Poesias da Cora Carolina Oferta de Aninha
Eu fico triste
por essa geração.
As crianças não jogam
mais taco na rua.
Não tem mais
time da rua de cima
contra time da rua de baixo.
As calçadas
não tem mais marcas de giz.
Ninguém toca mais
campainha pra sair correndo.
Mas ainda brincam
de polícia e ladrão
aqui no quarteirão,
só que ao invés
de cano 'pvc' nas mãos,
a criançada sai armada
de fuzil e “três oitão”.
Roney Rodrigues em "Triste Geração"
Garoto pobre da zona sul,
de roupa e alma rasgada
tecia seu verso, incerto
em seu velho caderno azul.
O telhado tinha uma goteira,
o madeirite tinha uma fresta,
Pela fresta assistia o universo,
A lua, as estrelas, que linda festa.
O dinheiro que o pai trazia,
dava pro pão, mas faltava pra vida.
A mãe dizia menino larga esse caderno
que isso não dá futuro, só ferida.
O garoto da favela nunca esqueceu a viela,
o povo, a dor, a sirene e o caderno.
Foi pro mundo muito cedo,
comprou um livro, vestiu um terno.
Nunca contestou as palavras
afiadas de sua querida mãe.
Desobedeceu ela até o fim da vida.
Em seu jazigo um poema:
Morreu o poeta da viela,
Venha estrela e venha lua,
espiar por entre a fresta.
Venham cear nessa rua,
Chorar a morte, fazer uma festa.
Cantar seus versos, contar seu amor
Fazer com que saibam que poetas
também nascem do calor da favela.
Roney Rodrigues em "Poeta da Viela"
A imparcialidade é uma
armadura pra poucos.
É sombra na vastidão
de um deserto.
É refresco para o coração
desidratado.
Não se esqueça,
quem com a espada fere,
com a espada será ferido.
Quem com as palavras divide,
com as palavras será dividido.
Roney Rodrigues em "Imparcialidade"
Uma energia me suga
ao fundo do teu olhar.
O brilho vermelho
disfarça as cinzas, os restos.
Planetas e estrelas engolidos,
amores extintos e poeira cósmica.
Uma arma tão simples,
uma gravidade tão grande.
Concluo que é impossível
frear meu corpo ou
escapar do teu olhar radioativo.
Roney Rodrigues em "Quasar"
1º MIRAGEM
Sou sem por cento
Saudade,
Sou cem por cento
Miragem,
Sou cem por cento
Tristeza...
Duzentos por cento
Confuso,
Duzentos por cento
Intruso,
Duzentos por cento
Incerteza.
Trezentos por cento
Vazio,
Trezentos por cento
Sombrio,
Trezentos por cento
Aumento...
Sou cem por cento
Poeta,
E a vida pra ser
Completa
Precisa ser cem
Por cento.
ADEUS
Ainda quando
De longe
O aceno da saudade
Pairava sob o ar,
Os teus olhos
Não deixavam
De dizer-me:
Eu sou tua!
O velho símbolo
De adeus, (o lenço branco),
Não havia
naquela cena,
Pois o lenço branco
Eram teus lábios,
Que, molhados pelo pranto,
Pronunciavam,
Ainda que quase sem voz,
A palavra
Adeus...
Este foi
O que viveu da poesia
E a poesia viveu nele,
Sendo transformado
Em palavras que brilharam
Como brilham as estrelas
No céu.
Este foi
O que viveu da música
E a música viveu nele,
Sendo tocado e tocando
As pessoas ao redor
Deste ser
Que foi
Arte.
Lembro-me de quando a vida
me acertou a primeira rasteira,
a morte de alguém importante.
Que coisa mais irritante,
andar de bar em bar
tentando encontrar
um pouco de quem partiu
em goles lentos e objetivos.
Que coisa mais incoerente,
tentar sanar um enorme buraco,
abrindo outro maior ainda.
É aí que as coisas costumam
sair do controle e a correnteza
começa a te empurrar
contra as rochas, te seduzir ao fundo
com promessas de lindas donzelas
que provavelmente nunca existiram.
Roney Rodrigues em "O laço da confusão"
Por tanto tempo
eu olhei suas fotografias.
Acariciei a pele do papel,
colei sua foto no meu travesseiro
na esperança inserir você em meus sonhos.
A eternidade que passei aqui
fez meus olhos arderem
e desregulou meu coração.
Segurei suas fotos junto ao meu peito
como uma criança faminta
segura um prato de refeição,
como um astronauta aposentado
admirando de longe a lua
que um dia lhe pertenceu.
Roney Rodrigues em "Câmara escura"
Meu bem,
não deposite suas fichas
em mim.
Sou feito
das mesmas matérias
desse solo,
e corro o risco de ceder
com a chegada
do mau tempo.
Roney Rodrigues em "Deslizamento"
Pássaro preso
não canta, lamenta.
Coração acorrentado,
não bate, só vibra.
Roney Rodrigues em "Cativeiro"
Ele escolhe a solidão da praça
para acalmar a mente (inflamada).
O amor, essa desgraça
que tende a se envergar,
ao ponto de estourar,
ao ponto de estragar.
Ela fita ele à distância,
atravessa a rua, apressa os passos.
Ela evita todo tipo de laço,
Foi condenada em primeira instância,
a viver reprisando o gosto dele
todo dia, em todo lugar.
