Poesia sobre Silêncio
O peso do silêncio
Dizem que nascemos sozinhos e morremos sozinhos. Dizem isso como se fosse uma verdade fria, científica, quase um aviso. E talvez seja. O que ninguém diz, ou talvez finjam não perceber, é que, entre o começo e o fim, a solidão também aparece. E não é aquela que se resolve com companhia, é outra, a que mora dentro.
Chega uma hora em que o tempo desacelera. As visitas ficam mais raras, os telefonemas cessam, e a casa vai ficando grande demais para quem já viveu nela cheia de vida. Os móveis guardam mais memórias do que utilidade, e a alma, essa danada, começa a tropeçar em lembranças que insistem em não morrer.
Sinto-me como um velho pilão esquecido no canto de uma varanda. Já fui força, já fui utilidade, já fui indispensável. Hoje sou história que quase ninguém pergunta, silêncio que quase ninguém ouve.
As mãos tremem, a visão falha, a juventude se foi, mas o que mais dói é o espaço vazio na rotina, como se o mundo seguisse em frente e eu tivesse ficado preso em algum ontem que não volta.
Conto os dias, sim. Não com tristeza, mas com certa dignidade de quem sabe que ainda está aqui. E se ainda posso escrever, lembrar e sentir, então ainda sou. Mesmo que meio apagado, mesmo que decorativo, ainda sou.
E quem ainda é, ainda pode ser. Nem que seja só abrigo para uma saudade, ou um canto sereno onde a vida, mesmo em silêncio, continua a respirar.
HERESIA
Te engulo como quem já morreu de fome. Com os olhos cerrados na vertigem do teu cheiro. Te tomo como anjo que escolhe cair não por pecado, mas por desejo de habitar tua alma, como quem entra sem pedir licença, nu de si mesmo.
Sou ausência que arde sob tua pele. Memória do toque mesmo sem o toque. O silêncio entre nós virou idioma. E tua respiração, confissão.
Cometemos a heresia da carne como quem reza com o corpo. Sem culpa. Sem o peso dos que condenam.
Te envolvo sendo, às vezes febre, às vezes brisa. Num abraço onde o mundo silencia e só resta esse instante: nós. Em transe. Em verdade. Em tudo que não nos cabe.
Se há uma força nisso, é aquela que dilacera e acalma. Que fere com ternura. Que transforma a heresia do desejo carnal em uma forma de permanecer, mesmo quando os corpos se afastam.
Augusto Silva
Nem todo escuro é abrigo
Já estive lá também, sabe...
Onde o escuro se disfarça de acolhimento
e sussurra verdades com voz de promessa.
Mas nem toda sombra é momento.
Nem toda venda liberta.
Às vezes, ela apenas esconde.
Querer o desejo da entrega como voo...
Mas e se for só vertigem?
Vontade de cair?
E se deixar ir for só se perder de si mesma?
Silêncios nem sempre sussurram uma voz.
Às vezes, ensurdecem.
E o toque que busca... pode também ferir.
Tremores não são bússolas para sentimentos.
Desejo e medo dançam juntos no mesmo compasso.
E o que parece casa... pode ser só saudade do que você já foi.
Não, ninguém te leu.
Ninguém sequer te imaginou.
E você calou mais do que consentiu.
Tem quem se ache especial por descobrir alguém.
Mas você teve que aprender a seguir
sem precisar de olhos que te adivinhem,
sem depender de respirações alheias para lembrar quem é.
Nem toda noite guarda epifanias.
Algumas só passam.
E tudo bem.
Porque às vezes,
ver é mais seguro que sentir.
E seguir inteira,
é incendiar-se por dentro
e deixar as cinzas se tornarem solo fértil
para crescer, de novo, em si mesma.
Augusto Silva.
Desejo em Negação
Escrevo sobre os sentimentos que desvendam o que arde em ti,
mas tu, com os olhos em silêncio, me negas.
O desejo é ser devorada, mas temes a entrega.
Dizes ser incapaz de despir-te, de te deixar conduzir.
Mas, no jogo dos sentimentos, tua pele grita.
A carne exige o que a mente recusa.
O tempo é o tempo, mas o desejo é sempre o agora.
Tu me lês, me sentes, mas não confessas os teus desejos.
Há medo nos teus gestos,
mas o abismo do teu querer me chama.
E eu, sem pudor, me perco nele,
em busca do que te faz tremer em orgasmos.
<br><br>
Augusto Silva
No meu silêncio
Me recompus sozinho.
Sem mãos que me erguessem —
apenas a dor, a febre, a indiferença.
Bebi angústia em copos rachados.
Fumei lembranças até virar cinza.
Hoje, não salvo mais ninguém.
Se vieres,
vem nua de idealizações.
Nunca fui o ideal —
nem quero ser.
Mas traga coragem nos olhos,
pra suportar minha tempestade.
Não quero juras de amor.
