Outros
A cada passo encontramos cãezinhos a brincar uns com os outros; parece que entre eles reina sincera amizade; mas se lhes atirardes um osso quando brincam, ei-los inimigos; pegam de rosnar, ameaçando, e daí a pouco dilaceram-se. Tal é, frequentemente, a amizade dos irmãos, de pais e de filhos.
A excelência pode ser obtida se você se importa mais do que os outros julgam ser necessário; se arrisca mais do que os outros julgam ser seguro, sonha mais do que os outros julgam ser prático, e espera mais do que os outros julgam ser possível.
Se não nos perdoamos por nossos erros, e aos outros pelos sofrimentos que nos infligiram, terminamos debilitados pela culpa. A alma não consegue crescer sob um cobertor de culpa, porque a culpa é isoladora, enquanto o crescimento é um processo gradual de reconexão com nós mesmos, com outras pessoas, e com um todo maior.
Uma das características do gênio é a intuição: ver sem esforço o que os outros somente descobririam com grande trabalho.
A demasiada atenção que se emprega em observar os defeitos dos outros, faz que se morra sem ter tido tempo de conhecer os próprios.
O que o moralista mais odeia nos pecados dos outros é a suspeita acusação de covardia por não ter coragem de os cometer.
Somos totalmente responsáveis pela qualidade da nossa vida e pelo efeito exercido sobre os outros, construtivo ou destrutivo, quer pelo exemplo quer pela influência direta.
A imagem que você projetar de si no espelho é a mesma que os outros estão vendo. Agora sorria e perceba como tudo se transforma à sua volta.
O que os outros pensam de nós teria pouca importância se não influenciasse tão profundamente o que pensamos de nós mesmos quando tomamos conhecimento da opinião alheia.
Elogio da Sombra
A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.
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