Poesia Amor Nao Realizado Olavo Bilac
VENDAVAL (soneto)
Entre a saudade, a aridez do cerrado
ressecando as lembranças tão sós
adormecendo luas e sóis para nós
em suspiro e soluço ali amargado
Eis que um vendaval de tão feroz
arrombou-nos os sonhos sonhado
deixando o intervalo assim atado
num amarrilho lamento, num retrós
Aí, neste embaraçado, eu atordoado
Oh! Amor, nem sei se estou acordado
ou tão pouco adormecido na ilusão
Só sei que pouco a pouco aqui calado
na solidão, o coração tão esperançado
em vigília, que aporte de novo na paixão...
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
SONETO DE MIM
Na quietude e silêncio do cerrado
dos pensamentos eu me desligo
e o sentimento se põe aí calado
esta é a emoção onde me abrigo
Num vazio do tempo desfolhado
da saudade, sair eu não consigo
sou o ressecado chão empoeirado
e d' alma em evasão sou mendigo
E é neste legado de um passado
que saudosar tornou-se castigo
e o castigo sacrossanto enfado
Assim, tudo o que trago comigo
é amor, apenas sou... um fado!
Que tentou ser primavero e amigo...
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
Acho que sou Flor, quem me beija é Beija-Flor
Tristonho ele vem voando esperando um afeto a ti negado
E além de comida, ele busca um inebriante amor
Que o leve onde nem ele conseguiu ir ainda
A natureza observa sua tentativa de conquista
E seguido do revés desta sua ação
Eu grito: Vem cá ser feliz nos braços meus.
Neste contexto ludibriador, eu canto
Inescrupulosos os homens que ferem a alma sublime dos seres humanos que enfrentam seus temores para superar essa escassez de amor.
A vida vai se exaurindo conforme o declínio da complacência humana fazendo os pássaros cantarem seus infortúnios para as arvores e para as flores que regozijam seus corações.
Mas se o tempo não me impelir,Se o vento não vier abrupto,Irei em direção a imensidão.
E digamos que o sofrer faz parte,
Que o Sol nunca nasça quadrado
Para quem está enjaulado
Ode a Lua
Sinuosa
Cintilante
Exuberante
De mau feitio, o Sol me quis
Neguei sem mais delongas
Nasci para casar com a Lua,
Mas todo o dia ela se ia,
E eu nunca mais amei de novo.
Quando um dia eu te amei...
Olhando a nossa Hortênsia...
Que um dia plantamos...
E pensando neste destino
Num desafio azul às margens de caminhos românticos
Entre versos garridos de um meigo olhar...
Vem-me à lembrança dias tão doces em que te amei...
Neste lindo lugar!
Perdi-me de ti pelos caminhos da vida...
De repente ficou num passado a nossa doce história
A lareira onde tantas vezes nos aquecemos do frio
Hoje uma chaminé apagada...
Na minha alma... Apenas um vento frio...
A dor da voz imensa
No eco das palavras... Que nunca mais foram ditas...
Nunca mais plantei esperanças...
Ah! Quantos anos solitários... Apenas recordando...
Há no meu peito um surdo grito...
Na esperança que me queiras para além dos sonhos!
E a nossa Hortênsia que morre com saudades de teus olhos!
DESATINO (soneto)
Ó melancolia do cerrado, a paz me tragas
Solidão em convulsão, aflição em rebeldia
Dum silêncio em desespero, e irosa agonia
Ressecando o coração de incautas pragas
Incrédula convicção, escareadas chagas
De ocasos destinos, e emoção tão fria
Do horizonte de colossal tristura sombria
Que rasga o choro em lacrimosas sagas
Ó amargor do peito engasgado na tirania
Duma má sorte, e fatiadas pelas adagas
D'alma ao léu, tal seca folha na ventania
Pra onde vou, nestas brutas azinhagas
Onde caminha a saudade na periferia
Do fatal desatino em pícaras pressagas?
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano
O RANCHO
Uma casa bem pequena
com janelas p'ro terreiro
orações sem ter novena
notas simples de um poema
banho de sol ventos inteiro.
A fumaça do seu café
cheiro do fogão de lenha
radio de mesa antena
interior da casa pequena
simplicidade ali é plena.
Uma casa, sim, pequena
calma chuva no oitão
reina a calma serena
poça d'água, vento pena
molhando o coração.
