Poemas e Poesias

Cerca de 59456 poemas poesias Poemas e Poesias

⁠Versos de Revolta

Deixo meus versos
como rastros de fogo
num caminho que arde
pela culpa dos insensatos.
Minhas palavras ficam,
gravadas como cicatrizes
na pele da memória,
reação contra a hipocrisia
que escorre
das bocas ornadas
de tantos "intelectuais",
cuja erudição é verniz
sobre o vazio.

Não há o que temer!
Pois tudo já é temido!
O perigo não se manifesta
onde a covardia se veste
de autoridade,
onde a segurança se impõe
como jugo elegante,
um escudo frágil
contra a incerteza
que ruge no mundo.

Vivo em segurança?
Ou em confinamento?
Essa segurança sufoca,
nos molda em cúpulas
de certezas frágeis,
ergue muros invisíveis
que nos protegem
do caos lá fora,
mas nos exilam
dentro de nós mesmos.

Há de parar!
Ou então, pararemos nós!
Porque quem vive assim,
enjaulado em verdades prontas,
aprende a temer
até o próprio pensamento.
E se o medo crescer
maior que o desejo de liberdade,
é a alma que se condena
ao cárcere da resignação,
onde as palavras morrem
antes mesmo
de se tornarem grito.

Os versos que deixo
são insurgências contra o conformismo,
ecos de um coração inquieto
que se recusa a aceitar
a rotina disfarçada de escolha.
É urgente quebrar o silêncio
que nos encobre de poeira,
é preciso incendiar
as ideias moribundas
antes que a chama interna
se apague de vez.

Inserida por DanielAvancini

⁠Cicatrizes que Florescem

Eu carrego o peso dos dias não ditos,
os ecos de passos que não me pertencem,
fragmentos de uma estrada sem destino,
onde a dor se enrola nas raízes do tempo
e floresce como cicatriz que canta.

Há um grito em cada gota de chuva,
uma confissão no som que corta o vento.
A alma se espraia pelos campos secos,
e o coração, inquieto,
brota em flores que não pediram cor.

Sou rio que deságua na própria margem,
meu curso incerto entre pedras e paus,
correndo por entre trilhas rasgadas
que costuram minha pele ao chão da existência.
Não há ponte que atravesse o que sou.

Em noites de silêncio denso e cru,
a lua sussurra verdades que não quero ouvir,
desvenda os espelhos internos,
onde sou herói e vilão,
onde luto contra meu próprio reflexo
até me tornar pele, osso e vontade.

E quando o sol, ao fim de seu fôlego,
se deita sobre os montes quebrados,
meu corpo, feito de sonhos e poeira,
abre os braços para um horizonte que se dissolve
no vão entre ser e querer ser.

Eu permaneço inteiro
na tempestade que arranca galhos secos,
pois sou árvore que cresce do avesso,
raiz que abraça o abismo
e flores que desafiam o solo.
Sou também a calmaria que sucede o caos,
a certeza que nasce do chão devastado,
o tronco que se curva, mas não quebra,
que desafia o vento com sua seiva viva
e canta, mesmo quando a dor ecoa.

Inserida por DanielAvancini

⁠Entre o Assassino e a Vítima

Quem sou eu?
Um humano imperfeito,
destroçado entre o espelho e a carne,
cometendo crimes contra mim mesmo,
atentados sutis que corrompem a alma
e rasgam a pele da consciência.

Sou vítima ou assassino
daquilo que me tornei?
Voluntário no ato de me ferir
ou involuntário na arte de desmoronar?
Sou necessidade que enlouquece,
psicose que se veste de razão,
ou um delírio lúcido que encena
a tragédia de ser quem sou?

Sou mesmo louco?
Ou a loucura é a máscara
que uso para não ver a verdade
do caos que me habita?
Sou mesmo eu?
Ou sou um espectro fragmentado,
uma nota dissonante
na sinfonia do que jamais fui?

Indizível.
Como nomear o vazio que preenche
os espaços entre meus gestos?
Como afirmar com certeza
que sou algo além do que falha
ao tentar existir por completo?

Se a dúvida me define,
sou tanto a ferida quanto a lâmina,
a mão que acolhe e que esmaga,
o vulto que se esconde atrás de um rosto
que mal reconhece sua própria sombra.

E se o espelho estilhaçado
reflete múltiplos eus
que coexistem na fissura do real?
Serei eu o caco que corta
ou o reflexo que sangra?
Sou a colisão entre o ser e o não ser,
o vértice do abismo onde a dúvida ecoa
e a própria identidade se desfaz.

