Peso
“Se não quer carregar um peso, não seja um trem, se não está contente com suas escolhas, não crie trilhos.”
"Para provar que é melhor que os outros burros, o burro coloca mais peso ao invés de largar a carroça."
MALA CERRADA
Abandonada no canto
Mala fechada
Quieta, calada
Por onde andaste
Alegrias e prantos
Asas cansadas
Casco judiado
Hora e outra
Voltas ao pago
Porto seguro
Remenda os estragos
Descarrega os excessos
Mede o necessário
Acomoda carinho
Ao que tem importância
Infeliz na ganância
Leveza de infância
Volta teu rumo
Carrega esperança
Repleta ou vazia
Depende o momento
Sopesas destino
Tendes temperança
Rota sinuosa
Concessão de uma dança
Entregue-se a alguém
Que faz diferença
Balanciando as cargas
Mudando de ritmo
Nesse compasso
Surprendente da vida
Mais comedida
Ou mais atrevida
Estando parada
Não troca a estação
Que te firmem as mãos
Cerradas no peito
Aceitando teu jeito
Idas e vindas
Explosão de emoção:
Alma que brinda!!!
O Peso Invisível
✍ Por Diane Leite
Dizem que o home office foi a grande revolução do trabalho. Dizem que agora podemos conciliar tudo – carreira, filhos, casa, sonhos, ambições. Dizem que podemos trabalhar no conforto do lar, produzir enquanto assistimos ao crescimento dos nossos filhos. Dizem tantas coisas…
Mas ninguém diz a verdade.
Ninguém fala sobre as palavras interrompidas, sobre o cursor piscando na tela enquanto uma voz infantil chama sem parar: “Mamãe, mamãe, mamãe…” Ninguém menciona o caos mental de tentar responder um e-mail enquanto alguém puxa sua blusa pedindo atenção. Ninguém fala sobre a raiva silenciosa de tentar construir um futuro enquanto mãos pequenas tentam te puxar para o passado – para aquele tempo em que você era apenas mãe, apenas colo, apenas entrega.
O mundo aplaude pais que trabalham de casa, admirando sua dedicação e equilíbrio. Mas quando é a mãe que tenta, o que ela encontra? Um labirinto sem saída.
Ela tenta negociar, tenta explicar.
"Filho, me dá só mais meia hora e depois a gente brinca."
"Mamãe está ocupada agora, mas depois vamos ver seu desenho favorito juntos."
"Por favor, me deixa terminar isso, é importante."
Mas as crianças não entendem tempo. Elas entendem presença. E quando percebem que a mãe está ali, mas não está, insistem, persistem, exigem. Querem tudo. Querem agora.
E a mãe?
A mãe não está frustrada porque não ama o filho. Não está frustrada porque não quer estar ali. Ela está frustrada porque precisa pagar as contas. Porque precisa trabalhar para sustentar o filho que, ironicamente, é quem a impede de trabalhar.
E o pior: a criança não entende.
Ela não sabe que aquela mãe exausta que pede “só mais um minutinho” está tentando garantir um futuro para ela. Não sabe que, enquanto brinca distraída, aquela mãe está planejando, negociando, buscando um jeito de fazer tudo funcionar.
A mãe engole a raiva. Engole o cansaço. Engole o grito que quer sair.
Porque o mundo já a ensinou que mães não devem sentir raiva dos próprios filhos.
Porque o mundo já a convenceu de que esse é o seu papel e que reclamar é ingratidão.
Mas lá dentro, um vulcão silencioso se forma.
Não é culpa.
Não é medo.
É frustração.
Porque enquanto o pai seguiu sua vida, ela parou. Enquanto ele construiu, ela segurou tudo sozinha. Enquanto ele dormiu tranquilo, ela ficou noites em claro, estudando terapias, pesquisando tratamentos, garantindo que aquele ser pequeno e frágil tivesse um futuro.
Agora que o filho cresceu e que ela finalmente tenta respirar, tudo parece puxá-la de volta para aquele tempo de doação total. O tempo que parecia ter ficado para trás, mas ainda vive dentro dela.
Ela sente raiva porque percebe que ninguém vai dar esse espaço a ela. Ela terá que tomar esse espaço.
Mas ninguém ensina como.
E então ela segue, tentando negociar, tentando encontrar um pedaço de tempo entre as exigências do dia.
O cursor ainda pisca na tela.
Os e-mails ainda esperam.
Os sonhos ainda querem nascer.
Mas há um peso invisível sobre seus ombros.
O peso de ser mãe e ser mulher ao mesmo tempo.
O peso de carregar tudo enquanto o mundo finge que não vê.
Mas ela vê.
Ela sente.
E um dia, de algum jeito, ela vai conseguir respirar de verdade.
E não pedirá mais desculpas por isso.
Diane Leite
Não quero sentir o que estou sentindo. É demais para mim suportar um peso que não é meu. Estou tentando com todas as minhas forças me livrar, mas não me preparei para isto. Hoje, luto para não morrer internamente.
Por que sinto este peso? Esta agonia rasga minha fé e me coloca frente a frente com um jogo que considero perigoso demais.
Por que tenho que carregar todo este peso? Será mais uma prova que terei que passar? Eu tinha certeza absoluta que já tinha passado, porém as minhas indecisões me mostraram o contrário.
"A grandeza não está no que se possui, mas na verdade que se carrega. Melhor é caminhar com a alma leve do que carregar o peso de uma ilusão."
Roberto Ikeda