Poesia do Carlos Drumond - Queijo com Goiabada
Uma pedra
A janela do tempo chamou
a atenção da vida...
que aos poucos estava indo.
À beira do riacho, pensativa,
queria dizer qualquer coisa,
contar
que a menina que havia,
e que corria depois pelos caminhos,
sorrindo, quando as flores azuis
pequeninas colhia...
e as amava,
elas lhe causava estranha alegria,
porém a menina, não estava mais.
A descoberta aconteceu
no descer as escadas da casa,
no topo da serra, por onde
destemida atravessava o riacho,
envolvia-se com o barulho
das fontes, incessante feito
os pensamentos que ferviam.
De fundo, o verde.
Inconfundível, chamando,
cantava o sabiá-laranjeira...
ela escutava,
entre outros cantos.
De volta à realidade,
sentia a brisa
refrescante, sob o sol brando.
Pés de caminho livre, pedras variadas
de cores, algumas delas
escorregadias por força do limo.
Um sonho fugindo,
sequer aparecia.
O encanto era só da natureza,
e não da sua alma,
por dentro morriam as fantasias.
Precisava voltar para um lugar
que já não era refúgio,
enfrentaria o evidente agora!
Sem lágrimas ou desgostos,
sem desejos de nada mais percorrer...
De nada mais precisava e,
sem pedras nas mãos, delas
apenas uma, e precisava,
para pôr no lugar do coração,
aos poucos estava à morrer.
Passarinhos
O meu olhar que neles se prende,
sem qualquer pressa,
enquanto eles voam... e cantam,
livres, lindos e inocentes, embalam
o meu existir...
nem sabem de mim, se soubessem
mais e mais sei me cantariam, e
não sabem o quanto me encantam.
Passarinhos,
que tanto amo! Foi sempre assim.
Mais que poesia, de sonho delicado,
passarinhos... dá força à vida!
Não é pelas cores de suas asas,
ou pelo seu canto animador,
talvez, suas agilidades e leveza.
Nada de mais lindo há na natureza.
É a sua própria existência, pousar
de leve, trazendo demasiado jeito
de me fazer sonhar,
atração de alma, esse amor por
passarinhos soltos pelos ares,
que junto me faz flutuar!
Não é só pelas suas cores, não é
por vontade de tê-los, jamais
querer prendê-los, a não ser pelo
meu olhar que os segue, e voa
em suas asinhas aos ventos, ouve
os seus cantos, gritos, sem se cansar.
Dando movimento à minha vida,
e as suas vidas, me traz um mais que doce
inspirar.
Não é paixão
Quando eu senti o amor invadindo minha alma,
foi uma sensação que muito estranhei, pensei
que fosse um tanto de agonia e de loucura, uma
incansável e agradável sensação... remexendo
as minhas atitudes, fazendo pulsar mais forte
o coração, não foi e nunca será paixão, é amor.
Não fui
Não fui porque tive um dia ruim,
quando penso em ir, antes analiso
a minha alma, pergunto primeiro
a ela se devo atender a vontade
do meu corpo, da minha mente...
Antes indago se ela irá permitir.
Não fui ontem, hoje também sei
que não irei, talvez eu vá amanhã,
vai depender da minha alma,
nela, o comando da minha vida...
Somente ela sabe se fica ou quer
partir. Foi e sempre será assim.
Peregrina
Não dá... não dá para dizer tudo o que se pensa,
pensar às vezes espreme a alma, uma vez alma
espremida, os caminhos se confundem, estranha
é a passagem, duma alma só, e triste pela vida...
andar a esmo, sem vontade de nada, sem lugar
algum para pousar, faz calar por dentro... muitas
coisas que a alma precisa para sempre guardar.
Fechar a boca, fechar os olhos, tapar os ouvidos,
colocar todos os sonhos no arquivo morto, abrir
mão de tudo, se perder... por esse mundo louco,
sendo mais louca ainda, a alma, mar do sufoco.
Sou a flor perdida, borboleta solitária, assistindo
consciente que aqui tudo se esvai, junto a alegria,
a esperança, o que resta por dentro é um mundo
de ilusão perdida, que da alma nunca sai.
Falta
Enquanto é noite, o mar se esconde,
alguns passos reaprendem, trilham
os mesmos caminhos... levando a lugar
nenhum um desejo,e vai... com atenção
nos tantos esquecidos detalhes... seus.