Há um grito que rompe o silêncio,
uma palavra que treme na garganta,
como se nomear-se fosse desabar
e aceitar-se fosse um pacto
com a dor que me habita.

E no limiar dessa guerra interna,
sou o paradoxo que respira,
uma verdade que mente para si mesma
enquanto tenta sobreviver ao próprio fardo.
Ser é ser incompleto.
Sou a imperfeição que sobrevive
no abismo entre razão e caos,
desafiando a lógica
com um coração que ainda pulsa
mesmo quando a mente implora por trégua.

Inserida por DanielAvancini

⁠Naufrágio em Mim

Minha cama vira barco
quando a noite se estende
como um oceano sem margens,
e minhas lágrimas desenham
rotas incertas na pele
de um horizonte que nunca chega.

No grande vazio
onde o silêncio ecoa,
não sei para onde navegar.
Sou marinheiro de olhos fechados,
tateando as ondas com mãos vazias,
e a bússola que carrego
não aponta o caminho
para lugar algum.

Sinto fome,
uma ânsia que não cabe
no peito salgado de mágoas.
Dê-me de comer,
mas que seja algo
além desse vazio repetido,
além desse sal que corta a boca
e engasga meu grito mudo.

E quando tudo se perde
no mar que me afoga,
ele é meu único refúgio,
porto improvisado
nas águas turvas do medo.
Sua voz é como farol
que rompe a escuridão,
e eu, à deriva,
me deixo ser salvo
pela calma que ele traz,
pela promessa de terra firme
onde meu corpo cansado
possa, enfim, descansar.

Então, quando o calor de sua mão
toca minha pele fria,
a tempestade se dissolve
como névoa ao amanhecer.
A luz que ele lança sobre mim
é cais onde meus olhos secos
desaguam esperanças.
E no balanço desse barco incerto,
encontro o ritmo da paz
que tanto busquei
nos ventos que me arrastaram.

Naquele porto improvisado,
eu sou embarcação que cansa,
ancorando meus medos no peito
de quem não teme minhas águas.
Ele, farol e cais,
é o norte que escolhi seguir,
a promessa de que, mesmo à deriva,
há um destino além da tormenta,
um abraço onde o barco repousa
e meu naufrágio se desfaz.

Inserida por DanielAvancini

⁠O Lobo e os Abutres

Em leito, sinto
oh, quão frio,
lobo só, sem matilha,
eco de uivo calado
que reverbera na pedra crua.
Não tema,
está só!
Não reclame, diziam eles,
engula o choro
como quem engole a própria sombra.

Em leito, sentia
já não mais,
mas, nada!
Frio sou
não!
Tornei-me
um vulto que se dissolve
na geada da madrugada,
uma presença que ecoa
no vácuo entre o ser e o deserto.

Em leito, sentiria
na pele,
rasgando o instinto
como faca cega.
Seleção natural
de almas partidas.
Quantos lobos
perecem em si mesmos
por não entender
que há algo errado
na dança da sobrevivência?

Em leito, sinto
coração, não mais.
Odor pérfido
de carniça ao amanhecer.
Não eram lobos,
eram abutres
vestidos de companheiros,
espreitando o cansaço
da fera solitária.
Liberdade, enfim?
Ou apenas a descoberta
de que a solidão
é menos vil
do que a falsa aliança
dos que fingem caçar juntos
mas apenas esperam
o momento da queda?

E quando o sol rasga a penumbra
como lâmina quente,
vejo o rastro das garras
que um dia julguei companheiras.
Eles não uivam,
não caçam,
não sangram pela honra
de viver em matilha.
São carniceiros,
esperando o último suspiro
da presa que pensavam ter domado.

Então ergo meu uivo
para o alto,
rompendo o céu cinzento
com o brado de quem
não teme mais a escuridão.
O eco invade os vales,
acorda os corvos,
faz tremer as sombras
que habitam a floresta.
E descubro,
na solidão que corta,
a liberdade crua
de ser lobo
entre abutres.

Não sou ferido,
sou a cicatriz que se ergue,
o instinto que sobrevive
ao banquete dos falsos.
Sou a fera que renega
o pacto da servidão.
Sou o silêncio que precede
o grito dos justos,
a promessa de que mesmo só,
o lobo sempre voltará
a caminhar sob a lua
sem temer as aves de rapina.

Inserida por DanielAvancini

⁠Adeus
É tua a última flor
A saudade é uma estrada sem fim
No coração de quem te amou.

