Poesia do Carlos Drumond - Queijo com Goiabada
Ahoy!
Quando se encorajou, uma rota traçou...
zarpou solitário!
Na bagagem levou os sonhos que sonhou...
seguiu obstinado!
Enfrentou o próprio medo ao velar contratempos...
viveu maus bocados!
Como a flecha que encara os ventos
contrários ao deixar o arco.
Seu querer coordenou; foi desbravando o mundo...
ele era sábio!
Enquanto navegou, nunca perdeu seu rumo...
se achava no abraço!
Apago, Reescrevo
Ergo o rosto, encaro o espelho.
Estranho reflexo:
olhos gastos de silêncio,
boca árida de palavras,
nariz vermelho de cansaço.
Mas...
não é assim que me enxergo.
De novo,
me aproximo, me olho no espelho.
Curioso retrato:
um homem de terno e brilho,
bolsos cheios,
passos firmes,
destino herdado.
Ah…
quem me dera ter nascido herdeiro.
Mais uma vez.
Me ergo.
Me busco no espelho.
E me pergunto, em silêncio:
quem sou, quando ninguém está olhando?
DNA
Optar por ser ausente de algumas ocasiões faz parte da vida. Optar pela firmeza dos princípios — isso não devemos abrir mão. Enquanto muitos atropelam a ética pela ótica momentânea, eu resgato o que é essencial: o caráter como pilar e o respeito como pústula. E deixo no meu DNA que vencer é questão de postura.
Hábito
O seu foco é sagrado
não deixe nada lhe desanimar,
fortaleça seu alicerce
que a estrutura deus levantará,
focado no seu futuro
crie o hábito de se perguntar,
se o que está em sua volta
veio de fato pra somar,
se a resposta for sim
não se culpe por pô um fim
no que só te fazia lhe atrasar.
A vida é mãe severa
O mundo é uma escola
onde se aprende pra ensinar,
a vida é mãe severa
que costuma castigar,
ela traz, leva de volta
te dar poder, lhe tira de rota
pra que você possa enxergar,
que é preciso ser coerente
que antes de ser semente
você precisa semear.
Gratidão
Agradeça o que você tem
olhe em volta e observe,
que a gratidão é essencial
pra tornar a vida mais leve,
nos faz apreciar com leveza
e valorizar com clareza
as pessoas que nos serve.
Ecos da Metamorfose: Mente em Guerra
Estou em constante movimento, Energia se dissipando no primeiro pensamento. Não me sinto presente neste momento, Consciente da falta de argumento. Certezas vagueiam como o vento, Se tratando de não saber, eu tenho talento.
Passagem paga para o vazio, Já estou no assento. Senti demais, meu coração é turbulento. Se o universo é pacífico, eu sou violento. Humanidade acelerada, Eu me sinto lento. Se o pior acontecer, Não estarei atento.
Entrei na manada, Pelo prazer estou sedento. Entreguei minha alma, Não tenho comprometimento. Estou lúcido, Ou estou mais próximo da loucura e do estranhamento? Meu corpo é saudável, Meu cérebro é pestilento. Se estou lúcido, Por que estou sonolento?
Sofri por saber demais, Vale a pena ter discernimento? Num mundo de baixa moral, Onde está o empoderamento? Me sinto abandonado, Igual ao chão sem pavimento. Se eu nasci livre, Por que me falta entendimento?
Um misto de emoções e sentimentos, A existência de consequências sem adventos. Se a perfeição é construída inteira e completa, Todos fazem cisalhamento. Meu chefe é a vida, E eu imploro por adiantamento.
E no fim, Só faço parte dos elementos. Quando se trata de mim, Não sei o funcionamento. Entre conexões rasas e distantes, Perdi o pareamento. Percebi a minha falta de pertencimento, E me sobrou apenas o amadurecimento.
Será que a felicidade e a tristeza Estão em consentimento? Será que da minha liberdade Eu estou isento? Ou não faz sentido escrever tudo isso, E eu deva sentir apenas arrependimento?
