Poesia do Carlos Drumond - Queijo com Goiabada

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A saudade está impressa
Nas lembranças do mar
A vida com a sua pressa
As levou do meu sonhar

As trouxe cá pro cerrado
Estribou no galho torto
O fado pelo fado versado
Fazendo aqui de meu porto

Luciano Spagnol

Coração de renda

Nos sonhos me perdi
Aqui no cerrado goiano
Como pás de moenda
Britei sertão e oceano
Da sorte tive oferenda
Do destino está opção
Se a solidão abriu fenda
O amor coseu emoção
Num coração de renda

Abraço

Dos gestos o mais lido é o abraço
Envolvem a alma em laço
Tem amarração e proteção
Embrulha o corpo de carinho
Nos braços tecem o ninho
Do bem querer, do bem receber
De coração a coração, afeto no viver!

Luciano Spagnol

Dualidade

Oh fado, oh cerrado!
Chorei nostalgias calado

Tortuosa em ti a emoção
Trouxeste comitiva e solidão

Terei lembrança toda vez
Ao ver secura, ver nudez
Dos campos e sua rudez

Ah! Como conter o desejo
E o displicente lampejo
Do ávido adeus, sem pejo
Apenas sonhado despejo!

Oh fado, oh cerrado!
Encantado e desencantado
Magia de mato encurvado
Em ti sou dualidade, atado

Quando eu me for, enfim
Num novo início ou no fim
Terei e não terei saudades, sim...

Oh fado, oh cerrado!

Luciano Spagnol

Tristura

Eu estava a chorar
E na tristura e lágrimas
Pus a alma a pensar
Das angústias e lástimas
E nesta sumarenta dor
Escorrendo em desestimas
O que me alentou foi o amor

Luciano Spagnol

Manifesto

Então soletre-me atentamente
Cada letra o som do meu olhar
Leia-me e guarde mentalmente
Estes versos que querem amar
Por eles os faço solenemente

Luciano Spagnol

Fugaz

Quero o ar do imaginário
Me perdendo na melodia
Quero todo o vocabulário
Das rimas sem melancolia
Que tudo não seja breve
A hora só traga hegemonia
Que a noite e o silêncio seja leve
Quero todo o tempo na poesia
Onde minha alma fique alqueve
Pra cantar-te beijar-te amar-te, ao meu coração alforria.

Tudo é fugaz, a vida mais fugaz ainda... Breve!

Luciano Spagnol

Refundir

Respiro os sonhos, acordado
As dores são suspiros
Inflados no peito, chorado
Que na alma criam giros
Da vida aos quais se é laçado
Criando loucuras e estupidez
Quando vale a pena é ser amado
Mergulhar nesta sensatez...
Se o fato está desgovernado
Refunde como se fosse a primeira vez
Resgatando o bem e a harmonia
Sem nenhuma escassez
Na emoção criando sabedoria
E no amor solidez...

Luciano Spagnol

beijo

beijo inocente
beijo roubado
adolecente
enamorado

beijoca, beijinho
fraternidade
fração do carinho
beijo de amizade

amigo,
doce abrigo

beijo,beijos,beijo
de despedida
lágrimas e cortejo
alma partida

beijo traíra
enganador
beijo cuíra
estertor

beijo
beijemos
gracejo
apaixonemos
desejo

bom mesmo é beijar!

um beijo, mil beijos
afeto, carinho
ensejo
de amor
beijos!

Luciano Spagnol

Páscoa...

Renascer... Germinar o coração
Na esperança a renovação
No amor a reflexão...
Que possamos olhar os aflitos
O que tem dor em seus gritos
Que pede socorro, o miserável
O faminto, o de pouca fé inaliável
Esquecidos da fidelidade de Deus
Nos embustes de nosso viver
(O Pai!) Não nos deixe esquecer
Do Teu sacrifício
Em nossa omissão
Preterição...
Pois não existe artifício
Que não o único caminho
A única verdade, o único amor
A Trindade, nosso paterno protetor
Que venha ao nosso encontro
Pra tornarmos mais solidários
Menos egoístas, menos solitários
Nesta nossa vida penitente
De sobressaltos presente
Ofertando carinho, afago
Sorriso fiel e largo, e assim trazer:
Vós conosco em verdade
Em luz no nosso viver
Não importando o quão é difícil
Se muito, agradecendo o pouco
Se pouco, partilhando o muito
Para gozarmos juntos à felicidade
Perpetuando a alma na eternidade
Oh Senhor! Nosso louvor!
Derrame em nós a dádiva que perdoa
Inundando com Sua afeição que povoa
O nosso espírito....
Feliz Páscoa!

