Poesia do Carlos Drumond - Queijo com Goiabada
Cadê as minhas asas?
Uma morte que me dilacera em
Cortes pequenos do meu sol desfalecido;
Como uma rua deserta que me circula,
A única porta sou eu,
Sentada à minha espera.
Frágeis janelas que abrem e sempre fecham.
Preciso dos pássaros
Para voarmos juntos,
Hoje eu não quero o chão.
(Suzete Brainer do Livro: Trago folhas por dentro do silêncio que me acende)
O Som do meu Violino
Marcas petrificadas
que evocam fantasmas
de um tempo perdido
(enterrado),
que anuncia a música da renovação.
Assim, toco a minha música
sem a tal mágoa;
transfigurada ao som do meu violino
libertador e divino.
Sim, a música silencia as dores
recolhidas nas asas feridas,
e cada nota sublime
harmoniza o impulso para o voo.
Fico ao Som do Meu Violino.
Ao som do meu violino fico
E a melodia é de paz.
Fico no silêncio profundo
vestido de mim.
Às vezes silencio diante do mundo,
Às vezes silencio diante das pessoas.
Há uma quietude que não me perturba,
há uma solidão que me cabe;
uma caminhada bem longe de mim,
um perto que só eu conheço.
E fico ao som do meu violino...
(Suzete Brainer do Livro: Trago folhas por dentro do silêncio que me acende)
Quantos corações poetas vivem apreendidos em corpos racionais?
Quantas mentes racionais mataram corações poetas?
Quanto de um poeta vive na razão de uma mente?
Quanta razão existe no coração de um poeta apreendido?
Quantos poetas libertos existem sem uma razão?
Quanta razão há em ter razão e viver sem poesia?
Quanta poesia morta ainda vive em seu coração?
Um/Uma
Um Simples Gesto
Um Café da Manha
Uma risada sincera
Uma aventura na praia
Uma família à espera
Um jogo qualquer
Um almoço corrido
Uma noite de jogos
Uma surpresa agradável
Uma virada com fogos
Um abraço apertado
Um conselho gentil
Uma viagem inesperada
Uma sessão de cinema
Uma bela morada
Um rapaz tímido
Um paizão incrível
Uma pequena linda
Uma mãe perfeita
Uma família unida
A Girafa
Olhando para o horizonte
O tempo passa, muda a estação
Enxerga folha, arvore, bicho e chuva
Nada escapa sua visão
Alcançando tudo e todos
Com olhar sempre gentil
Observa as coisas boas
E até o amor que partiu
Defensora de si mesma
Sem atacar ninguém
Não precisa de presas e garras
Sua força vai muito além
Já não se incomoda mais
A não ser com sua família
Não se incomoda mais
A não ser com sua cria
Indo sempre adiante
Nada pode te deter
A Girafa sabe o que fazer
Num segundo a Vida se vai
Num passo tudo vira lembrança
Num Gesto o amor vira dor
O sorriso vira saudade
E o sentimento banalidade
Num segundo seus olhos já não estão mais sobre os meus
Suas mãos já não tateiam mais meu rosto
E sua ausência traz um vazio enorme dentro de mim
Ah, que Saudade.
Eu queria que durasse para sempre
Mas um dia a gente aprende
Que o que é para sempre são as memórias
De momentos únicos em que vivemos,
Enquanto vamos escrevendo nossa história
A vida não é o corpo respirando
Não é a alma habitando
A vida é o que fazemos e o que somos
Enquanto o corpo respira e a alma habita
Muitos morrem e continuam vivos
Outros vivem como se nunca tivessem morrido.
O mais difícil dos perdões é aquele que temos que dar a nós mesmos.
É imperdoável deixar que nossos medos nos tranquem o coração.
Errar faz parte do aprendizado.
Que o erro vire lição,
E que a gente aprenda a recomeçar.
É tempo de tomar atitudes que nos transformem de verdade por dentro.
Felicidade não pula janela: temos que abrir as portas para ela entrar.
Ouso querer
Quero me amar o suficiente para não me permitir viver ilegitimemente
Quero viver o suficiente para ter tempo de existir tão somente
Quero viajar, desbravar e conhecer os lugares mais escondidos em mim
Quero cultivar, quero florescer, quero frutificar para além de mim
Deus, dá-me ousadia para me esvaziar, sem deixar escapar a obra que já fizeste em mim
Deus, busco encontrar-me serva apenas de Ti para que eu possa ser livre enfim
Permita-se
Ser feliz é difícil
Gera incômodo
Pesa em que não é leve
Mas permita-se mesmo assim.
Seja feliz por hoje
Ser feliz pelo ontem
Serás feliz amanhã
Felicidade deveria ser;
Cotidianamente;
Conjugada.
Fique leve,
Seja leve,
Leve o que é leve
O que não é releve.
