Passa
Quer saber?
O tempo passa tão depressa
Sem que nada aconteça
Sem que se perceba
Que as horas fizeram fila
Organizadas
Caladas
E que cada uma passou sozinha
Isolada
Pela sua vida
Pela minha
Sem dizer nada
Qual se tudo fosse essa mesmice
Lentamente apressada
Que a gente quase que não teve tempo
Pra viver
Uma estrada
Uma porta jamais atendida
Apesar das batidas
Por isso foi só vivendo
Sem ver que o tempo passava
Por isso
Não viu
Não falou
Tampouco ouviu
Quase nada.
Edson Ricardo Paiva.
Em vez de contar
O tempo que passa
Desmonto mentalmente
A uma lembrança
Dessas, que vem com o tempo
Nessa alma de criança
Conto as peças, cresce o faz de conta
Um brinquedo feliz, a vida
Ela é
Mas quebra fácil e dura pouco
Se despedaça e desmancha
e perde a graça e a magia
...se aprende a contar os dias
Procuro o que há de mais
e de menos humano em mim
Nada chego a concluir
Mas suponho
Que ambas sejam a mesma coisa
Enquanto a criança
Seriamente
Escuta histórias que lhe contam
Sobre outra criança
Que gostava de olhar o trem
Contar vagões
Pular
Ladrilhos de quintal
Nas horas comuns de uma vida
Sem nenhuma em especial
Essas, não houve
Teve a vida, como um todo
Contava gotas de chuva
Suspensas nalgum varal
Batendo umas nas outras
Igual se tivessem
Pressa e hora marcada
E não tinham nada além
Daquilo que tem quem sabe sonhar
Sem se perder no trajeto
Entre si mesmo e a vida
Essa, passa tão despercebida
Quanto uma linda tarde de infância
Em que a gente teve medo
De sair para brincar, porque chovia
Desde então, eu parei de contar
Só me lembro que choveu naquele dia.
Edson Ricardo Paiva.
Nuvem branca, que passa lá no céu
Suave, leve como a vida deveria ser
Se tudo fosse como a gente quer
Arranca do meu rosto este tão breve sorriso
Pois é preciso viver e sorrir
Nuvem doce, que este claro céu nos trouxe
Doce como a tudo que pedimos que essa vida nos trouxesse
Suave e leve como a brisa que pedimos ao dia
Que um dia levasse de nós a toda qualquer tristeza
Assim como a toda mágoa e a má vaidade
Que só verdades saíssem de nossos lábios
Mas em formato de poesia e palavras boas
E que a gente deixasse o que há de bom em nós ao mundo
Carregasse com a gente
O resto de tristeza que o tempo não pôde apagar
Que seja simples e modesto, tudo que deixarmos
E, se for possível, carregado de pureza
Da melhor pureza e do melhor amor
Que, porventura, um dia tenhamos sentido
Aquele tipo raro de amor, carregado de leveza e bons olhares
...e de um resto de entardecer, que deixa tudo mais bonito
E que não é todo coração deste mundo que está preparado
Pra ler o escrito que Deus deixa lá pra gente
Lá na linha do horizonte
Pois há um tempo de sorrir
E um tempo de sentir vontade de sorrir
Mas se vem o tempo de nó na garganta
Que ele seja só da gente
Chorar é preciso também, pois mentir não adianta
Mas que Deus nos faça chorar de contentes
Leva este meu recado a Deus, clara nuvem do céu
Pois eu fico aqui no aguardo
Do retorno deste vento que te move
Volta em forma de alegria
E, nesse dia, vê se chove em mim também.
Edson Ricardo Paiva.
