Poesia Harmonia
DO PARAPEITO VITAL
Não sou aquilo que vês...
A couraça que percebes
é o excesso de fragilidade,
que move ou tortura.
Dentro da concha cerrada,
a porta em ferrolhos,
permito frestas que me alimentam.
E o alimento caminha filtrado
no suporte do meu parapeito.
Nele contemplo
o complexo do ser
em solidão e unidade.
Contemplo a comunhão
da beleza e ironia,
da grandeza e mediocridade,
dos rumos e destinos vãos,
do irreversível óbvio pó
e o tão divinal inevitável está
em simplesmente ser.
Em entendimento e devolução
converto o que vejo
em palavras que registro.
Em minha suposta apatia,
passam as coisas, os homens,
os fatos, e deixam cargas e marcas
e a sensação, de ser tudo
simples e infinito.
Não há nada que me exclua
ou me distancie da engrenagem.
Sou partícula num todo
de massa, cinza, éter.
Mesmo deste parapeito inescrutável
(dirás?) e vital feito placenta,
habito um universo em que sou parte
e magicamente sou todo.
VACILO
Não invento mais
nem face, nem volta
nem futuro algum
Estou dentro da roda
viva
remoendo
temas surrados
repetindo
palavras legadas
revendo
gestos vários
vivos
entranhados
e perdidos
na minha própria
invenção de viver
IDENTIDADE
Sensação de outono.
Em que folhas soltas
ao vento se perdem leves,
em total desapego.
É quando me percebo
mais amiúde, transmutada.
Sempre em profusa doação,
me acompanho: adubo da terra,
úmido limbo, absorvido
pelas pedras, sal e lama.
Entregue às estações,
desprendida, aceito o ciclo
da regeneração.
Tudo sentindo, fundo.
E ao sentir, espalho palavras,
assim como as folhas ao vento.
Renovo-me.
Assim sou parte.
DUETO
No teu corpo
rodopiar
um passo novo.
No teu ventre
semear
um claro intento.
No teu ritmo
aprender
um destino incerto.
No teu caminho
cultivar
um fruto do acaso.
Na tua vida
lançar
a minha:
um novo invento
incerto do acaso.
LABAREDAS
De João Batista do Lago
Minha poética ‒ chama eterna que arde! ‒
Movimento são de vívidas labaredas
Inquietas procuram todas as consciências
Seja nos casebres ou salões das nobrezas
É flecha mortífera que fere a destreza
Miserável luz de toda dominação
Capaz da subjugação sobre qualquer néscio
Incapaz de perceber sua escravidão
É bala de ouro matando a servidão
Do fiel encantado pelo vil discurso
Hóstia de fel ofertada como pão
Alimento de toda opressão miserável
Que mascara de toda vida o amargor
Encarcerando o ser na história de dor
O SAL DA MINHA VOZ
Não reconheceram
Minhas palavras como ouro
Ou trigo,
Mas escutem o que digo:
Amanhã se levantará
Um grito
Que tropeçando se arrastou
Por toda a vida
Dentro de mim.
Mesmo o silêncio
Das pedras
Vai murmurar
Escandalosas ideias
Que escondi.
Peço ao mar
Que com o seu sal
E alento
Empreste à voz das sereias
Os poemas
Feitos à minha Deusa.
As camas todas
Rabiscadas por mim
Com o sangue e o gozo
Da minha vida.
Não cicatrize nunca
A ferida.
Meu sangue escorrerá
Sempre pelo mundo
Nas revoluções camponesas.
Na prece
Nos quartinhos de bordéis.
Nos gabinetes
O açoite do meu grito
Vai prosperar.
O sal da minha voz
Tirará lágrimas
De olhos cálidos
E fará brotar o amor
No meio da guerra.
O sal da minha voz
Vai temperar a paz
Entre as Coreias
Esquecidas.
BREGUEDO
A vida sempre é uma canção
notas timbradas a todo momento
ritmos que aos poucos se fazem
em alegres ou tristes lamentos
Minha Alcatraz
Vê-se liberto da vida que se esvai
Fútil é a mentira que vos emana
Do berço da morte aquele que cai
Agora vives, tu não me enganas
Poesia de fogo fátuo que ressalva
Recesso infernal dilacera-te alma
Linha tênue que ninguém o salva
Do sofrer incabível que não acaba
Vinda ingrata da vida que te foges
A mercer de tribunas impiedosas
No surgir do turíbulo teus algozes
Caridade da esperança formosa
Observa em prantos teu sofrer
Apenas sinuosa, a vontade de morrer.