Uma falta que falta.
Falta o riso, o olhar, a graça,
o pronunciar o amor com alegria.
Presa à alma, restos de poesia.
Ainda,algumas palavras habitam
lá dentro...
outras se perdem sem eco, a doçura
aos poucos vai amargando, noites
e noites, nada bem vindas, torturando
os pensamentos.
Tristonhavem outra madrugada,
sonhos solitáriosvão sumindo, descendo feito chuva
banhada em lágrimas pelas calçadas.
O mar noturno queria ser, para assim ficar
invisível, ao menos nas noitesque já não posso
sequer sonhar com você.
Quando pede não me deixe,
nem sabe que mexe comigo.
Peço
Não se importe quando eu for,
não acredito mais no amor...
sejamos somente amigos.
Faz tempo que vivo sozinha...
No verão sou feito os ventos
que vagam por aí sem rumo,
de dia sou andarilha, final de tarde
sou àquela velha andorinha.
Voando só, ao relento sem ninho.
Um lugar
Caminhei tanto por essa vida, aprendendo tantas lições, com passos certos, determinados, pulando alguns erros, distribuindo ilusões, numa falsa alegria, sem contar dos meus medos, ser feliz, queria, calei alguns segredos... lugar
perfeito nunca existiu, fiquei fantasiando, esse lugar, sempre buscando...
Um lugar de encantos, de sonhos e de esperança, de muitas realizações, de presente... sem tristes lembranças. Um lugar onde me coubesse por inteira, sem invasão, sem constrangimentos, que mesmo sem existir o amor, fosse necessário, que não fosse escuro... Um lugarzinho especial chamado futuro!
Aqui chegando com tudo isso aqui, me deparei, não sei se por prêmio ou por castigo, nem sinto euforia ou decepção, os medos se foram, a esperança, creio, estagnou, das lições aos poucos vou esquecendo, desaprendendo, o futuro é um lugar frio e silencioso, chamado solidão, e desamor.
Autora:
do Livro Luar de Vidro
Escrevo no site:
Recanto das Letras
25.05.2025
Um olhar
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A viagem que a vida impõe ao nosso tempo
deixa tantas marcas em nossa alma que se prende
que não quer encerrar alguns ciclos onde neles
já não nos inserimos...
Quero viver alguma coisa que me impulsione
assim vou tentando empurrar a minha alma, para
que ela consiga descer de seus voos em busca
do impossível, e enxergue como me sinto...
Ela está presa ao que trouxe tanta felicidade
trouxe esperança, poesia e esse sentir que deixa
o amor, o que ela não sabe é que o infinito está
marcado para sempre, mas a vida pede caminhos,
a vida quer passar, quer lançar um olhar diferente
seguir amando e se conformar.
_ Liduina do Nascimento
Eis-me entre homens, meu irmão,
na angústia e na dor de saber da finitude —
e da inutilidade da vida
quando o assunto é a eternidade.
Amo e odeio essa possibilidade.
Convivo entre homens que, embora tente compreender,
enxergo como fracos:
almas perdidas no labirinto da consciência da morte.
Cegos guiando cegos,
todos buscam entender o que não é possível,
e acima de tudo, tentam encontrar sentido
naquilo que apenas repetem —
como se a crença, por si, salvasse.
Às vezes penso: talvez sejam como eu,
alguém que aprendeu a repetir os erros ancestrais —
a ilusão da crença
de que há algum sentido na morte do homem.
Sobretudo depois de se conhecer a sentença:
“Tu és pó, e ao pó voltarás.”
Me solidarizo com esses homens.
Mas, ao contrário deles,
na maior parte do tempo,
eu nego qualquer sentido ao universo.
Rejeito qualquer ideia cósmica ou estoica de metafísica —
seja a da alma imortal,
seja a da carne eterna,
ou da saturação de algum prazer físico.
Tudo é em vão.
Seguimos como ovelhas para o abate,
e todas as crenças desabam
quando a razão nos assalta,
como um raio que, vez por outra,
ilumina demais.
Infelizmente, o dinheiro não ajuda com o que mais desejo na vida: compreender este mundo. Ele compra livros, experiências, até algum tempo... mas não me dá respostas. E quanto mais vejo, mais confuso tudo parece. As coisas se repetem, os erros se acumulam, e as certezas se dissolvem diante do caos disfarçado de rotina.
