Pedro Bandeira - Identidade
Quando vemos uma pessoal procurando afanosamente alguma coisa num terreno, o homem sábio pode propor um quebra-cabeças para que o resolvam os espectadores: que perdeu essa pessoa? Alguém supõe que foi um relógio; outro que é um broche de diamantes; e outros arriscarão respostas diversas. Depois de fracassadas tôdas essas respostas, o homem sábio, que na verdade não sabe o que procura a pessoa no terreno, diz aos espectadores: "Eu vos direi. Perdeu fôlego."
Se olhe no espelho, veja, diga quem tu és
Não tente parecer nada além de você mesmo
Pare de vestir sonhos alheios, frustrações alheias
Pare de escrever sua história a esmo
E A CADA DIA ME SINTO MAIS ESTRANHA, COMO SE PARTE DE MIM SE ESVAÍSSE LENTAMENTE, SINTO QUE AOS POUCOS DEIXO DE SER EU MESMA.
Não sei quem sou.
Nunca soube quem eu fui.
Mas agora sei quem eu hei de ser!
Serei o vento soprando na noite fria.
Serei o canto dos pássaros traduzindo a tristeza do mundo.
Serei as lágrimas que escorrem sobre o rosto de uma triste menina.
Serei as águas quebrando na beira da praia.
Serei os olhos tristes de alguém descontente.
Serei a boca clamando piedade.
Serei o coração sangrando e pedindo igualdade!
Mas um sapo é um sapo, e mesmo que o coloquemos para dormir numa cama com colcha de seda indiana, ele irá logo sentir saudades e preferirá o lago sujo e escuro, que é de sua natureza.
As pessoas buscam outras para fazer as coisas por elas, pare de procurar ajuda de todo mundo, a vida começa e termina com você, a sua identidade começa e termina com você.
Às vezes, a gente tenta mudar para agradar alguém, fica naquele lance, e se eu fosse assim? E se eu não fizesse isso? E se eu tivesse isso? Tudo bobagem. No fim só acaba presa na teia de um conflito existencial dos diabos. Quem gosta de você, gosta pelo que você é, do jeito que você é. Se você mudar deixará de ser a pessoa que é, logo não será mais quem esse alguém se apaixonou.
Confesso, que é possível melhorar coisas em nós, fazer algumas concessões porque a rigidez sufoca os relacionamentos, mas querer ser outra pessoa definitivamente não dá certo.
Seja você mesma com humildade, uma hora vai aparecer alguém que vai te amar exatamente como você é, e sobretudo, pelo que você é.
Você pode ser o que quiser – desde que tenha certeza de que é isso mesmo que você quer, e não que fez uma escolha entre duas opções péssimas que lhe são impostas.
Os artistas, escritores, cineastas e outros, descrevem e gostam de personagens que estejam na situação de estrangeiros,
porque o estrangeiro, por si só, guarda dentro dele personagens e personalidades com várias nacionalidades num único sujeito.
O casal tem como aliança afetiva a frustração da vida. Ela encontra em Paco a juventude perdida, sepultada pela solidão de tantos anos no estrangeiro. A trilha sonora Vapor Barato, composição de Macalé (década de 1970), na voz de Gal Costa, reforça e veste com harmonia a metáfora amorosa vivenciada pelo casal
para quem nada resta apenas o amor
A poesia pela qual o filme está embrulhado, dentro da cena do velho navio encalhado no mar (que vai de encontro com a letra da música Vapor Barato). A simbologia desta imagem leva-nos a pensar que ela representa a impossibilidade de seguir ou retroceder, tal como os dois personagens que permanecem estáticos dentro do
contexto da clandestinidade, numa vida reticente, sendo corroída pelo tempo, como uma matéria bruta, como o velho navio enferrujado que não chegou ao destino final.
O filme, todo em preto e branco, reforça a imagem de um clima de ausência de cores na vida das pessoas e do país, para melhor demarcar seu contexto histórico.
Terra Estrangeira na sua linguagem artística, conta de forma subliminar como o ‘herói’ Collor, que trocara seu cavalo branco por
um jet-sky, promovera a entrada do capital estrangeiro no Brasil e a retenção do próprio capital nacional aqui.
Nos prostremos diante da Verdade, daquilo que nos molda, o que nos identifica em meio a multidão; O quem somos, o porque do nosso existir. Que seja nossa vida, verdade partilhada!