Pensa, isso
Repensa no seu destino
Planeje a jornada
Viva cada passo
Celebre cada caminhada
Permita-se.
Permitir é verbo,
Conjugue-o
E então serás leve,
Se,
Permita-se
Ser,
Feliz.
“Não que desafio me traga cansaço,
que riso me dá o desafio,
e que pressão consome o riso,
que força me traz a pressão.
Me fortalece toda essa força,
que surge da alma vibrante,
que abraça cada momento,
e que momento me leva a vencer,
e que vencer me dá esse cansaço,
e que cansaço é minha vitória.”
O PAREDÃO MARIANO
.
.
Os anjos libertadores,
incumbidos de trazer a chave da Sociedade Livre,
morreram todos no Paredão Mariano.
.
Não me lembro se foram fuzilados,
se fluíram por um corte na garganta,
ou se alguns morreram de gripe...
.
O que sei é que sua marca ficou nos muros
que foram pichados pelas cidades
de países passados e futuros.
.
Os anjos libertadores
morreram por uma venda
no Paredão Mariano.
.
O Paredão Mariano não existe.
Sua pedra e sua largura
são por conta da imaginação do poeta;
.
mas sua imagem me veio tão nítida,
como se fosse o sonho de um pesadelo vivo,
que herdei o desespero dos condenados.
.
O Paredão Mariano:
a dureza das suas paredes frias
... o horizonte de metralhadoras e fuzis
prestes a roubar a vida.
..
O Paredão Mariano não existe:
sua pedra e sua largura
são ficções de um poeta louco.
.
Não há registro histórico;
mas seus olhos me gritam tanto,
e sonhar é tão pouco...
.
O que foi feito dos anjos libertadores
diante do horizonte de metralhadoras?
Em forma de brilhos, terão sobrevivido?
.
Será que, em música, foram convertidos,
e hoje trilham no céu noturno
o leite alegre das estrelas?
.
E o Paredão Mariano, que não existe?
.
Existirá, por ventura,
em algum ponto da memória
de futuros torturadores?
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Sintonia Fina, 2022]]
TRISTEZA MARAVILHOSA
.
.
Rio de Janeiro,
sob teu corpo de concreto
teu santo padroeiro
dorme, como um feto.
.
Ainda não nasceu, teu santo,
ainda é cedo para o milagre;
e a lágrima doce do teu pranto
não é vinho, é só vinagre.
.
Baía de Guanabara,
como mente o teu postal.
Vejo fome em pau-de-arara
sob a camada social.
.
Queria entender teu segredo,
tua miséria, tua mentira;
mas o que vejo é o degredo
que escapa da tua mira.
.
Seres humanos migratórios
compelidos à mudança
cujos mortos compulsórios
são produtos da esperança.
.
Rio, Deus te abençoe,
e do alto do Corcovado
em pedra o Cristo nos perdoe
por teu índio dizimado.
.
Cidade Maravilhosa,
herança dos guaranis...
na tua culpa misteriosa
guarda a lembrança dos brasis.
.
Rio, cidade poesia,
olha teu negro na construção;
não lhe conceda alforria:
tu és a própria escravidão.
.
Rio, alguém que tardia
espreita em teu carnaval;
sobre a tua fantasia
jaz a beleza de um postal.
.
Rio de Janeiro,
teu caminho não é reto;
ao sul do teu cruzeiro,
um voto vira um veto.
.
Ainda não nasceu teu quebranto,
ainda é cedo para o céu;
e a cachaça do pai de santo,
não é néctar, é só mel.
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Insurgência, 2023]
MISTÉRIO DAS ESTRELAS
Se há mistério no mundo,
digo-lhe às estrelas,
que se mostram e se escondem.
Correm elas da alegria justa e
se entregam as tristezas vãs.
Ah quanto mistério, carregam as
estrelas... Ardem ao desprezo
e se enturvam ao regozijo verdadeiro.
De todo modo aos astros não se impõe regras, pois preferível
a liberdade é, de quem vai e vem. Do que se pode e do que se tem,
restam apenas o mistério da vida, qual se carrega alguém.
Hoje, eu acordei gaivota
Deixa, gaivota,
Que por hoje
Eu seja o espírito
Que te habita;
O movimento das tuas asas;
A luminosidade do teu voo,
Pela trilha de uma
Liberdade
Que não me pertence.
Os anjos que habitam os meus sonhos
Guardo em mim
Um olhar mergulhado na emoção,
Ao tocar o outro igual.
Os anjos que habitam meus sonhos,
São humanos
Que ainda choram.
(Suzete Brainer do Livro: Trago folhas por dentro do silêncio que me acende)
Título: Eco sem nome
Estava indo tudo bem, até que…começou a tocar essa música
Minha voz foi cortada pelo silêncio
Apenas um instrumental repleto de sentimento.
