Poesia Amor Nao Realizado Olavo Bilac
Não entendo qual a vantagem de 'pensar com os próprios miolos'. Quando vejo todos os livros bons que li desde a juventude, sei que eu jamais conseguiria descobrir por mim mesmo um milésimo do que ali aprendi.
As coisas mais originais que acredito ter descoberto -- a teoria dos quatro discursos, o intuicionismo radical, as camadas da personalidade, o trauma de emergência da razão, a teoria da mentalidade revolucionária etc. -- não são senão a expressão formal de coisas que os filósofos dos séculos passados já haviam insinuado compactadamente. Não há nada de novo sob o sol, mesmo o topless já está um pouco antiquado.
O típico imbecil do nosso tempo não é assim chamado por ser simplesmente um imbecil que por coincidência nasceu em determinada época e não em outra; não o é nem mesmo por haver uma ligação íntima entre a nossa época e a sua imbecilidade – embora essa ligação sem dúvida exista --, mas porque o sentimento de pertencer a essa época, ao famoso 'nosso tempo', constitui de certo modo o núcleo e o ponto forte do seu modo de ser imbecil.
Com efeito, o que o caracteriza e define, distinguindo-o de todos os demais imbecis que já passaram por este mundo em outros séculos, é a sua total incapacidade de desligar-se mentalmente, por uma fração de segundo, das crenças e hábitos vigentes na nossa época, e de tentar ver as coisas como os homens do passado as viram ou como os do futuro poderão vê-las quando chegarem a este planeta. Tudo, de fato, ele enxerga e julga segundo o que aprendeu das duas autoridades supremas cuja fé pública inabalável molda e define o 'nosso tempo': a mídia e a escola – duas entidades que têm, entre outras propriedades maravilhosas, a de jamais discordar entre si.
Tão intensa e profunda é a devoção que o imbecil contemporâneo tem ao 'nosso tempo', que chega a ver nele virtudes e poderes que antigamente se atribuíam a Deus. 'Nele vivemos, nos movemos e somos', murmura ele em seu coração, orgulhoso de nada ser além de produto, criatura e filho de tão excelsa entidade, à qual deve não somente a existência, mas também a essência.
A inveja é o mais dissimulado dos sentimentos humanos, não só por ser o mais desprezível mas porque se compõe, em essência, de um conflito insolúvel entre a aversão a si mesmo e o anseio de autovalorização, de tal modo que a alma, dividida, fala para fora com a voz do orgulho e para dentro com a do desprezo, não logrando jamais aquela unidade de intenção e de tom que evidencia a sinceridade.
[...] A gente confessa ódio, humilhação, medo, ciúme, tristeza, cobiça. Inveja, nunca. A inveja admitida se anularia no ato, transmutando-se em competição franca ou em desistência resignada. A inveja é o único sentimento que se alimenta de sua própria ocultação.
O homem torna-se invejoso quando desiste intimamente dos bens que cobiçava, por acreditar, em segredo, que não os merece. O que lhe dói não é a falta dos bens, mas do mérito. Daí sua compulsão de depreciar esses bens, de destruí-los ou de substituí-los por simulacros miseráveis, fingindo julgá-los mais valiosos que os originais. É precisamente nas dissimulações que a inveja se revela da maneira mais clara.
As formas de dissimulação são muitas, mas a inveja essencial, primordial, tem por objeto os bens espirituais, porque são mais abstratos e impalpáveis, mais aptos a despertar no invejoso aquele sentimento de exclusão irremediável que faz dele, em vida, um condenado do inferno. Riqueza material e poder mundano nunca são tão distantes, tão incompreensíveis, quanto a amizade de Abel com Deus, que leva Caim ao desespero, ou o misterioso dom do gênio criador, que humilha as inteligências medíocres mesmo quando bem sucedidas social e economicamente.
Que futuro pode ter um povo que não quer ser governado por homens cultos e inteligentes, mas por imbecis semi-analfabetos diante dos quais ele não se sinta inferiorizado?
Se você tem complexo de inferioridade, pense nisto: talvez você seja inferior mesmo.
Se você é inferior, não adianta diminuir o padrão de medida para se sentir melhor. Quando você se mede por um imbecil de sucesso, sempre resta o sucesso para marcar uma diferença humilhante.
Só há um jeito de se livrar de todas essas veadagens: tente ser grande por dentro e aceitar uma posição social modesta. Seja generoso como um rei e humilde como um lavrador. Nunca mais terá complexo de nada.