O tempo passa
pelos meus sapatos
Na calçada, feita em pedra e lama
Passa, com destino ao nada
Enquanto eu passo pela porta
Passa a hora pelo lampião de azeite
Passa pela chama de uma vela que minh'alma aceite
A luz da aurora, a fresta da janela, o dia acorda
Nada mais te resta, que senão viver
Passa pelo leite derramado
Passa e não pelos ponteiros
Fica ali, no tosco vidro mostrador
Que, fosco, perde o brilho
Passa...e dessa vez digo depressa
Não se faz passado como antigamente
E mesmo que as luzes iluminem
As vitrines do mundo já nem chamam mais tua atenção
O tempo passa pelo coração que bate
O tempo passa e não pelos ponteiros
Passa pelo lado avesso, aos olhos de meu pai
Depois vai lá, ter com meu filho, que mora distante
Corre pela gente, mas de modos diferentes
O tempo passa como um raio pela água do café, fervente
A gente nem se lembra mais
Quantas colheres colocou de quê
E quando vê
Tá bebendo por engano
Aquele, que era de ontem
O tempo passa lento aos apressados
Que por mais quaisquer segundos que eles contem
Perdem momentos aos montes, milhares, sem sequer saber
Que a semana de amanhã foi mês passado
O tempo passa lento aos infelizes
Que impõe crises à felicidade
E moldam fatos concretos
Pra poder ser infelizes
O tempo traz relatos
Dando conta sobre um cínico egoísmo
E desde que o mundo é mundo
Este sim, sempre subiu de patamar
E há de durar pelo tempo...que o tempo há de durar
Infelizes sim, de fato e até o fim
O tempo
Passa pelos meus sapatos
Na calçada, feita em pedra e lama
Ando devagar de medo, pode acontecer
de eu escorregar e de cair, cair como a noite
Porém
Além de perder compromisso
O cuidado é todo em vão
O preço disso é o passo em falso, o tropeção futuro
Abjeto ser, que vem devagarinho, ele vem
Não ponho a culpa em ninguém
Os caminhos do mundo nunca foram, nem jamais serão
Perfeitos como os cegos olhos a trilhar
O rumo escuro e fácil, rumo à perdição
Esse sim, tem prumo reto, argúcia, perfeição.
Edson Ricardo Paiva..
Parece que em certas tardes
O tempo passa
Um pouco mais devagar
Como se fosse
Uma tarde escolhida
Pra que a gente
Olhasse nuvens antes de chover
Contasse ondas do Mar
Imaginasse Estrelas distantes
Pensasse na vida
Conscientes
de que elas estão realmente lá
E depois olhasse
pras paredes que nos rodeiam
E, de alguma maneira
Tivesse em mente
Que por mais que se conte
Olhe e imagine
Aquilo que conhece
Algo vem e nos fala
Que se realmente quisermos
Pode ser que não seja tarde
e ainda pode acontecer
Que tudo aquilo
Que ontem parecia
Impossível e distante
de repente
Nos alcance
e nos toque
E faça
Que a sua mente troque
A maneira de ver
e de sentir
e de contar
e de querer
Aquilo que era impossível
e veja
Que talvez até nem seja
Pois, com certeza
Não é
A vida de cada pessoa
É um grão areia
A compor um enorme deserto
Sua existência não passa
de algo que parece
ter acontecido por acaso
mas deu certo.
Cada vida é uma coisa única
Voando ao sabor do vento
Ás vezes entra numa tempestade
Mas existe uma Força Superior
Que pode dar ordens aos ventos
E ele as obedece
e não questiona
Com o tempo alguns grãos de areia
Sobem, enquanto outros descem
E nessas idas e vindas
Vão tecendo seus caminhos
Obedecendo à Leis Imutáveis
Se chover, todos se molham
Se esfriam, todos congelam
Se o vento sopra, todos voam
Mas os ventos não sopram à toa
É preciso atravessar
Grandes tempestades
e viver uma grande epopéia
Pra que cada um de nós,
finalmente reconheça
A sua humilde condição
de ser um simples grão de areia
A vida passa, o vento sopra
Meu cigarro se torna fumaça
As copas das árvores
Que ontem eram arbustos
Adentram pelas janelas
As gotas d'agua da chuva
Contrastando à luz do Sol
revelam cores tão belas
A vida passa, o vento sopra
As belezas, antes viçosas
das pessoas orgulhosas
hoje já nem são mais
assim tão belas
Apenas o Céu e a Terra
permanecem imutáveis
Mas sempre haverá outras belezas:
Aquelas, presentes na alma
Que só de olhar
Dá vontade de estar junto
Pois com a sabedoria do tempo
Souberam cultivar e cativar
um sentimento
Que a beleza passageira
com sua efemeridade
Não possui
A vida passa, o vento sopra
Quase tudo vem a ruir
Exceto aquilo que era bonito
e foi cativado no espírito
Essas belezas não passam jamais
é algo que na história de cada um
Permanecerá pra sempre escrito.