Talvez o erro esteja justamente em esperar sentido de algo que nunca prometeu lógica. O mundo não se organiza para agradar nossa compreensão. Ele apenas é. A natureza segue, indiferente. A dor acontece, com ou sem motivo. O amor chega e vai, sem roteiro. O mundo não se curva à nossa busca por sentido.
Mas mesmo assim, eu não consigo apenas aceitar. Não sei viver na superfície. Sinto que preciso ir além, aprofundar, mergulhar mesmo sem saber se há fundo. Porque há um tipo de alma que não se satisfaz com o raso, que precisa tocar o enigma, mesmo que isso custe paz.
Talvez eu nunca compreenda. Mas ainda assim, eu preciso tentar.
Sobre crescer e sobreviver
Se desejamos crescer, é preciso romper barreiras.
Não há como florescer na inércia.
Não se cresce abraçado ao vitimismo, nem ancorado na conformidade.
E, sobretudo, não se cresce com medo.
Medo de desagradar, de falhar, de ser mal interpretado —
o medo de não caber na expectativa alheia é uma prisão disfarçada de prudência.
Li, certa vez, que especialistas recomendam um exercício simples, mas profundo:
escrever o que se pensa.
Colocar no papel a imagem de quem queremos nos tornar.
Construir-se em tempo real, com palavras como tijolos e sangue como argamassa.
Eu fiz isso. A vida inteira.
Construi um império de sonho.
Mais de 40 livros.
Cada um deles foi uma escada plantada no escuro.
Sem eles, talvez eu fosse um anônimo completo —
um homem comum, apagado por dentro.
Mas é importante dizer: isso, por si só, não significa sucesso.
Não falo de vitórias públicas.
Falo de sobrevivência.
Escrever foi meu modo de não desaparecer.
Foi minha maneira de resistir ao apagamento interior que ameaça todos os que sentem demais.
Transformei em palavra aquilo que o mundo tentava silenciar em mim.
E isso, por mais que não me tenha dado aplausos ou riqueza, me deu algo ainda mais raro:
consistência.
Confissão de um artista incompreendido
Eu só sou artista quando escrevo.
Tocar, cantar — tudo isso, por mais que me habite, me degrada. Há um processo silencioso de deterioração da minha alma artística quando tento me expressar fora da palavra. Como se algo se perdesse no ar. Como se aquilo que eu sou, no fundo, não coubesse no gesto ou na voz.
Minhas melodias? Eu as crio em catarse. Elas nascem do abismo, do indizível, mas raramente alcançam quem ouve. Alguns me dizem, com um sorriso breve: “muito legal.” Outros me parabenizam — por educação, talvez. Mas eu percebo. Eu sei. A língua que falo, com minha arte, não chega audível aos seus ouvidos.
Eles não escutam o que eu ofereço. Escutam outra coisa. Um som qualquer. Um ruído bonito, talvez. Mas não escutam eu.
É por isso que, quando escrevo, me sinto inteiro. Porque sei que um — um só já basta — um leitor, em qualquer tempo, há de entender. Há de perceber. Há de aprender a língua secreta do meu ditirambo. Porque a palavra escrita não exige pressa, não pede aprovação imediata. Ela se deixa ler por quem for capaz de ouvir o silêncio entre as sílabas.
E é ali, nesse instante invisível, que eu sou artista por inteiro.
A Visão de Sofia
Era ela.
Sofia…
Surgiu como uma aparição entre os sinos e os cascos.
A carruagem era dourada, mas ela… ela flutuava.
Seus olhos não pousaram sobre mim —
estavam além do mundo.
Ela voava, sim. Eu juro.
Saltou da carruagem como quem desfaz a matéria.
Não tocava o chão.
Era um anjo?
Era uma ave?
Era a Espanha inteira me chamando ao trono?
…Ou apenas o amor que nunca tive, me despindo de toda razão?
Eu gritei seu nome. Mas minha voz era vento.
Os cavalos corriam.
Os criados riam.
E ela — Sofia! — atravessava o ar como uma promessa que nunca se cumpre.
Ela me viu?
Ela sabia?
Ou fui apenas mais um vulto aos seus pés de nuvem?
…Meus pés, sim, ainda estavam na lama.
Mas a alma… a alma já era pássaro.
“Uma coisa é certa em nossos corações, nada acontecerá que Deus não tenha decidido.”