Seria tão simples Só comer, dormir e fugir do tormento, Mas tenho consciência De que preciso de um complemento. Me iludindo por achar que sou íntegro, Mas preciso de um desentranhamento.
Só queria Da minha vida ter um bom gerenciamento. Será que tenho talento?
O Êxtase de um Novo Tempo
Viver… Ah, viver o melhor momento da existência!
Seja no pomar, sob a sombra generosa das árvores frutíferas,
Ao som melodioso do chilrear dos pássaros,
Que, em coro, anunciam a beleza do dia que nasce.
É o bucolismo romântico que se derrama em cada canto,
Onde a natureza veste-se de festa para celebrar a vida,
E o êxtase profundo floresce como perfume invisível no ar,
Sussurrando aos corações atentos:
“Este é o jardim da vida… um altar de recomeços… um novo tempo que desponta.”
Aqui, cada instante é uma poesia viva,
Cada sopro de vento é uma oração,
E cada raio de sol é um convite irrecusável
Para sentir, agradecer e simplesmente… viver!
Índole
Nessa minha caminhada, venho buscando seguir firme! Sem tropeçar no ego e sem me apressar diante de aplausos. Minha índole é o meu caráter; sem ironia, eu defendo com coragem aquilo que eu acredito. Sou falho, mas tento seguir com maestria, sem me curvar diante das críticas.
Me encontro no quarto turbulento,
sempre na cama, olhando o teto,
perdido no passado — que insiste,
presente em mim a todo momento.
Na minha solidão repetida,
quase igual, mas sempre distinta,
ecoam sensações antigas
de um abandono sem partida —
sem ninguém que me deixasse,
e mesmo assim, ferida aberta.
Hoje, tenho quem me ouça,
quem responde minhas perguntas,
mas me faltam os assuntos
num mundo caótico e mudo,
que conheço por telas vazias.
Me perco em silêncio concreto,
num quarto quieto demais,
onde minha solidão tem metas —
incompletas, desfocadas,
tão perto… porém distantes
o bastante pra me cegar.
Eu que tanto me sacrifiquei por você,
Esta noite, te mato nos pensamentos.
Eu que tanto fiz,
E agora tanto faz.
Te enterro com os sonhos que tivemos,
E você morre com as promessas que fez.
Não, o problema não sou eu,
E você.
As memórias se desvanecem na escuridão,
E cada lembrança se torna um peso a menos.
Hoje, fecho os olhos e deixo partir
A sombra que você deixou em mim.
Adeus as ilusões que construímos,
Às esperanças que se tornaram poeira.
Você não é mais meu fardo,
E eu sou finalmente livre dessa espera.
Na previsão do tempo
Falou de chuva forte,
Saí de casa preparado
Mas, você me pegou de surpresa
Chegando em minha vida
Como uma garoa ao amanhecer.
Palavras dormentes.
Línguas ferventes.
Da mesma boca, maldição!
Da mesma fala, benção!
Eu grito contras as vozes na minha mente
Desejam meu mal de forma intransigente,
Perdido com pensamentos intrusivos
São tão abusivos,
Não posso deixar me dominar
Preciso parar de pensar
Não posso sucumbir
Preciso escrever para me distrair.
Coro das Sombras
Meu suspiro ergue-se como bruma sobre o berço daquele que parte.
Filho da dor, fruto do meu sangue,
ainda lutarás contra o fio que já foi cortado.
Volta, olhos que um dia foram estrelas nos meus,
Volta ao ventre que não dorme —
pois não há sono para quem viu o abismo abrir-se em flor.
Num dia qualquer
Se você quiser
A gente toma um café
Se estiver agradável a maré
Ter uma boa conversa
Uma história reversa
Com um final feliz.
Não Seja Um Artista
Ei, me escute: não seja um artista.
Ser artista é como ser alma num mundo de pedras quadradas.