A vida passa, o vento sopra...
O tempo passa, corrói a ferrugem, rói a traça
porém há belezas ocultas, mesmo que nada se faça
nem tudo na vida perde a graça.
Tento entender
O que se passa comigo
Com o Mundo
Com a vida
E enquanto isso
O tempo passa
E eu envelheço sem saber
O Mundo gira sem sentir
A vida escoando
Por entre os dedos
Eu procuro dar sentido
Na medida em que coincidem
As várias modalidades
de incerteza
das vidas que aqui vivemos
Meu Mundo e único abrigo
Onde a melhor amiga
é esta vida
Na qual eu mesmo
Faço de mim
O pior inimigo
Estradas de Pedra.
Enquanto a chuva cai
A noite passa e vai pela janela
Pra perto da estrela distante
Na mesma velocidade
Pensamento, instante, vagam
Pedra lisa, estradas sem destino
Que se aprumam
Indiferentes, se acostumam
Vai durar uns meros séculos somente
Durante as tempestades
Quais relâmpagos colidem
Que se agridem pelos ares
Olhares idem pela escuridão que espero
Pra depois, durante as calmarias
Vir buscar-me em sonhos
Pois, durante a madrugada
Não serão jamais pisadas
Vão nascer de novo, sempre vão
No primeiro desvão, por onde invade o sol
Da primeira manhã de alguma infância
Há de ser nova
A primeira manhã de todas as manhãs
Traz consigo o gosto verdadeiro
Do primeiro sol que arde n'alma nascitura
Pensamento, instante, invade
Vai durar uns poucos séculos somente
Indiferente às estradas de pedra
Que foram feitas só pra ser pisadas.
Edson Ricardo Paiva.
Enquanto o mundo gira
bailando ao redor do Sol
seu tempo passa
indiferente a tudo isso
nascem flores
nascem gentes
você cumpre compromissos
a Terra continua girando
evoluindo rumo ao nada
o tempo passa sem fazer ruído
a vida passa sem fazer sentido
carvões se tornam diamantes
ornamentam as Tiaras das princesas
nunca nada será como antes
esta é a única certeza
Deitado em meu quarto eu escuto
o surdo silêncio da noite
mais uma noite que se passa
são coisas assim, pequenas
que fazem a vida ter graça
sem sono, a vigília serena
se traduz no farfalhar
que o vento faz nas folhas
coruja lambendo as penas
o crepitar do fogo
só as nuvens despercebidas
parecem enciumadas
de repente se fazem sentidas
trovejando, relampagueando
rompendo a serena calma
mas se ainda chove neste mundo
a paz vai reinar em minh'alma
e faz-me dormir em paz
com as bênçãos que ela traz
Eu me sinto meio que esquecido
a cada dia que se passa
mas não me sinto ressentido
na vida tudo tem um preço
talvez seja isso mesmo que eu mereça
enquanto caminho sozinho
com memórias cheias de ferrugem
eu me enxergo assim
incapaz de desenhar a vida
com as cores que agora exigem
sinto minhas mãos calejadas
os olhos cheios de fuligem
porém, caminho ainda
debaixo de um Sol escaldante
mas deixei de ser preponderante
já faz alguns invernos
momentos são sempre momentos
somente pensamentos são eternos
um dia a vida bate
e no outro a gente apanha
os dias de vitória vejo
cobertos por teias de aranha
a cada dia que passa
e descubro que na vida nunca tive
qualquer proeminência
e que junto com os sonhos
também há de naufragar
os dias que vivia na inocência
tem dias em que eu me sento
sob as sombras dos muros do inferno
mas Deus vem e diz que aquilo
