Os Velhos Carlos Drummond de Andrade

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Mas, se além do aroma, quiseres outra coisa, fica-te com o desejo, porque eu não guardei retratos, nem cartas, nem memórias; a mesma comoção esvaiu-se e só me ficaram as letras iniciais.

Machado de Assis
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881).

Saber decorado é não saber.

Não compartilho da crença num progresso infinito quanto às sociedades; acredito nos progressos do homem em relação a si mesmo.

Mas a compaixão mata, enfraquece ainda mais a nossa fraqueza.

Em uma terra onde tudo está por fazer, não seria o teatro, cópia continuada da sociedade, que estaria mais adiantado.

Machado de Assis
Diário do Rio de Janeiro, 1 dez. 1861.

Longe de educar o gosto, o teatro serve apenas para desfantasiar o espírito, nos dias de maior aborrecimento.

Machado de Assis
Relíquias de Casa Velha. Rio de Janeiro: Garnier, 1906.

A QUE VEM DE LONGE

A minha amada veio de leve
A minha amada veio de longe
A minha amada veio em silêncio
Ninguém se iluda.

A minha amada veio da treva
Surgiu da noite qual dura estrela
Sempre que penso no seu martírio
Morro de espanto.

A minha amada veio impassível
Os pés luzindo de luz macia
Os alvos braços em cruz abertos
Alta e solene.

Ao ver-me posto, triste e vazio
Num passo rápido a mim chegou-se
E com singelo, doce ademane
Roçou-me os lábios.

Deixei-me preso ao seu rosto grave
Preso ao seu riso no entanto ausente
Inconsciente de que chorava
Sem dar-me conta.

Depois senti-lhe o tímido tato
Dos lentos dedos tocar-me o peito
E as unhas longas se me cravarem
Profundamente.

Aprisionado num só meneio
Ela cobriu-me de seus cabelos
E os duros lábios no meu pescoço
Pôs-se a sugar-me.

Muitas auroras transpareceram
Do meu crescente ficar exangue
Enquanto a amada suga-me o sangue
Que é a luz da vida.

É mais seguro escrever do que falar; falando improvisamos, para escrever refletimos.

Ora, meu filho, o desespero é o resultado de uma visão errada da vida. Pare e pense. Erga a cabeça, que ela não foi feita apenas para ficar cheia de miolos, não. Pense, organize os seus pensamentos. Reorganize a sua vida e continue andando. Mesmo devagarzinho, ande. Não se permita ficar parado. Deus abençoa, mas é preciso ter coragem para a maior experiência do mundo - que é viver. Sempre há uma solução. Não existe dor, sofrimento ou mal que não tragam o seu ensinamento; não há problema que não tenha a resposta certa da vida.

Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...

Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperanças,
Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.

Álvaro de Campos

Nota: Trecho do poema "Insónia".

A felicidade é um susto. Chega na calada da noite, na fala do dia, no improviso das horas. Chega sem chegar, insinua mais que propõe... Felicidade é animal arisco. Tem que ser admirada à distância porque não aceita a jaula que preparamos para ela. Vê-la solta e livre no campo, correndo com sua velocidade tão elegante, é uma sublime forma de possuí-la.

Cerra bem as pétalas do teu corpo imóvel e pede ao silêncio que não vá embora...

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho de texto de Vinicius de Moraes.

Soneto de Montevidéu

Não te rias de mim, que as minhas lágrimas
São água para as flores que plantaste
No meu ser infeliz, e isso lhe baste
Para querer-te sempre mais e mais.

Não te esqueças de mim, que desvendaste
A calma ao meu olhar ermo de paz
Nem te ausentes de mim quando se gaste
Em ti esse carinho em que te esvais.

Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me
Sempre esse manso adeus de quem aguarda
Um novo manso adeus que nunca tarda

Ao amante dulcíssimo que fiz-me
À tua pura imagem, ó anjo da guarda
Que não dás tempo a que a distância cisme.

Não te rias de mim, que as minhas lágrimas
São água para as flores que plantaste
No meu ser infeliz, e isso lhe baste
Para querer-te sempre mais e mais.

Não te esqueças de mim, que desvendaste
A calma ao meu olhar ermo de paz
Nem te ausentes de mim quando se gaste
Em ti esse carinho em que te esvais.

Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me
Sempre esse manso adeus de quem aguarda
Um novo manso adeus que nunca tarda

Ao amante dulcíssimo que fiz-me
À tua pura imagem, ó anjo da guarda
Que não dás tempo a que a distância cisme.

Da morte apenas, nascemos imensamente.

Quando afirmamos que o passado foi melhor, condenamos o futuro, sem conhecê-lo.

O espelho reflecte certo;
não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo.

Não deixe que faça da sua vida um terreno baldio, faça uma cerca em volta dela, não deixe que coloque lixo nela.

Hei de seguir eternamente a estrada
Que há tanto tempo venho já seguindo
Sem me importar com a noite que vem vindo
Como uma pavorosa alma penada.

Sem fé na redenção, sem crença em nada
Fugitivo que a dor vem perseguindo
Busco eu também a paz onde, sorrindo
Será também minha alma uma alvorada.

Onde é ela? Talvez nem mesmo exista…
Ninguém sabe onde fica… Certo, dista
Muitas e muitas léguas de caminho…

Não importa. O que importa é ir em fora
Pela ilusão de procurar a aurora
Sofrendo a dor de caminhar sozinho.

Poço do céu
Sem borda, sem fundo
Onde está o balde?

JOSÉ

E agora, José?
A copa acabou,
a luz não pagou,
o juro subiu,
o boleto expirou,
e agora, José?
e agora, você?
Você, que é um número,
só um entre tantos
Você que faz empréstimos,
que compra, ostenta?
e agora, José?

Está sem sindicância,
está sem recurso,
está sujinho,
já não pode efetivar,
já não pode parcelar,
discutir já não pode,
a inflação aumentou,
o reajuste não veio,
o concurso público não veio,
o hexa não veio,
não veio a aposentadoria
e a corrupção dominou,
a justiça aboliu,
dr Enéas morreu,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce jornada,
seu direito de férias,
sua multa de rescisão,
sua Unimed,
sua bolsa de estudo
seu seguro desemprego,
sua gratificação,
seu 13°, - e agora?

Com direito a escolher
quer eleição,
não existe eleição;
quer votar,
mas o golpe forjou;
quer atravessar a fronteira,
O Sem fronteiras não há mais!
José, e agora?

Se você implorasse,
se você concordasse,
se você aumentasse,
a hora extra,
se você negociasse,
se você mendigasse,
se você protestasse...
Mas você não faz greve,
você tem orgulho, José!

Dobrando o turno
Qual um escravo,
sem segurança
sem hora almoço
para descansar,
sem conta poupança
que desafogue,
você tributa, José!
José, para quem?

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