Ministério Resgate
Unção e Legado
Por todo este tempo, eu vivi... respirei, caminhei, cumpri os dias como quem atravessa paisagens sem se deter nelas. Estive presente, mas não inteiro. Fiz o que se esperava, sorri quando era preciso, calei o que gritava por dentro. E, ainda assim, algo sempre faltava.
Agora entendo: eu vivi, sim… mas nunca tive uma vida que fosse verdadeiramente minha. Nunca abracei meus próprios desejos sem medo. Nunca me permiti ser, apenas ser, sem me moldar ao olhar dos outros.
Talvez, só agora, ao reconhecer essa ausência, eu comece a construir o que é meu... um caminho onde viver não seja apenas existir, mas pertencer a mim mesmo. E nisso, finalmente, pode nascer uma vida.
Escrever, hoje em dia, é um ato de resistência contra a insanidade coletiva que nos domestica, que nos embrutece, que nos impede de perceber a dor do outro. Vivemos num mundo de intolerância, de verdades absolutas, onde quem duvida morre. Na escrita, há uma brecha. Uma fresta de lucidez. Um instante de verdade.
Ali, diante da página, o poeta — como um semideus — nos apresenta a beleza honesta da dor. Ele nos representa como somos: seres humanos. Falhos, imperfeitos, mas humanos. E durante o tempo da leitura, sem nenhuma distração, sem nenhum pensamento alheio, nos conectamos com quem somos. Com nossa essência. E ao perceber isso, algo se transforma.
Porque há uma catarse que acontece. Às vezes sutil, às vezes brutal. Mas acontece. Saímos da leitura mexidos, acordados. Descobrimos a força incrível que é ser humano. O poder que temos em mãos. A capacidade de sonhar — mesmo com tudo em ruínas.
A pergunta é: o que vamos fazer com isso? Vamos tentar mudar o mundo, ou voltar à realidade mórbida, fingindo que nada foi dito? A poesia nos entrega uma verdade. E a verdade, uma vez vista, não pode mais ser ignorada.
Dizem que falar ou escrever
nos ajuda a pôr os problemas para fora, nos deixa mais leves...
Mas, e quando relembrar te faz sentir doer?
Falar ou escrever nos levará a reviver tudo novamente.
A dor passada não foi o suficiente?
Teremos que passar por tudo de novo, como que uma vez apenas fosse pouco? É algum tipo de castigo, tipo aqueles que fazíamos no passado em sala de aula, onde a professora nos sentenciava a escrever poŕ cem vezes: Não devo me levantar, sem que antes, peça a autorização da professora? Ou então, quando íamos nos confessar e o padre nos penitenciava a rezar vinte Ave Maria e trinta Pai Nosso?
Há dores que entram em estado de hibernação. Tentam se fazer de "amigas", te enganam, subornam e encontram moradia. Algumas, fazemos questão de cativá-las; nos faz sentir bem nos fazermos de vítimas para chamar um pouco mais de atenção para o inflar do nosso egocentrismo. Dores, amores, dissabores... Quais destas têm te feito cativo? Para que lado tens olhado? Qual ajuda tens buscado? Quais tipos de mudanças tens estado disposto a fazer para deixar de carregar esse julgo? Mantê-la em modo de hibernação não te ajudará em nada. Ela sempre estará alí. Precisamos nos perdoar, jogar fora essa bagagem, que por ora, nos faz sentir o centro das atenções. Não é isso que queremos. O que queremos é a libertação desse sofrimento. Para esta liberação, precisamos do nosso próprio perdão e desapego. Desapegar pode ser nossa única via a ser tomada. Percorra por esta via e se desprenda. Sinta-se mais leve, menos sobrecarregado e se disponha a errar e se refazer quantas vezes forem necessárias!
vts
LABIRINTO
Andei sem rota,
batendo na porta
que não se abria.
Meu medo sumiu.
Perdi a razão.
Neguei ao oráculo
meu sangue e perdão.
A musa Ariadne
se esqueceu de mim.
Não veio ao encontro
marcado no fim —
no fim da viagem,
da tola miragem
que venderam pra mim.
Eu sei que estou
perdido no caos,
no vácuo do mundo,
sem paz ou redenção.
Sou homem, sou tolo,
vestido de púrpura,
coroa de espinho,
ferida divina,
forjada do barro
que volta ao chão.
💡 Mudanças reais começam com uma boa ideia — repetida com consistência.
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