Poesia Morena Flor de Morais
DIAFANEIDADE
De João Batista do Lago
Essa vontade de potência rege a vida
Transmigrando almas para novas essências
Transgredindo toda a inútil moral servida
Nos banquetes de vetustas inconsciências
Essa moral enfatuada por certo é morte
Da sublime nobreza que sempre te reluz
Deseja enganar-te… quer ser litisconsorte
Oferecer-te a alcova que a tudo reduz
Foge de tão loucas e insensatas promessas
Jamais te deixará alcançar toda virtude
Roubará por certo o vigor da juventude
Corolário supremo de toda verdade
Que te premia a carne-vida desde o princípio
Alma pura retornarás se te cuidares
VIGÉSIMO PRIMEIRO HEXÁSTICO
soma do desconhecimento
alma política diabólica
anjo de guru pederasta
verme que se arrasta em palácios
“até quando, vulgo Catilina,
abusarás da consciência?”
Escolha sempre o silêncio.
Não faça das redes sociais, muro de lamentações.
Dispense a plateia, problemas não precisam de palco.
Pela vida vais andando,
sigo-te e nem me percebes,
sou apenas uma leve sombra
que acompanha teu viver,
porém sou grande o suficiente
para nela descansares
quando o cansaço te abater
VIGÉSIMO SEGUNDO HEXÁSTICO
o que importa a educação… o saber… a cultura?
vencedores desejam o subjugar da ideia
desejam degolar a nação sem paideia
formar a juventude sem qualquer arete
castrar a atitude da ética e da política
daí produzirão em toda nação a desvirtude
VIGÉSIMO TERCEIRO HEXÁSTICO
aprendi a fugir do externo
seara de todos meus infernos
hoje cada vez mais interno
vivo toda lucidez nobre
longe de pensamentos pobres
ilusão de ser auricobre
"sonhe mais,
sonhe sempre,
sonhe grande,
sonhe com a gente
sonhe bonito
sonhe comigo
sonhe calado
um sonho banido."
VIGÉSIMO QUARTO HEXÁSTICO
desejando minha passagem
para todo universal único
tento entender toda mensagem
não sou diverso do universo
tampouco o universo do eu
natureza do mesmo verso
Falando nisso, terminei o livro que você pediu pra eu ler
E só na página 70 entendi você
Naquela parte onde diz que o amor é fogo que arde sem se ver
O Rio
nasce na minha porta
- preenchendo toda aorta -
um rio
de água negra
e fervente
que corre alheio
corta ao meio
e quebra
a paz e jaz
o silêncio
enquanto segue selvagem
o veio pulsante
e febril
transborda a margem
a forte corrente
transpassa a mata
e mata
de repente
deságua em guerra
em um mar calmo
esse rio
- lágrimas da alma -
inundando cada palmo
invadindo a terra
a sala
o peito, a mala
me afogo dia a dia
no rio de minh’alma
Novos Conselhos para uma Vida Riquíssima
Espalhe gratidão enquanto houver amizade
E de ninguém deseje a piedade
Hasteie sua felicidade como uma grande bandeira
E diga a verdade de qualquer maneira
Distribua sua gargalhada entre os boçais
E tire para dançar os anormais
Tenha desprendimento pelo material
E leve sua cama para o quintal
Seja amor enquanto todos são razão
E aos sentimentos saiba dar vazão
Mostre o que vai além do espelho
E não se torne um jovem velho
Da arrogância não vista a fantasia
E não fique à sombra de uma relação vazia
Abrace seus sonhos com determinação
E enxergue com os olhos do coração
Seja como a chuva em um chão que agoniza
Faça brotar vida que você se eterniza
Isso é o Mundo Inteiro!