que hoje é velho
amanhã será moderno
A vida passa
E voa ao vento
Voa leve
como algo escrito
Numa folha de Papel
Seus pensamentos
Feios ou bonitos
Assim como seus atos
Alcançam a Estratosfera
Assim como os Meus
Ai, Meu Deus
Quem dera
Viver apenas coisas boas
E permitir
Que meus pensamentos impressos
Voassem à toa
E pudessem espalhar
Ao longo de todo o Universo
Versos Felizes
Colorindo
Com todas as Matizes
Alegrias
Multicoloridas
Ornamentar a minha
a sua
E todas as Nossas vidas
Presentes e Futuras
Transformar em Arco-Íris
As agruras existentes
E ver a flutuar no ar
A Solução
De todas as tristezas
Que neste momento
Estão presentes
Em todas as nossas mentes.
Eu não compreendo o que se passa
Quando percebo
que pequenas coisas que me emocionam
Para a imensa maioria
Não tem e nunca terão
A mínima importância
A chuva durante uma tarde de verão
A nova versão de uma canção antiga
Uma pequena vitória
de qualquer pessoa amiga
O mendigo que sorri para você
Agradecendo a graça dividida
A tristeza inexplicável que eu sinto
Quando termino de ler um bom livro
A insustentável sensação
de ser e não ser livre
A vontade de saber voar
Contrastando com o medo de altura
A doçura do sorriso
daquela pessoa desconhecida
Que posou despercebida
Numa foto antiga da família
A saudade de amigos ausentes
O gosto de pitanga
Que a memória gustativa
Traz à boca
Eu posso sentí-las nos dentes
As plantinhas que nasciam
Nos cantos dos jardins
Nas escolas da minha infância
Incríveis coisas invisíveis
Que enxergava e ainda enxergo
Não é possível que os demais
estejam cegos
Despedida
Lágrimas pela vida, que tudo pára antes do fim... Por que a vida é sempre breve e passageira, se tudo perde a graça quando ela parte? Lágrimas de tristeza: corações estão em luto; lágrimas de dor e compaixão: perder é o que mais machuca; lágrimas de saudade: que injustiça é não viver! Um sorriso foi ser eterno e um sonho não durou para sempre. Porque alguém não teve tempo para ser feliz, e partiu cedo demais.
Dói lembrar que um dilúvio veio e estragou tudo, que toda a nossa alegria foi levada embora pela correnteza... Que uma nuvem negra escondeu o brilho de todas as nossas estrelas, e que todo o nosso céu ficou escuro. Dói saber que o filme de uma vida inteira pode acabar em alguns segundos, e que o final nem sempre é feliz.
É tão difícil dizer adeus! Pior ainda é não ter a chance de dizê-lo. Ter tantas coisas para falar e já não poder ser ouvido... Apenas um breve instante para pensar em como foi incrível enquanto esteve perto; e a eternidade para lembrar o quanto, porque ela será sempre especial.
O lugar mais fundo é onde todos os sonhos se acabam, onde a tristeza pode afogar-nos em lágrimas: é quando descobrimos o quanto dói perder alguém... E dói demais! Pois o destino nem sempre é justo; e a vida, às vezes, é cruel. Mas precisamos olhar para o céu amanhã... A estrela que mais brilhar será essa pessoa que amamos muito, de volta às nossas vidas. Foi a forma que ela encontrou de ser eterna para a gente.
"Eleva teu olhar
Que o instante passa,
Esquece o tempo
E urgências rasas
Vê os malabares que encantam as esquinas."
Carmen Eugenio
