sobreviver ou se enterrar.
Não da para ficar falando
do canto do sabiá,
quando a saúde pública é saúva,
e aquilo que a pátria recebe
não é o que a pátria nos dá.
Aprendi com a leitura que...
Correr parado, voar deitado
E entrar pela porta da frente de uma grande empresa
É tão fácil como conhecer o mundo de Alice no Pais das Maravilhas.
A PEÇA( Autor: Henrique R. de Oliveira).
Pra lá e pra cá.
Soletrando meu nome.
Vestida em sobreposta peça.
Formato em V se esconde.
E some.....
Pra ser descoberta
de renda, seu sobre nome
Exploro entre dois montes
Para ver aonde some
A peça que deixa encoberta
Desnuda os montes
E cobre o monte...
...de Vênus
Va-ga-ro-sa-men-te
é descoberta pela mão de um homem.
E a peça retirada
Deserta ao lado de dois corpos, flama.
Fez seu papel em provocar.
Pequena, repousa na lateral da cama.
Descobri na leitura.
A vontade de viver, sonhar, cantar na chuva, voar...
Descobri na leitura.
Que tudo posso fazer.
Fazer o imaginável.
Fazer o impossível.
Fazer tudo aquilo que antes não podia fazer.
Fazer, fazer e conhecer o maravilhoso mundo da imaginação.
Que só a leitura nos leva a conhecer.
PERGUNTAS
Eu queria saber o que era amor
E a todos quantos via perguntava:
Ao velho, ao jovem que na vida entrava,
Ao inocente, ao justo, ao pecador.
De minha mãe às vezes, indagava.
Ela estranhando, repetia: "amor!"
"Leia o vocabulário" me ordenava
O meu velho e sozinho professor.
Fui percorrer então o dicionário:
Amor... amor... amor... sentido vário
De mil explicações em labirinto...
Não cheguei a entender. E fiquei triste.
Ou o amor em verdade não existe,
Ou só existe aquele amor que eu sinto.
Pense.
Você pode voar, sair…viajar.
Você pode fugir, se mudar ou até mesmo fumar.
Você pode desejar, sonhar e as vezes desconfiar.
Você pode cantar e gritar até o mundo ouvir sua dor.
Você pode, pode tudo. Basta você querer.
Você que faz suas escolhas e suas escolhas fazem de você uma pessoa boa ou não.
Pensamentos.
Tem pensamentos que te enlouquecem.
Alguns são tão escuros, capaz de fazer você virar um louco.
Outros te prendem em quatro paredes e te deixa confuso.
Perturbadores ou não, somente a mente te deixa consciente…ou não.
Depende de como você é.
Controle ela, antes que ela te controle.
Talvez.
Vai ser sempre assim, e assim sempre será!
O tempo vai passar e nada irá mudar.
O futuro não é mais como antigamente.
Não vou ficar aqui e esperar, caminharei sem rumo…somente com uma bagagem de mão e um sonho a trilhar.
O homem, a tecnologia e Deus
Certa feita dialogava com um amigo, que me trouxe a seguinte pergunta, proposta por um conhecido mais velho: Deus aprova o grande avanço tecnológico da humanidade? Pergunta muito reflexiva. Na hora eu respondi que se um pai vê o progresso de seu filho, talvez se formando no nível superior, há um grande motivo para ter orgulho... A verdade é que até na Bíblia há uma referência de que a ciência iria se multiplicar. A grande ressalva, que serve de exemplo para todas as áreas do desenvolvimento humano, é que os progressos podem ser utilizados tanto para o bem quanto para o mal. Veja que a energia nuclear pode ser aplicada na geração de eletricidade em usinas e no tratamento de câncer pela radioterapia, mas também pode ser utilizada numa arma de destruição em massa (a bomba atômica). Tenho certeza de que quando nossos progressos são efetuados para o bem comum da humanidade, Deus nos vê assim como aquele pai orgulhoso por seu filho, mencionado anteriormente.”