Como ser cor num mundo que se tinge
com uma pálida gradação de cinza.
É como ser uma pintura infinita para molduras pré-fabricadas,
padronizadas, quadradas e duras.
Ser artista é cantar para surdos, pintar para cegos
e escrever poesias num idioma já extinto.
É como se manter dançando de olhos fechados
em meio a um desfile militar organizado em filas perfeitas
ao compasso frio e forte das botas que marcham.
Ser artista é se negar a seguir a receita para ser aceito,
não pela aceitação em si,
mas por ver o Sagrado através das suas próprias medidas.
Ser artista é resistir à tentação de ser medíocre.
É ter a Coragem de viver sem nenhum tipo de anestésico.
É suportar a dor para saber onde dói.
Suportar até transformá-la em Arte.
É escolher sentir o que se tem
na tentativa de um dia se ter flores.
Ser artista é ter esperança
num mundo que só tem certezas.
Então não seja um artista.
A não ser que sua alma não aceite outra coisa
que não a Arte.
Não seja um artista,
a não ser que seu coração bata acreditando que
um dia o surdo vai conseguir ouvir o seu canto,
que o cego poderá perceber as nuances das suas pinceladas
e que o idioma das poesias será novamente celebrado.
Não seja um artista,
a não ser que sua música soe mais alto
que o barulho de mil botas batendo
e que em suas formas tão singulares
o Sagrado se manifeste.
Definitivamente não seja um artista,
a não ser que as únicas flores que você espera na vida
sejam suas próprias dores transformadas.
Com a palavra,
Alice Coragem.
Resistência
Como vai você?
Eu?
Eu estou.
Me perdendo e me achando.
Mas estou.
Sobrevivendo e resistindo.
...
Talvez este seja o problema:
Resistir.
Melhor seria eu me render.
...
Hein?
Quando foi que nos ensinaram a resistir?
Você lembra?
Quando que entendemos isso como uma qualidade?
...
"Seja resistente na vida" diz o mundo.
Mas, por definição, resistência
'refere-se à capacidade de oposição à algo, de ser firme, de suportar as dificuldades e,’
Atenção:
'refere-se à recusa em ceder'.
...
Que lição estranha recebemos.
Pois ter a 'qualidade' de ser resistente na vida
Significa ter a capacidade de ser oposição à ela,
De não deixar que ela nos atinja.
De não deixar que ela nos toque.
...
Eu não quero ser firme.
Eu quero ser fluida.
Quero que, ao ser tocada pela vida,
Eu me molde.
Quero ser senhor das formas,
Não escravo delas.
...
Já as dificuldades não servem para serem suportadas.
Servem para serem superadas.
Suportar é passar por elas e sair ilesa.
Superar é passar por elas até sair mais forte.
Suportar é aguentar.
Superar é vencer.
...
E a recusa em ceder, da última parte?
Deus me livre não ceder.
Deus me livre ficar lutando com o coração endurecido,
E não me render ao aprendizado,
Ao crescimento.
...
A vida não foi feita para ser resistida.
Ela foi feita para ser experimentada, experienciada.
Não gaste vida sendo resistência ao que te toca.
Quem resiste, sobrevive.
Quem se rende, flui no voo da vida.
E se resistência é ser oposição à vida,
Resistência, na verdade, é morte.
Com a palavra,
Alice Coragem.
Espelho
A vida é sobre refletir.
E refletir é sobre se ver.
Sobre olhar seu reflexo e refletir de volta refletindo sobre sua reflexão.
Quem largar esse ciclo primeiro, morre.
E morte em vida é a pior que há.
Mas o morto não sabe disso...
Ele não reflete.
Com a palavra,
Alice Coragem.
Deixa o céu te ver
Quando nada mais te fizer sentido,
sai.
Senta lá no vento.
Se permite o silêncio.
Se ele não te sussurrar uma resposta,
pelo menos o Sol já te enxugou as lágrimas.
Com a palavra,
Alice Coragem.
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