Os Velhos Carlos Drummond de Andrade

Cerca de 140653 frases e pensamentos: Os Velhos Carlos Drummond de Andrade

A donzela casta e sincera que supunha vir encontrar desaparecia para dar lugar a uma mulher de coração pérfido e vulgar espírito.

Machado de Assis

Nota: Trecho do conto Fernando e Fernanda.

Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
Penetrando lentamente as solidões da minha espera
E tu eras, Coisa Linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera.
Vinhas cheia de alegria, coroada de guirlandas
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas.
Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, Coisa Linda
Como a fonte inacessível que de súbito está perto.
Pelas rútilas ameias do teu riso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
Eu te juro, Coisa Linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, Coisa Linda, dar-te muitas coisas lindas...

Não sei se me explico bem, nem é preciso dizer melhor para o fogo a que lançarei um dia estas folhas de solitário.

Machado de Assis
Memorial de Aires (1908).

Deixamos de amar a nós mesmos quando ninguém nos ama.

Então, se é digna de si mesma, não teima em espertar a lembrança morta ou expirante; não busca no olhar de hoje a mesma saudação do olhar de ontem, quando eram outros os que encetavam a marcha da vida, de alma alegre e pé veloz.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

E o que dizer aos que nunca dizem o que querem dizer?
Dizer que não sei o que dizer por não saber ao certo o que dizem?

Muito te ama quem te faz chorar.

De quando em quando, tornávamos ao passado e nos divertíamo-nos em relembrar as nossas tristezas e calamidades, mas isso mesmo era um modo de não sairmos de nós.

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).

O sândalo é o perfume das mulheres de Estambul,
e das huris do profeta; como as borboletas,
que se alimentam do mel, a mulher do Oriente
vive com as gotas dessa essência divina.

Você compreende, sem alimento, depois de três dias de marcha, meu coração não devia estar batendo com muita força...
Pois em certo momento, quando eu progredia ao longo de uma encosta vertical, cavando buracos para enfiar as mãos, o coração me caiu em pane...
Hesitou, deu mais uma batida... Uma batida estranha... Senti que se ele hesitasse um segundo mais seria o fim.
Fiquei imóvel, escutando...nunca - está ouvindo? - nunca, num avião, me senti tão preso ao ruído do motor como, naquele momento, às batidas do meu próprio coração.
E eu lhe dizia: Vamos, força! Veja se bate mais... Hesitava mas depois recomeçava, sempre...
Se você soubesse como tive orgulho do meu coração!
(Terra dos Homens)

O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.

Machado de Assis
Quincas Borba (1891).

O valor e o preço de um homem consistem no seu coração e na vontade, é la que se encontra sua verdadeira honra. A valentia é a firmeza, não de suas pernas e braços, mas da coragem e da alma.

O presente que se ignora vale o futuro.

Machado de Assis
A Cartomante (1884).

Para que vieste / Na minha janela / Meter o nariz? / Se foi por um verso / Não sou mais poeta / Ando tão feliz.

As lágrimas são tão contagiantes quanto o riso.

Oh! Gritarei a verdade mesmo no meu silêncio.

Os agravos despertam a cólera nos peitos mais humildes.

Rir de tudo é coisa de tontos, não rir de nada é coisa de estúpido.

Viver é gozar e sofrer, resistir e batalhar com os homens, as coisas, os eventos e os elementos.

Eu ainda não tenho condições de dizer o que aconteceu comigo, porque eu tenho medo de empobrecer o que eu vivi ali.