Poesia Amor Nao Realizado Olavo Bilac

Que grande dom de Deus é a beleza! / É preferível tê-la ao dinheiro: / pois a riqueza não dá beleza, / mas com beleza se conquista a riqueza.

Um homem desejoso de trabalhar, e que não consegue encontrar trabalho, talvez seja o espectáculo mais triste que a desigualdade ostenta ao cimo da terra.

Quem não dispõe de reservas em si próprio, é assaltado pelo aborrecimento que o espreita e em breve o dominará.

A censura que se pratica sobre as obras alheias não determina necessariamente a produção de obras melhores.

Não é mais fácil encontrar quem chora com as nossas tristezas do que quem se rejubile com as nossas alegrias.

Às vezes acontece sentirmo-nos felizes por um minuto. Não se deixem levar pelo pânico: é uma questão de segundos e depois passa.

O material da vida não é a estabilidade e a harmonia quieta, mas a luta permanente entre os contrários.

Não querer associar-se senão com aqueles que aprovamos em tudo é uma quimera, é mesmo uma espécie de fanatismo.

O direito à insurreição não pertence a ninguém, ou então é de todos. Nenhuma classe pode fazer da insurreição um monopólio.

Disse algum mal de ti? Não o digas tu dele, quanto mais não seja para que a ele não te assemelhes, imitando-o.

Pois bem, que é que o autor coloca nos seus livros? O que ele não é e gostaria de ser, como nos sonhos. Os livros são desejos recalcados, atos falhos.

Os ricos pretendem não se admirar com nada, e reconhecem, à primeira vista, numa obra bela o defeito que os dispensará da admiração, um sentimento vulgar.

Não sabes qual dos teus próximos influi mais em ti, mas seguramente não é aquele que tens mais perto e vês e ouves amiúde.

Aqui não andam só os vivos - andam também os mortos. A humanidade é povoada pelos que se agitam numa existência transitória e baça, e pelos outros que se impõem como se estivessem vivos. Tudo está ligado e confundido. Sobre as casas há outra edificação, e uma trave ideal que o caruncho rói une todas as construções vulgares. Debalde todos os dias repelimos os mortos - todos os dias os mortos se misturam à nossa vida. E não nos largam..

Numa situação intensa não sabemos que dizer. Para isso é que há o formalismo do silêncio, traduzido num abraço de emoção ou nos «sentidos pêsames» sem emoção nenhuma.

Todos esses caprichos filosóficos, a que se chamam deveres, não têm qualquer relação com a natureza.

Não há gênero algum de preguiça pela qual sejamos tão facilmente seduzidos como aquela que é dignificada pela aparência de ser um negócio.

Não haverá, entre um espírito que abarrota de invenções alheias e outro que inventa por si próprio, a mesma diferença que vai de um recipiente que se enche de água à fonte que a fornece?

O homem não pode de forma alguma impedir de ter pela mulher um desejo que a aborrece; a mulher não pode de forma alguma ter pelo homem uma ternura que o aborrece.

Por pior que um homem possa pensar das mulheres, não há mulher que não pense ainda pior do que ele.