Vendaval
Uma tempestade se aproxima
Com ela um arrepio que lhe alucina
Águas tempestuosas que muito facina
É obra da natureza ou a alma feminina?
Dependente de conceitos sem muito ser
Futil na realidade que não pode entender
Dar-se valor a vida com medo de morrer?
Vive cada segundo esperando padecer..
Não faça com que vás sem te ver partir
A tempestade é forte não tente coibir
Faça dela a defesa mais bonita e deixe ir
Que a tripulação da alma venha emergir
Que suba até a mansidão de seus olhos
Levante a bandeira branca e sossegue
Descansem, e que o amor lhes entregue
Aquilo que os liberta e abre os ferrolhos
Entendam meus caros o que lhes digo
Palavras são amor, e para muitos abrigo
Não compareças se não for meu amigo
Ó tempestade, para onde for, irei contigo.
DIAFANEIDADE
De João Batista do Lago
Essa vontade de potência rege a vida
Transmigrando almas para novas essências
Transgredindo toda a inútil moral servida
Nos banquetes de vetustas inconsciências
Essa moral enfatuada por certo é morte
Da sublime nobreza que sempre te reluz
Deseja enganar-te… quer ser litisconsorte
Oferecer-te a alcova que a tudo reduz
Foge de tão loucas e insensatas promessas
Jamais te deixará alcançar toda virtude
Roubará por certo o vigor da juventude
Corolário supremo de toda verdade
Que te premia a carne-vida desde o princípio
Alma pura retornarás se te cuidares
VIGÉSIMO PRIMEIRO HEXÁSTICO
soma do desconhecimento
alma política diabólica
anjo de guru pederasta
verme que se arrasta em palácios
“até quando, vulgo Catilina,
abusarás da consciência?”
Escolha sempre o silêncio.
Não faça das redes sociais, muro de lamentações.
Dispense a plateia, problemas não precisam de palco.
Pela vida vais andando,
sigo-te e nem me percebes,
sou apenas uma leve sombra
que acompanha teu viver,
porém sou grande o suficiente
para nela descansares
quando o cansaço te abater
VIGÉSIMO SEGUNDO HEXÁSTICO
o que importa a educação… o saber… a cultura?
vencedores desejam o subjugar da ideia
desejam degolar a nação sem paideia
formar a juventude sem qualquer arete
castrar a atitude da ética e da política
daí produzirão em toda nação a desvirtude
VIGÉSIMO TERCEIRO HEXÁSTICO
aprendi a fugir do externo
seara de todos meus infernos
hoje cada vez mais interno
vivo toda lucidez nobre
longe de pensamentos pobres
ilusão de ser auricobre
"sonhe mais,
sonhe sempre,
sonhe grande,
sonhe com a gente
sonhe bonito
sonhe comigo
sonhe calado
um sonho banido."
VIGÉSIMO QUARTO HEXÁSTICO
desejando minha passagem
para todo universal único
tento entender toda mensagem
não sou diverso do universo
tampouco o universo do eu
natureza do mesmo verso
Falando nisso, terminei o livro que você pediu pra eu ler
E só na página 70 entendi você
Naquela parte onde diz que o amor é fogo que arde sem se ver
O Rio
nasce na minha porta
- preenchendo toda aorta -
um rio
de água negra
e fervente
que corre alheio
corta ao meio
e quebra
a paz e jaz
o silêncio
enquanto segue selvagem
o veio pulsante
e febril
transborda a margem
a forte corrente
transpassa a mata
e mata
de repente
deságua em guerra
em um mar calmo
esse rio
- lágrimas da alma -
inundando cada palmo
invadindo a terra
a sala
o peito, a mala
me afogo dia a dia
no rio de minh’alma
Novos Conselhos para uma Vida Riquíssima
Espalhe gratidão enquanto houver amizade
E de ninguém deseje a piedade
Hasteie sua felicidade como uma grande bandeira
E diga a verdade de qualquer maneira
Distribua sua gargalhada entre os boçais
E tire para dançar os anormais
Tenha desprendimento pelo material
E leve sua cama para o quintal
Seja amor enquanto todos são razão
E aos sentimentos saiba dar vazão
Mostre o que vai além do espelho
E não se torne um jovem velho
Da arrogância não vista a fantasia
E não fique à sombra de uma relação vazia
Abrace seus sonhos com determinação
E enxergue com os olhos do coração
Seja como a chuva em um chão que agoniza
Faça brotar vida que você se eterniza
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