É lá no vale da serra
bem no centro do sertão
o natural por lá impera
o cheiro é como fera
espantando a solidão.
Antonio Montes
VELHOS SAPATOS
Meus sapatos velhos
de couro secado
aperta meus pés
por todos os lados.
Já não tenho careta
nem rugas na testa
até tento andar certo
mas o couro infesta.
Meus sapatos velhos
contem certo cheiro
me dá uns apertos
me doendo inteiro.
Causa dores no cravo
e frieiras nos dedos
arranca-me sorriso
pra manter o segredo.
Antonio montes
MINHA MEDIDA
Você...
É a minha medida sem peso
estou vesgo, fico teso
com peso do meu querer.
Te tenho em alto estima
minha jarda, minha rima
gravitacional da minha sina.
Instrumento, que me eleva pra riba
fada repleta de beleza,
tu és a flor da minha medida.
Antonio Montes
EVENTO CHATO
O João do pato
já muito fraco...
Caiu no buraco.
Foi grande o sopapo...
As penas do pato,
n'aquele evento chato
ficaram no saco.
Antonio Montes
Caminho...
·
Sigo o caminho do vento, aquele de todos os dias, ele é quem me passa alento, sabe de mim e me extasia. Vem com força ou com brandura, recolhe meu verso, outro traz, esparge a poesia. Meu caminho é tecido em ternura, tirar-me dele só Deus será capaz.
A vida e tão breve
Quanto a um dia
A noite tão tardia
Quanto à morte
A morte tão curta
Quanto a um sonho
Mas vem o amanhecer
Para o despertar
Repleto de luz
Pleno em vida
...eterno...
Em Que pensamento estou eu
Entre o mar das infinitas percepções
Entre o pensamento em que estou à procura
Mais não consigo encontrar o pensamento que esta a deriva
Perdido no mar das ilusões entre a morte e a vida
Carrega em si a solidão pronta para ser encontrado
Entretanto descontrolado nas ondas do mar encantado
Que só em mim pode ser achado
Na escolha do ser ou não ser pode ser eu a questão?
SENTIMENTO PRESO
Como passarinho...
Me prende na gaiola, só para ouvir
o meu cantar, e eu canto.
Em troca, você...
Prende-se em mim,
me dá: Comida, água,
vontade de ser livre, e voar,
e você, quando vai se soltar?
Antonio Montes
CIDADES
A mim restou falar das cidades que vivenciei
As cidades que estão vivas dentro de mim
Cantarei lembranças de Campina Grande
Voltarei à São Luiz do Maranhão
Subirei montanhas em Belo Horizonte
Andarei pelas ruas de Carolina
Viajarei mais a Palmas, e
Escreverei daqui da Araguaína.
Espaços soltos na memória
O redemoinho do tempo vai liquidificando-as
E o Gomes, de Palmas
Agora sobe montanhas em Belô
Augusto dos Anjos faz versos escatológicos
Nas ARNES de Niemeyer
Otávio Barros dança um reggae
Na ilha do amor
Drummond dorme próximo ao Lago Azul
As cidades dançam
Os nomes seguem o ritmo
Confundem-se
Eu modifico as cidades
E permaneço...
A mim,
restou-me falar das cidades
..Das cidades
POEMA PREGUIÇA
Huumm! ... Ufa! ... ufa! ... ufa ...
Puf! ... Puf! ... Puf ... Huumm! ...
Uuuuaahh! Ufa! ... Puf! ... Huumm!
Boa Noite !
FLOR
É preciso mais que uma flor
Para expressar a solidão que o
Teu silêncio causou em mim
Por instantes alguma coisa floresceu
No chão agreste de minha vida
Um inverno de lágrimas inunda meus olhos
O que restou do meu jardim eu recolhi
Num vaso
Uma rosa
Sem espinhos
Sem sépalas
Uma rosa vermelha de pétalas frias
Como a chuva que você fez chover em mim
Nem essa flor consegue expressar
A solidão que teu silêncio deixou em mim.
SUFIXO LETAL
AR ÁGUA COCA
INA AR ÁGUA
INA NA DROGA
A R A G U A I A!
UAI! NA ÁGUA
GUARANÁ INA
ÁGUA AR ÁGUA
AR AGUA INA
A R A G U A Í N A
(Homenagem à Haroldo de Campos,
Augusto de Campos
Décio Pignatari “Poetas de Campos e espaços”)
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