Inserida por Pccmagdalena

Maternidade
William Contraponto

No corpo a vida se anuncia
como semente em terra ardente.
Mistério, dor e poesia,
num tempo que não segue em frente.

O ventre é sol que se derrama,
é casa antes do existir,
é chama antiga que se inflama,
sem nunca se deixar partir.

No colo nasce o infinito,
nos olhos — mundos a brotar.
É medo calmo e grito aflito,
é dar sem nunca se esperar.

Ser mãe não cabe em um conceito,
nem se traduz por condição.
É ter o mundo sobre o peito
e ainda abrir o coração.

Inserida por Fabrizzio

⁠Pensamentos Mórbidos
A vida, diante de nós,
despedaçada em silêncios que ninguém ouve.
A maior parte são sombras —
tristeza que se arrasta, solidão que grita,
uma depressão que veste o corpo por dentro.
A vida anda.
Mas os pensamentos? Eles ficam.
Soturnos, escorrem pela mente,
corroem as paredes do ser,
como ferrugem em ossos vivos.
E a gente aprende a sorrir sem alma,
a calar o grito que quer sair.
Vale a pena insistir em esperança
quando até a luz nos parece mentira?

Inserida por andre_morais_3

⁠No ecoar do tempo ergue-se a fronteira, a Princesinha dos ervais, cheia de histórias as memórias de seus ancestrais.
Onde bravos pioneiros depois de lutas e sacrifícios fincaram bandeira.
No pós-guerra, sem medo, sem freio,
Exploraram riquezas neste vasto rincão

Na terra bendita, erva-mate brotava,
E o aroma da madeira a selva perfumava.
Rios e riachos cortavam o chão,
Cercados por campos, por vida, por emoção.

Dois povos, uma história entrelaçada,
Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, cidades irmãs de jornada.
Laguna Porã refletindo no seu espelho d'água seu laço,
Um portal do tempo, um eterno abraço.

Aqui nesta fronteira se misturam culturas e raças,
O chimarrão aquece, o tereré refresca.
Polca, vanera, vanerão a ecoar,
O churrasco na brasa a todos juntar.

Acolhedora, vibrante, sem divisão,
Recebe o mundo com alma e paixão.
Brasileiros e paraguaios, filhos do chão,
Na fronteira, um só coração.

Inserida por yhuldsbueno

⁠Menino
Do galho de sarandí;
A varinha para o gurí;
Sem choro, só lambarí

Inserida por alma_na_q

⁠Hoje faz bastante calor
É mais um dia sem sabor
Por não ter seu amor,
Foi embora faz uma semana
E a saudade emana
Minha alma chora
Por não te ter aqui agora.

Inserida por warleiantunes

Fronteira: linha traçada.

⁠Na fronteira onde a história se entrelaça,
Tropeiros marcham, guerreiros Guaranis em caça.
Lendas vivas, memórias sem fim,
Ponta Porã e Pedro Juan, juntas assim.

O povo fronteiriço, forte e aguerrido,
Sua cultura vibrante, jamais esquecido.
A erva mate que a terra gerou,
Tereré refrescante, tradição que ficou.

Chipa dourada, sabor sem igual,
Comidas típicas, herança cultural.
Chimarrão que aquece, mate a brotar,
Dessas folhas que um dia iam pelo ar.

Beleza de vida nessa linha traçada,
Conquistas e dores, estrada moldada.
Divisão imaginária que nunca impediu,
Mistura de povos, união que nos uniu.

Passado, presente e futuro a tecer,
Duas cidades, um só viver.
No sul de Mato Grosso do Sul a brilhar,
Histórias que seguem e vão se contar.

Que essa poesia celebre a fronteira que pulsa e respira, onde culturas se abraçam e o tempo constrói sua própria melodia.

Inserida por yhuldsbueno

⁠Vivi contigo
quando me deste
teu vinho boca a boca

Amei e senti
quando trocamos
carinho boca a boca

Sufoquei e sofri
quando me tiraste
o fôlego boca a boca

Morri sem ti, imploro
que me ressuscite
boca a boca.

Inserida por FrancoRovedo

O segundo choro

Chorar como criança ao perder a mãe é o segundo grande choro da vida.
O primeiro é o do nascimento — quando somos separados do ventre.
Agora, é o coração que se rompe, e não importa a idade, voltamos a ser pequenos, pedindo colo ao mundo.

A dor é o outro lado do amor — e só dói tanto porque foi imenso.
Com o tempo, a lágrima vira saudade, e a ausência, lembrança viva.

O amor de mãe nunca parte.
Ele permanece habitando os nossos silêncios.

Inserida por KARINAGERA

O Homem e Sua Luta

William Contraponto

No campo onde a terra sente o peso,
Pepe caminha, mas não pede perdão,
sua vida é mais que um simples recomeço,
é a luta viva contra a opressão.

Sem ouro, sem trono, seu olhar é franco,
com mãos calejadas, mas alma acesa,
na verdade que surge de um simples estanco,
sua liberdade não é uma mentira, é certeza.

Na prisão do corpo, ele se fez inteiro,
não cedeu ao luxo que corrompe o ser,
seu coração é campo, seu espírito é feitor,
na luta constante por um outro viver.

Ele diz: "a felicidade não é mercado",
não vive por nada que o poder decida,
seu país é a rua, seu exílio, o fardo,
onde a justiça nasce, na raiz da vida.

Mujica, a lição que jamais se apaga,
um homem que resiste além da dor,
e na memória do povo, sua chama nunca se apaga,
pois o verdadeiro poder está no amor.

Inserida por Fabrizzio

O Vício Invisível
William Contraponto

O pior vício é aquele que não se vê,
não há marcas no corpo a denunciar,
mas na mente, o jogo cresce em segredo,
e o coração se perde no não-lugar.

Não há suor, nem tremor na mão,
é o silêncio que arrasta a razão,
sem dor visível, mas um abismo profundo,
onde o ser se dissolve em pura ilusão.

A cada aposta, um pedaço da vida,
mas ninguém vê, e ninguém pode saber,
é o vício que se oculta na mente perdida,
como um fogo que consome sem aparecer.

E o pior é que não se sente a prisão,
não há correntes, nem marca a pele,
mas a alma se fecha, sem direção,
e a esperança se esvai, sem que se revele.

Inserida por Fabrizzio

⁠O AMOR QUE EU SEMPRE QUIS

Não busquei um amor para um minuto,
para uma hora, um dia, um mês, um ano,
nem pretendi amor substituto,
por uma mero capricho leviano.

Quis um amor, sem me cobrar tributo,
sem metas a cumprir, sem grande plano,
que fosse livre, inteligente, arguto
e até capaz de se mostrar insano.

E te encontrei, sem procurar por ti,
porque de mim estavas muito perto,
tal como agora estás comigo, aqui,

ouvindo-me dizer que sou feliz
por nossa comunhão ter dado certo
e por teres me dado o amor que eu quis

Inserida por memoriadekleberlago

FELIZ DEMAIS

Guardo por minha vida boa e amena
um grande amor, e sinto a toda hora
que, enquanto o amor me alegra e revigora,
pensamento ruim não me envenena.

Sei aceitar de forma bem serena
mesmo o que chegue e logo vá embora;
assim, posso afirmar que até agora
tudo o que já vivi valeu a pena.

Tenho o pouco que quero, durmo em paz,
sempre no estado de feliz demais,
na lide, entre os amigos e no lar.

E só me aventaria desagrado
se porventura eu não tivesse achado
tanta gente no mundo para amar.

Inserida por memoriadekleberlago

⁠UM QUADRO DA INFÂNCIA

Sem mostrar resistência a essa vontade
de visitar os tempos de criança,
ponho na mão meu livro de saudade
e folheio lembrança por lembrança.

O olhar de minha mente assim me invade
a infância por inteiro, e logo alcança
uma linda menina da cidade,
loura, de olhos azuis e fala mansa.

Foi ela, certo dia, sol já posto,
que, após eu mal pisar sua calçada,
parou-me, com as mãos prendeu-me o rosto,

esfregou sua boca em minha boca,
e em seguida, saiu em disparada
para dentro de casa, como louca...

Inserida por memoriadekleberlago

⁠A RESPOSTA

Nos encontros que nossa turma faz
para um chopinho em tardes de calor,
os meus verbais excessos em louvor
a Pedreiras viraram triviais.

Há nessa confraria um bom rapaz
que, um dia, me pediu para lhe expor
a razão de eu guardar tamanho amor
por uma terra onde não moro mais.

Só que o moço ficou meio sem jeito
quando eu, apontando para o peito
e expressando emoção, lhe respondi:

– É verdade que já não moro lá,
porém minha Pedreiras sempre está
dentro de mim, morando bem aqui!

Inserida por memoriadekleberlago