Roney Rodrigues em "Réu"
Meu passo torto e trêmulo,
minha camisa mal passada,
meu tênis sujo,
pedaços de vidro
chovendo do céu,
tudo é tão ruim,
quando não me visto
de você.
Roney Rodrigues em "Intempérie"
A rosa já murcha
perdeu sua voz de clarim.
Pétalas derramadas,
vestida de espinhos,
caiu bem longe do jardim.
O aroma se foi,
a tormenta alcançou a mente.
Ela implorou por carinho,
mendigou pra muita gente.
A sujeira grudou na roupa,
na mente e no coração.
A rosa descobriu aos poucos:
a beleza é nada
além de aflição.
Roney Rodrigues em "Alameda das Rosas"
Lembrei do seu abraço apertado,
falhei ao te manter longe
dos cacos da minha memória.
Hesitei ao apagar
os teus registros de mim.
Não quis jogar
fora teus livros.
Aquele poema de Drummond
que você narrou pra mim
ricocheteia no
fundo da mente e vem
atormentar
meu gole de cachaça,
meu último gosto de amor,
o começo
da minha loucura semanal.
Roney Rodrigues em "Brain Damage"
Faltou algo no meu céu,
o brilho de estrelas mortas
levando anos luz para me acertar.
Eu fico vagando por aí,
sendo golpeado por meteoritos,
cometas e
olhares apaixonantes.
Em uma noite de céu turvo,
olhei no fundo da sua galáxia,
na profundeza que é você,
eu soube nesse instante:
Seu abraço seria meu:
Seu corpo, minha morada;
Seu carinho, a chave dessa jaula.
Eu vou chegar perto da sua pele,
vou me encostar, vou me perder.
você sempre soube,
estive doente aguardando
a cura cair do céu.
Me tornei dependente desde que
me mudei para o seu sorriso.
Em dor eu sempre ofereço:
Meu corpo ao seu lazer;
Minha poesia à sua memória.
Roney Rodrigues em "Lágrima Láctea"
Eu dirigia na estrada da vida.
Lembro que a tempestade rugia lá fora.
O pavor era vibrante, o medo era palpável.
Eu guiava com cautela e temor
sempre a vigiar o retrovisor,
Lia com atenção as placas.
Ao entrar na curva do teu corpo,
eu virei o volante, o corpo não respondeu.
Os pneus não tiveram aderência, eu capotei.
Os estilhaços, o horror,
a dor de saber tarde demais
que o melhor a fazer era ter esperado
o mau tempo passar.
Roney Rodrigues em "Aquaplanagem"
Não quero sucesso
não procuro fama
desde pequeno
eu prefiro o canto do palco
nunca gostei do holofote
eu gostava do papel da árvore
da nuvem ou da estante
eu derramava lágrimas
ao ver Romeu e Julieta
mortos por causa do amor
eu não almejo o mundo
pra mim um banco
de madeira
um bom rock
e uma cerveja
já compensam o stress
que me espancou
a semana inteira.
Roney Rodrigues em "Sou da turma do canto"
OSTENTAÇÃO É UMA MERDA
Isso de mostrar teu ouro
Esfregar na minha cara teu luxo
O vazio do seu caviar
Ao seu Porsche
É imenso e gritante.
É coisa ridícula.
Pendura no teu pescoço
Um livro de Drummond,
Um livro de Dostoiévski.
Recita pra tua morena
A poesia mais luminosa.
Ela vai amar o que você
Carrega por dentro.
Não essas coisas
Externas e breves.
A semente de ervilha
Enquanto a semente crescia,
sonhara em potencia.
Conhecer todo o uni e verso de Deus.
Já colhida e levada com outras sementes,
por uma estrada,
entre dois pontos equidistante.
Em um solavanco causada por uma pedra;
desceu ladeira abaixo.
Enquanto outras sementes ficaram
secando no asfalto. Abaixo do sol.
Caída em terra firme. Fincou raiz
a ali mesmo, agradecendo toda a água.
E nutrientes que a mantinham com vida.
Fez-se crescer seus ramos e multiplicar-se
em seus atributos, de ervilha.
Já madura aprendera em potencia.
Que o uni e o verso não lhe cabia.
Em potencia. Mas para sua proteção.
Mas também aprendeu que, somente ela
e sua descendência, poderia ser ervilha.
Outras que foram levadas pela estrada afora.
E, em cada parada se transformavam.
Umas em alimentos, para o mundo
em rodizio de beira da estrada.
Acompanhada de uma folha de alface.
Outras se tornaram transgênicas,
e não puderam mais reproduzir-se.
Algumas esqueceram da própria
natureza ao potencializar ideal,
de algo que não cabia sua natureza.
E quando tomaram conhecimento dessa verdade,
Já havia terminado a estrada.
E outras finalmente, foram plantadas em
em solos adubados criando raízes,
para melhorar nova safra.
Assim. Nova geração estava garantida.
Agora a ervilha no caminho, já não reclama o seu
destino. Não precisava mais compreender o
uni e o verso. Para saber que. Só precisava
desenvolver. Toda sua potencia de ervilha.
E sabia que, as fantasias de uni-potencia.
uni-presença. Uni existencia. Uni-poder.
Bem; era só fantasias.
E podia brincar fantasiando com
seus ramos. Ser uma imensa floresta.
marcos fereS
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