nessa lembrança meio dormente
onde deixei meu coração descansar
estranhamente firmou-se a paz
talvez seja algo que o vento trouxe
ou seu cheiro num sonho que não se desfaz
tudo vem tão rápido e tudo passa
simplesmente
suba em uma árvore e fume um paieiro
isso é o mundo inteiro
caminhamos por trilhas
andamos milhas
mas somos ilhas
não se distancie ao toque
peça, grite, soque
mas não se entoque
os maiores ausentes
estão sempre presentes
e compartilham com a gente
a poeira da serra pinta o céu
e o sol veste um vermelho véu
todo entardecer leva algo meu
em um horizonte que sempre foi seu
Sobre a Distância e Outras Coisas
todos os dias morrem em mim infinitas estações
veladas em um templo transparente e quebradiço
de ausência entre os segundos e todas as horas
há um certo terror pelos cálices que não te calam
e pelos beijos que não te banham os lábios
não acredita em distância o pássaro que voa alto
e nós também voamos alto, só que pra dentro
e igualmente fizemos da leveza libertação
mas deixe o pássaro, o passado e esqueça tudo
ainda longe posso acender a vela do teu coração
e reconhecer teu olhar descalço
a intensidade da voz e o calor da alma
e dizer bem suavemente em teu ouvido
que eu atravessei essa ponte em oração
sim, veio a destempo e passo a passo
hoje, tudo de ontem ficou sem graça
incendiou a casa, me empurrou do penhasco
rasgou as palavras pra falar em silêncio
sem artifício ou prenúncio
agora, percorrem minhas veias espaços sem retas
- me moldei em suas curvas -
sem dilemas e restos
apenas lembranças florescidas em pequenos detalhes
um afago adequado, um assanho ousado
o próprio despudor, tomado de assalto
e o amor, vestido de salto
A Minha Oração
Me guarde e me proteja, meu Senhor
Me faça um exemplo de fé e amor
E me dê o destino que eu for merecedor
Uma Réstia de Luz
Sou eu nada
Além de um pouco de tudo
Do que você me deixou ser:
Um deserto de horas intermináveis
Somente um pouco de tudo
Do que você me deixou ter:
Sua respiração esquecida e ritmada
No meu peito
De algum tempo
De algum lugar
Eu trouxe uma lasca de tua existência
Comigo
Uma réstia de luz do teu olhar
Um pedaço de tua alma
E agora
Ver-te já não basta
Você se tornou outro sol
E outra lua
E não há amanhecer
Ou entardecer sem a presença tua
Nos Teus Olhos
Nos teus olhos não há inverno
ou outono
ou tom
que não tenha prazer
e lágrimas de morrer
por um anseio secreto
Nos teus olhos é sempre primavera
e há sempre uma vela
acesa
com o desejo à mesa
servido antes do café
com toda a fé
ardente
no que não se entende
Nos teus olhos existem caminhos sem volta
há abismos e precipícios
profundos
de dois mundos
que buscam se encontrar
há minha sede de amar
e teu vício de estar
Amor Próprio
Por vezes caiu e se levantou, renovada.
Foi traída, enganada, subjugada...
Ela não se deixou destruir por nada,
pois por si própria era amada.
Eterno
O amor pode ser doce e sereno
ou intenso e apressado,
mas só um amor perdido se faz eterno,
nos aprisionando no passado.
Domingo Depois do Amor
Já semeei as pequenas mudas de arco-íris
em nosso céu de nuvens férteis e selvagens
Roubei dos vizinhos as roupas dos varais
pra reservar mais espaço aos passarinhos
Tingi minhas palavras de poeta e sonhador
com os odores de um jardim em flor
Também bordei girassóis nos lençóis
pra clarear nossas noites de insônia
Recordei aventuras e inventei estórias
pra tentar adormecer sua alma cansada
As mãos dadas, os pés selados...
o sopro de duas vidas que jamais será tirado
Fitamos o abismo e continuamos a brincar:
nada apagará a ansiosa paixão no olhar
Daqui de Cima
Daqui de cima te vejo com clareza:
ansiedade e desenvoltura.
Você está linda e sorri como uma criança feliz.
Daqui de cima seu olhar parece mais atento,
parece buscar a aventura sem perder o momento,
como os olhos de um predador.
Daqui de cima tudo parece estar em um movimento sincronizado:
tudo se encontra e se despede sem receio ou dor.
Há uma dose de justiça em cada queda
e uma força incansável que faz recomeçar.
Daqui de cima vejo o caminho
e ouço uma doce canção que enternece meu coração.
Daqui de cima até o ataque fatal de um crocodilo é bonito,
assim como é tênue a dor da presa.
Daqui de cima,
sobre a névoa turva que cobria meus ombros e me cegava,
a vida encontra seu lugar através de pequenos gestos
de amor e caridade,
que ecoam como uma prece que se faz em silêncio.
Daqui de cima eu te vejo e te cuido
e te aguardo serenamente,
para beijar sua alma inquieta sem argumento,
no seu tempo.
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