E eu celebrei a nostalgia, como se nunca a tivesse vivido, não prometendo algo a mim mesmo,
Mas, rasgando-me no deserto das horas
(silenciosas)
Busco a não paz, o eco da saudade que se faz e desfaz.
Porque relembrando o momento cotidiano da minha criança interior,
Revivi várias promessas,
que eu negociei com penhor.
As forças de um pescador
Não eram as de um sujeito qualquer,
Eram as forças de um senhor, as memórias de um baiano,
Que se dizia meu avô.
Isso é excentricidade dos poetas.
É o eixo do corpo carregado de nostalgia e constância de alma,
É o pulsar de um coração de areia,
Levado pelo vento, levado pela força espiritual,
E isso talvez seja o caso, pois o ontem é um fantasma sem nome.
Mas o fantasma não é invisível?
É sim por isso mesmo que fica no coração.
Exceto se você for uma sombra do dia anterior,
Uma miragem a ser temida, mas nunca tocada.
O que me importa, é ser uma versão diferente de mim mesmo,
Assim como no espelho quebrado do agora,
Que mesmo fragmentado mostra como eu sou.
Estava indo tudo bem, até que…
Começou a tocar essa música de novo
Domingo à noite
São meios de encarar essa escuridão
ZZZ então surge Zollim, Zollim é a voz do coração
Zollim é sentimento, Zollim é a melodia única,
Que diz sobre a emoção
Que celebra o movimento,
Que celebra o invisível ao palpável,
Transformando sombras em saudades,
E a ansiedade do domingo, em uma obra-prima.
O REFUGIADO A NADO
.
.
O sal das lágrimas
misturava-se ao das águas:
só queria vida, só queria um chão.
.
Mas encontrou as armas, nas mãos de um guarda.
Encontrou o exército, de todos os países do mundo,
e a serviço de todas as burocracias do Universo.
.
Ele pedia um lugar, e implorava pão;
mas encontrou um muro,
para além dos muros
(não bastassem as águas
contra as quais nadava).
.
O Refugiado a Nado
construiu seu escafandro
com garrafas e boias de plástico.
Conseguiu quebrar a violência das ondas...
Mas não conseguiu derreter o coração das autoridades.
.
Duros, e como a um peixe, devolveram-no ao mar
– ao mar da morte, e da vida em morte –:
ao mar cinza dos apátridas
a quem não se quer.
.
Devolveram-no
– ao Refugiado a Nado –,
como se nunca o tivessem recebido.
Entregaram-no àquela vasta extensão de oceano
– desoladora, fria, e muito mais implacável –
para além do Mediterrâneo,
e de todos os mares:
para aquém da Terra.
.
Depois que ele se foi,
como se não tivesse chegado,
rasgaram sua presença como uma foto incômoda.
No fim, os noticiários o deglutiram ao avesso
como uma fome indigesta...
qual mera curiosidade
para sessão da tarde
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Crioula, nª31, 2023]
DEUS É BRASILEIRO
.
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Dizem que Deus é brasileiro
(que se desespera,
que também não mora,
que também tem fome,
que a si mesmo come).
.
Dizem que Deus é brasileiro:
que gosta de samba,
que gosta de praia
(que também não fala,
que também se cala).
.
Dizem que Deus (foi) brasileiro...
Morreu aos cinco anos de idade,
quando era uma criança retirante
– cumprindo a taxa de mortalidade.
.
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[[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Insurgência, 2021]
PEIXE NO AQUÁRIO
.
.
Um peixe no aquário
é um peixe-encerrado,
é um peixe-impedido,
é um peixe-cercado
por todos os lados.
.
Um peixe levado
para um aquário maior,
ainda assim é um peixe
neste aquário maior.
E se lhe dermos uma represa
com proporções oceânicas,
teremos agora um peixe
no aquário da Terra.
.
Ah... cruel infelicidade aquática!
Um peixe, onde for que esteja,
depara-se com seus limites,
defronta-se com a sua parede,
debate-se... contra o seu vidro.
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Poetizar, vol.1, nª5, 2024]
A BOMBA
.
.
Despencou sobre a vida
com suas inúmeras ogivas.
Europeia, era russo-americana.
Como cobra, vinha em fila indiana,
paquistanesa, chinesa, inglesa, coreana!
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A Bomba... era apátrida,
e julgava-se democrática
ao cair sobre os viventes.
Não quis poupar formigas,
bactérias, fungos ou entes
(muito menos os humanos
escondidos qual toupeiras
nos abrigos tão dementes).
.
A Bomba... destruiu a Vida.
Não deixou célula sobre pedra,
extinguiu o único grão de milagre
nascido em um universo improvável.
.
A Bomba... traz-me pesadelos à noite,
como este, que me assombrou há pouco.
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[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Intransitiva, vol.6, nº1. 2022]
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