Quero presença
quando o verbo falhar.
Não peço perfeição.
Só alguém que me veja
como eu vejo:
com falhas,
sem medo,
sem pudor,
sem fuga.
Artistas conhece públicos vazios, ouve nãos em silêncio, sofre com promessas que nunca se cumprem, sente os olhares que julgam…
Mas a sua força motriz estána necessidade de criar e expressar o seu verdadeiro EU.
SILÊNCIO
Que longo silêncio nos consome
Que até o pingo suave da chuva
Retumba seco
E ecoa na alma
Que até a freada de um carro distante
Se torna presente
e freia minha fala
tímida
tremula
E rasa
Que longo silêncio
Que derruba calado
Nosso olhar desviado
Para o canto da sala
E no canto que cruzam
Paira o longo silêncio
Paira o pingo da chuva
E outro carro que freia
E a mão que não toca
E o calor que não vem
Pois a fala apertada
Sem querer quase fala
Que no canto da sala
O olhar que não cruza
Já cruzou outro alguém
No silêncio do pensamento
No silêncio onde o tempo se esconde,
teus olhos visitam meu mundo calado.
Cada lembrança que o coração responde
é um eco teu, doce e delicado.
Não sei por que vens tão constante,
feito brisa que insiste em soprar.
Tua ausência é um mar distante,
mas tua presença vive no meu pensar.
Talvez seja encanto, talvez seja sorte,
ou só um coração que não sabe esquecer.
Mas toda vez que o dia anoitece forte,
eu só queria parar de te querer.
E se não posso calar essa paixão,
entrego-te em versos o que sou,
com a coragem de quem guarda no coração
um amor que nunca cessou.
Te habito em silêncio
Não fiz promessas,
nem toquei mais do que o acaso permite.
Foi só um sorrisoleve, como quem sabe o poder do quase.
Um abraço,simples,mas ficou em ti como perfume em pele quente,como vinho na lembrança de um beijo não dado.
Desde então, me habitas em pensamentos que nem ousas contar,
fantasias moldadas no escuro dos teus desejos, onde meu nome se desenha sem voz.
Eu sigo, distraída,mas sei… quando a noite cai e o mundo se cala, sou o motivo do teu silêncio inquieto, a imagem que volta, teima, insiste.
Não fiz nada ,e mesmo assim, te desordeno, me tornei a sua imaginação mais fértil e desejada em qualquer momento.
Somos muitos em um só dia.
Às vezes acordamos esperançosos, outras vezes calados por dentro. Podemos ser gentis pela manhã e, horas depois, impacientes. Somos luz em alguns encontros, sombra em outros. Não somos incoerentes — somos humanos, múltiplos, atravessados por memórias, sentimentos e vibrações que dançam conosco a cada instante.
Essas variações internas não são falhas; são convites. Convites para olhar com mais atenção o que sentimos, para perceber o que nos habita sem julgamento. Quando nos tornamos conscientes dessas mudanças, abrimos espaço para a alquimia interior. Podemos, então, transmutar medo em coragem, raiva em lucidez, tristeza em silêncio fértil.
Estar presente é o primeiro passo.
Reconhecer-se em cada versão é o caminho.
A consciência não nos impede de sentir — ela apenas nos liberta da prisão de reagir inconscientemente.
E é nessa presença que encontramos poder: o de sermos inteiros, mesmo sendo muitos.
Vozes que Cuidam da Alma
Antes de uma ideia, há um vínculo.
Antes da amizade, há o medo de decepcionar.
Antes da rotina, há um silêncio não dito entre quem sai e quem fica.
A psicologia, com suas muitas vozes, não nos oferece atalhos.
Ela nos oferece espelhos.
*
"O silêncio dele falava tanto,
que foi necessário o amordaçar
e silenciar os meus pensamentos
para não o interrogar mais...'
***
No silêncio eloquente dos corações apaixonados, o amor sussurra verdades que palavras jamais poderiam expressar.
(LilloDahlan)
Gratidão.
Gratidão por tê-lo tecido,
por enxergá-lo,
por compreendê-lo,
e por firmá-lo no chão —
porque é sobre ele que dou meus próximos passos.
Estou de pé.
E subirei.
Não tirarei meus pés desse chão — piso firme, como quem pisa sobre serpentes.
Piso com confiança, porque os lábios que feriam, agora estão silenciados.
O veneno perdeu o efeito.
Na verdade… me fortaleceu.
Você não perdeu o valor.
Eu é que ganhei consciência.
E isso muda tudo.
Este texto é uma marca —
uma fronteira entre o que fui e o que estou construindo.
É o testemunho do homem que, dia após dia, pensou em desistir,
achando-se fraco...
sem perceber que estava resistindo.
Hoje, a minha mente é minha.
O veneno que me derrubava, virou alimento.
As conexões partidas se romperam com o ranger dos dentes,
mas abriram espaço para o silêncio fértil.