Pessoas sem cultura suficiente para entrar no debate público não percebem a diferença de sentido que uma frase tem quando dita no círculo da sua profissão e no quadro maior da sociedade.
Isso, no Brasil, é uma catástrofe.
As figuras de linguagem são instrumentos indispensáveis não só na comunicação como na aquisição de conhecimento. Quando não sabemos declarar exatamente o que é uma coisa, dizemos a impressão que ela nos causa.
Todo conhecimento começa assim. Benedetto Croce definia a poesia como 'expressão de impressões'. Toda incursão da mente humana num domínio novo e inexplorado é, nesse sentido, 'poética'. Começamos dizendo o que sentimos e imaginamos. É do confronto de muitas fantasias diversas, incongruentes e opostas que a realidade da coisa, do objeto, um dia chega a se desenhar diante dos nossos olhos, clara e distinta, como que aprisionada numa malha de fios imaginários — como a tridimensionalidade do espaço que emerge das linhas traçadas numa superfície plana.
O pseudo-intelectual é o sujeito que se apóia no respeito que ele obtém de uma massa que não compreende nada do que ele está dizendo e que, por isso mesmo, pode aceitar o que ele disse sem perceber que é um erro.
(COF, aula 018)
Todo sujeito que acha que é culto porque teve boas notas na universidade ou na escola militar não tem a menor idéia do que é cultura.
Universidade, especialmente no Brasil, dá apenas formação profissional, quando muito, CULTURA é SEMPRE E INVARIAVELMENTE AUTODIDÁTICA.
Não li muita coisa do Zygmunt Bauman, mas num ponto ele acertou em cheio, ao dizer que o Holocausto não foi nenhuma regressão a tempos bárbaros, e sim um legítimo filho da modernidade. Ninguém gostou.
Quem gosta de ver as horríveis conseqüências impremeditadas das suas escolhas?
"É típico da mentalidade inferior fazer pose de superioridade para não ter jamais de superar porra nenhuma.
A pose transfere a questão para o reino do faz-de-conta e infunde no posudo um reconfortante sentimento de que resolveu tudo, quando não fez é bosta nenhuma."
Se você é burro, não desanime. Todos nascemos burros, inclusive os gênios. Só o que não pode é dizer, como um amigo do Pedro aos dez anos de idade:
— Sou burro com muito orgulho.
O discurso ideológico é, no fundo, nada mais que retórica – o tipo de pensamento que não é voltado para o conhecimento, mas para a ação imediata. A persuasão retórica é absolutamente indispensável à ação prática, na esfera privada como na vida pública. Querer eliminá-la é tão utópico – e tão ideológico – quanto querer suprimir o mercado.
O mal não está na mera existência do pensamento ideológico, nem mesmo na sua onipresença na vida social. O mal aparece quando as esferas de atividade que deveriam ser orientadas por formas de pensamento mais exigentes e mais voltadas à descoberta da verdade se deixam infectar de ideologismo, como acontece, no Brasil, com a quase totalidade do que se produz sob o rótulo de 'ciências sociais'.
Já expliquei, aparentemente em vão, que a 'liberdade' não é, logicamente, um princípio universal de aplicação óbvia e improblemática como a igualdade perante a lei ou a proibição do falso testemunho, e sim apenas uma conveniência prática que deve ser administrada com prudência, já que, como toda conveniência prática, inclui em si sua própria limitação e, estendida sem critério, se perverte automaticamente numa rede de limitações chamadas ironicamente de 'liberdade'. Essa advertência torna-se ainda mais importante no caso da 'liberdade religiosa' -- uma bolha de sabão verbal que estoura no ar à primeira tentativa de levá-la à prática. Estudei Hegel o suficiente para entender que ele tem razão ao dizer que todo preceito particular tomado como universal se converte automaticamente no seu oposto tão logo sai do papel para a realidade. Apenas, não vejo como explicar isso a nenhum político, militante ou eleitor apaixonado pelos 'valores ideais' que imagina defender. [...]
O mesmo aplica-se à 'expansão dos direitos democráticos', tão louvada por bocós como Marilena Chauí e até por homens supostamente inteligentes como Norberto Bobbio."
