Outros
Quanto maior se é, mais repetido se é. Platão, Aristóteles, Kant, quantos outros. Ainda se não calaram nos que deles falaram. E é possível que só se calem quando a espécie humana se calar.
Estamos habituados a julgar os outros por nós próprios, e se os absolvemos complacentemente dos nossos defeitos, condenamo-los com severidade por não terem as nossas qualidades.
Se fôssemos sinceros em dizer o que sentimos e pensamos uns dos outros, em declarar os motivos e fins das nossas ações, seríamos reciprocamente odiosos e não poderíamos viver em sociedade.
É tão fácil enganar-se a si mesmo sem o perceber, como é difícil enganar os outros sem que o percebam.
Como podemos nós pretender que os outros guardem os nossos segredos se nós próprios os não conseguirmos guardar?
A vida ensinou-me que ninguém é consolado, sem que tenha primeiro consolado outros; que nada recebemos, sem que primeiro tenhamos dado.
O amor por um só é uma barbaridade: porque se exerce à custa de todos os outros. O mesmo quanto ao amor por Deus.