Luciano Spagnol

Nada mais tentador que maçã do amor
Com canela tem cheiro de beijo
Sedução
Eterno fruto da paixão

Na noite solitário já chorei
Naquela música emocionei

Na solidão eu já fui peão
Da dor eu fui escravidão

Tentei no vasto e no pouco
Odiei um momento ou outro

Já fui magoado e magoei
Amei, fui amado, e não amei...

"Somos tudo num só e nada num todo
O bem e mau que inquieta e acalma
Sacudindo o agitado silêncio da alma."

SONETO DO AMADOR

Amador é o desejo do ser amado
Vive desejando mil formas pra achar
Se no amor não tem o que imaginar
Pois é virtude no ato de ser desejado

Se nele se tem o ser transformado
Onde mais o amador quer desejar?
Pois só assim o bem irá conquistar
E o afeto na alma então será liado

Mas se pouco for o desejo no olhar
Pouco o amador terá encontrado
Aí por ele, o amor, então vai passar

Se ao amador o amor é cobiçado
Então deixe o amor lhe alcançar
Pois o verbo dum amador é amar

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano

POEMA PARA UM BOM DIA

Um novo dia vai se formando
É o raiar do sol num novo amanhecer
Que a gratidão e alegria estejam no comando
Pois é a vida nos convidando pra viver...

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

NA PELE DO CERRADO (soneto)

Pulsa mais do que se pode ouvir
Vário mais do que deve imaginar
Mas, não se pode nele se banhar
Sem nele o teu chão os pés sentir

Aqui, pois, o céu é do azul do mar
Teu horizonte na vastidão a reluzir
Num encarnado que nós faz ouvir
Tons no vento no buriti a ressonar

O contraste é somente pra iludir
Hibernando e, encantado o olhar
No árido inverno dos ipês a florir

Num espetáculo que vai embalar
Do marrom ao virente a se colorir
Pele do cerrado, agridoce poetar

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano

DRAMA (soneto)

Quando é que o afeto meu terá encontrado
a sorte duma companhia pra se apresentar?
Quando é que na narração poderei conjugar
Assim, despertarei de então estar deslocado

Se sei ou não sei, só sei que eu sei atuar
E se eu estarei ou terei ou se está iletrado
É impossível de inspirar, o ato está calado
Pois, o silêncio discursa sem representar

O aplauso alheio pulsa, mas de que lado?
Na cena a ilusão é expulsa e, põe a chorar
Impossível imaginar atuar sem ser amado

E este drama sem teatro, e ator sem teu lar
De comédia trágica, no peito, então atuado
É amor e fado, no palco, querendo ser par!

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano

O SOL

Para que curvaste
no beiral da ventana
e pelo chão se arraste?
É por seres luz soberana
querendo luzir meu verso?

O meu poetar está sem gana
A alegria na alegria submerso
E estou quieto, de carraspana

Deixe-me a sós, no breu inconfesso
Fica-te por aí na ilusão mundana...

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano

SONETO VELOZ

Da varanda vi a meninada jogando bola
No vizinho a moda de viola ia distante
Tornando o meu pensamento pensante
Que a vida é levada numa veloz padiola

Ao sentir que o tempo na hora é dante
E um ilusionista estradeiro e sem sola
E que não nos espera em sua charola
Me vi diante duma saudade palpitante

Lembrei o primeiro amor, a juventude
As fotos amareladas, agora no ataúde
Dum passado, tão forasteiro de heróis

Fiquei com a recordação ali amiúde
Com os argumentos tão sem atitude
E que tanta coisa ficou para depois...

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Cerrado goiano
Mineiro do cerrado

RETRATO ANTIGO

Quem é esta, amarelada
com este olhar distante
que me olha camarada
pra minha saudade dante?

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro de 2017
Cerrado goiano
Paráfrase Helena Kolody