No Islam não existe propriamente a 'conversão' a uma 'fé'. Esses são conceitos cristãos que só se aplicam ao Islam com bárbara imprecisão. O que existe é a ADESÃO A UMA COMUNIDADE JURÍDICA, por meio de uma DECLARAÇÃO PÚBLICA que vale independentemente de qualquer 'fé' ou 'sinceridade' interior. Sendo assim, a posterior abjuração — caso aconteça — não é uma 'apostasia' no sentido cristão (o abandono de uma crença interior), mas um ato de ALTA TRAIÇÃO, que é qualificado pela legislação penal e deve ser punido com a morte.
Tão logo confirmado por uma autoridade islâmica que o sr. Fulano ou Beltrano, após ter aderido ao Islam, o abandonou, não só os tribunais islâmicos mas todos os cidadãos muçulmanos do mundo têm NÃO SÓ O DIREITO, MAS O DEVER DE MATÁ-LO se tiverem os meios de fazer isso.
Uma teoria ambígua não é NUNCA uma hipótese legitima, capaz de submeter-se a um teste científico. O marxismo e a teoria da evolução são exemplos: mudam de interpretação cada vez que são refutados.
[...] uma segunda hipótese NÃO É uma segunda 'interpretação' dos fatos mas uma segunda EXPLICAÇÃO deles. Enquanto subsistem interpretações divergentes, é impossível formular uma hipótese.
A coisa que mais me enoja num escrito é o autor que não escolhe as palavras pela precisão com que correspondem ao objeto descrito, mas pela impressão emocional que, em total prejuízo da exatidão descritiva, deseja despertar no leitor. Esse procedimento é ainda mais perverso e revelador quando se trata de termos técnicos que, por possuírem significados convencionais bem definidos, só se prestam a essa operação mediante distorções forçadas que denotam precário domínio do idioma. [...] O estilo é o homem, mesmo quando a criatura em questão tem, de homem, pouco mais que o rótulo taxonômico.
Esse tipo de eloquência, que é menos canina do que simiesca, nunca funciona, exceto ante plateias previamente dessensibilizadas para as propriedades do idioma.
Ante plateias normais e cultas, ao contrário, a precisão é a condição primeira e indispensável da força persuasiva.
A apologia do capitalismo contra o socialismo é fútil e vazia se não levar em conta a crítica do capitalismo empreendida em três fronts principais: (a) a tradição marxista; (b) o socialismo nacionalista ítalo-germânico (aparentado ou não ao nazifascismo); (c) a literatura católica (Chesterton, Bloy, Péguy, Bernanos e tutti quanti). Dedicar uns três anos ao estudo dessas fontes não faria mal nenhum aos liberais mais assanhadinhos.
Todo idiota acredita piamente que qualquer corrente de pensamento que ele desconheça — e da qual não ouça falar na mídia todos os dias — já está, por definição, “superada”.
Um dia darei um curso sobre as tradições anticapitalistas. Vocês ficarão impressionados não só com a riqueza de idéias aí contida, mas com a superficialidade da resposta liberal. Depois de haver absorvido esse material, continuo cem por cento pró-capitalista, com uma diferença: eu SEI das responsabilidades envolvidas nisso.
Liberalismo, em noventa e nove por cento dos casos, consiste em estar a favor da coisa certa pelos motivos errados.
Há verdades nas religiões não-cristãs? Como poderia não haver, se verdades existem até no marxismo?
Só que há verdades irredutíveis entre si, separadas por universos epistemológicos intransponíveis. Tente, por exemplo, fazer uma síntese do marxismo com a geometria de Euclides.
Na adolescência eu já tinha o pressentimento de que tudo o que não dissesse respeito diretamente ao destino e aos sofrimentos dos seres humanos era só algum tipo de frescura. Praticamente todos os adultos em torno me pareciam crianças brincando. Ninguém era sério.
Cheguei a essa conclusão não porque tivesse sofrido muito, pessoalmente, mas porque tinha VISTO muito sofrimento, muito acima do que eu podia explicar ou consolar.
Aos quatorze anos, meus olhos já estavam cansados de ver tristezas.
O universo que eu via era uma imensa creche, onde todo mundo estava dodói, mesmo com os bolsos cheios e estourando de saúde.
Nada me deprimia mais do que a autocompaixão do homem rico, que cuidava de si mesmo como se fosse um doente terminal.
O único exemplo de força que me chegou, e isto só por volta dos vinte anos, veio do meu amigo Otto. Ele NUNCA era o coitadinho que não tinha tempo para os problemas dos outros.
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp