Poemas a um Poeta Olavo Bilac
Cemitério de Respostas
Em nosso cemitério de repostas,
Fantasmas de um passado que não volta,
Pelo menos para nós e nossas viúvas,
Amores que perdemos nessa chuva,
E agora jazem em companhia de outras covas.
Provas de nossa ingratidão,
Infidelidade, desprezo e desespero,
Associados a insatisfação.
Cemitério de Respostas.
E as traições poderão descansar,
Junto às ervas daninhas do canteiro,
Terei as ladainhas do coveiro,
Derramadas sobre meu caixão,
Mas antes encaixotarei as faltas,
E as sepultarei no cemitério de respostas.
Cemitério de Respostas.
Seus tornozelos doloridos,
Um repuxão, devido à queda do balanço.
Mas surgia um novo dia,
Ela enrolou seu lenço no pescoço,
Um desjejum de algumas delícias.
Mamãe abotoou a gola de linho,
Penteou seus cabelos, fez carícias,
Regou as plantas com carinho.
Colheu um ramo de cerejeira,
Organizou a estante, os bibelôs
E as porcelanas na penteadeira;
Encostou as tramelas dos vitrôs.
Num abismo ruiu o humanismo,
Perpetuou-se o sacrilégio,
Entre o maligno e a bondade,
Um eterno conflito cego.
Degustando a programação,
Cuspida de seu televisor,
Vomitando a superstição,
Que veio impor um estupor.
Longa Róliudiâno
Produção barata,
Intérpretes de terceira,
Tapumes pré-moldados,
Um script de asneiras,
O possante, os malvados,
Pancadaria e bebedeira,
Rachas, berros, tiroteio,
A cachoeira, a ribanceira,
Jaquetas pretas, o rodeio,
Marshmelows e a lareira.
Trampando em lanchonete,
Tramando contra o tédio,
Trafegando na internet,
Traficando seu assédio.
Nível tático e diabólico,
Arremessando o currículo,
Adversários do bucólico,
Avaliados num cubículo.
Degustando a programação,
Cuspida de seu televisor,
Vomitando a superstição,
Que veio impor um estupor.
Taquei noutro canal, cansei daquela vista,
Tive a impressão de que me vi Protagonista.
John, Jane and Joanne,
Loucamente alucinados,
Trucidando o quotidiano,
Exaltados, desvairados,
Num Longa Róliudiâno.
Em um Império remoto,
Longe de qualquer progresso,
Imperava um Imperador,
Temido por seus excessos.
Nos registros do reinado
Anotava-se um prefácio,
A paixão de um sangue azul
Pela empregada do palácio.
Brisa da tarde, vá onde não posso,
abraçar a quem quero bem,
traga de volta um abraço,
porque eu quero também !
Existe o que sempre existiu,
Um parto trágico e impreciso,
Temporadas no calabouço febril,
Equilibrando na ala do improviso.
Aspirante a Vilão
Berto se revoltou completamente ontem, um surto capaz de mudar toda a sua trajetória até então, mas ele não mudou. Era imutável, era fechado, era Berto. Pediu demissão de mais um emprego entre inúmeros no último ano, eremita insaciável, insatisfeito, inconsolado. Mandou seu superior pro inferno, engolia ofensas há meses, Berto não nasceu para se submeter, era insubmetível. Jogou uma caixa de arquivos na cara do canalha, que lhe ordenava ordens insensatas, um cretino munido de idiotices hierárquicas.
Berto virou um demônio e pediu a Deus que lhe desse discernimento, para não cometer ali uma atrocidade. Aquela saleta fedia uma loção barata e desodorante vencido, misturado com cheiro de banheiro e desinfetante caseiro. Divisórias mofas exerciam sua tarefa mal sucedida de serem repartições, isolando os ambientes, descumprindo a missão de ocultarem as conversas em voz alta e os berros exaltados de chefes e subordinados neuróticos e estressados.
Aquele bairro tinha se tornado uma grande privada satélite, anexada ao centro velho e abandonado da cidade, um território esquecido por seres civilizados, antro supremo das mais relevantes categorias do tráfico, drogas, armas, contrabandos e piratarias de todos os gêneros imagináveis, prostituição. O lar do crime rigorosamente organizado, refúgio de marginais, imigrantes, putas, travecos, ligeiras, minorias, desempregados, miseráveis e mais miseráreis, mas nenhum culpado.
Dizer que não é fácil ser honesto no paraíso dos corruptos seria inocência demais, honestidade e dignidade não existem, são basicamente impossíveis de serem praticadas, num lugar como este. O próprio ar em si é corrompível, as ruas não alimentam o crime, o crime alimenta as ruas, sem ele não há forma de vida aqui; e ninguém é culpado.
Na Temível Batalha de um Só contra Si,
Intimamente confrontado, vê o que vi,
Culposamente inocente, lê o que li,
Despovoado está;
Só está em Si.
Está Só em Si,
Na Temível Batalha de um Só contra Si.
A Temível Batalha de um Só contra Si
Os Relacionamentos cristalinos,
São Turvos como as profundezas,
O Forasteiro é baleado sem motivos,
Os Pretextos comprovam incertezas.
Surge migrando como uma gaivota,
O Enraizado patriota, peregrino.
Gigantesco, porte-médio, pequenino,
Estrangeiro perto de ser recebido,
Fatalmente banido, bandido.
Nem tudo precisa rimar,
Nem tudo precisa fazer sentido,
Mas tudo precisa ser escrito,
Como se tudo fosse aquilo.
Na Temível Batalha de um Só contra Si,
Intimamente confrontado, vê o que vi,
Culposamente inocente, lê o que li,
Despovoado está;
Só está em Si.
Está Só em Si,
Na Temível Batalha de um Só contra Si.
No fundo ainda sou aquele garoto,
Que sonhava em ser herói,
Salvar a ninfa, abater o nefasto,
Um garoto com um hobby que não dói.
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