O amor que virou ódio,
o ódio que virou compreensão,
a compreensão que virou indiferença…
e a indiferença —
me libertou.
Eu sou o que restou depois da tempestade.
Eles me procuraram.
O quebrado.
O derrotado.
Aquele que caiu e não voltou.
Mas não encontraram.
Porque eu renasci no silêncio das noites frias,
nas calçadas onde ninguém me ofereceu abrigo,
na solidão que me forçou a conversar com meus próprios fantasmas.
Eles queriam que eu desistisse.
Mentiram, me traíram, me empurraram até o fundo... e eu fui.
Mas lá no fundo, eu descobri uma verdade:
quem aprende a andar no escuro,
descobre o que é confiar em Deus.
Antes de tudo desmoronar,
eu escrevi nas paredes do meu quarto como quem já sabia que o fim estava próximo.
Palavras como alertas.
Como profecias.
Como quem já tinha morrido em silêncio,
e deixou ecos no lugar de explicações.
Falei das orações.
Do amor que nunca foi verdadeiro.
Da distância que eu previa.
Eu previ o que fariam comigo.
Como um homem caminhando de braços abertos para a traição,
eu deixei acontecer.
Em silêncio.
Sem vingança.
Sem olhar para trás.
Porque há olhos que você nunca mais encara.
Porque há feridas que provam sua honra.
Eu não precisei gritar minha dor.
Não precisei provar nada.
A vida recompensa quem caminha com honestidade.
E eu ainda estou aqui.
Mais inteiro do que muitos que tentaram me destruir.
Eu fui importante — mesmo quando não reconheceram.
Fui espelho.
E espelhos quebram quem foge da verdade.
Aos que buscam meu nome,
que encontrem minha força.
Aos que desejaram meu fim,
que assistam ao meu recomeço.
Eu sou o que restou depois da tempestade.
E o que restou… é indestrutível
Enquanto a Vida Passava
imagina,
a vida passando na tv da sala.
sem pausa,
sem voltar.
um ao vivo sutil —
onde você pode sentir,
dizer,
ou apenas estar.
mas se olhar pro celular,
perde.
perde um olhar,
um gesto,
um silêncio.
perde o agora.
o celular aqui é só um nome
pra tudo o que te afasta de ti,
uma metafora.
as comparações,
as vozes que não são suas,
as urgências inventadas.
basta um segundo,
e você já não está mais ali.
está em outra vida,
ou desejando estar.
e sua história,
que é só sua,
segue passando...
sem reprise.
sem legenda.
sem aplausos.
por quanto tempo mais
você vai deixar
que a distração
se sente no seu lugar?
Talvez eu precise me ouvir mais,
em voz alta, ou em silêncio.
Saber o que realmente se passa
em minhas angústias e em meu tédio.
Fazer uma lista do que eu amo,
fazer uma lista do que eu gosto,
uma lista do que eu quero,
ou talvez, até listar menos.
Talvez eu precise ouvir aquela música
mais algumas vezes.
Talvez eu só precise conversar com calma,
com a criança ressentida
em minha psique, e finalmente,
explicá-la que crescemos.
Talvez, eu só precise sorrir mais,
lembrar que, em uma realidade
em que eu não tenha nada,
eu trocaria tudo,
pelo que tenho.
Talvez, eu só precise
lembrar que hoje,
é tudo que eu preciso.
A alma é um universo secreto onde o silêncio canta, a dor floresce em luz e cada cicatriz escreve poesia nas entrelinhas do ser.
(LilloDahlan)
Certa vez, ouvi um orador diante de uma multidão dizer:
‘Não sei a quem você machucou, decepcionou ou feriu. Mas hoje, eu lhe digo: siga em paz.’
Naquele instante, algo explodiu dentro de mim.
Que tipo de facilidade é essa que concede perdão a quem talvez nunca reconheceu o próprio erro?
Será que perdoar tão prontamente — sem uma reflexão, sem um pedido de desculpas — não alimenta uma geração que evita a responsabilidade?
Uma geração que acolhe argumentos vazios, que prefere o conforto de um perdão automático a encarar a dor da culpa e a necessidade do arrependimento?
O perdão é nobre, mas não pode ser banalizado.
Declarar “eu te perdoo” sem consciência pode impedir a evolução de quem precisa amadurecer.
E negar esse processo, em nome de uma falsa paz, é enfraquecer o pensamento crítico, é sufocar o aprendizado que nasce da dor.
Perdoar não é esquecer.
É entender, é aceitar, é permitir seguir…
mas sem ignorar a responsabilidade que cada um carrega pelas marcas que deixou.
Existem princesas que nunca foram coroadas, por não saberem escolher o seu príncipe.
E existem príncipes cegos o suficiente para não reconhecerem sua rainha.
Entre desencontros e silêncios, se perdem coroas, castelos e histórias que poderiam ser eternas.
Porque amor não é só escolha — é também reconhecimento.
