O Poeta e o Passarinho
VITRAL, CERRADO (soneto)
O cerrado é tal um vitral multicor
Se olharmos do horizonte é sombrio
Se aproximarmos é denso e luzidio
Seivoso nas partes e cheio de fulgor
E, é assim no seu sagrado feitio
Ornado de diversidade, senhor
Desigual, mas nos causa ardor
Verão pluvioso inverno seco e frio
Cerrado, igual vitral, encanto maior
Vento ao vento orquestrando assobio
Súbito, misterioso, da flora mediador
Regulai os olhos, ao olhá-lo vadio
De repente é tudo aos olhos, sedutor
E ao encanto, presságio e arrepio
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
APENAS UM VERSO (soneto)
Enquanto o dia no cerrado embotava
Em mim cavava o emotivo submerso
Dos porões dos medos que eu meço
Nas incertezas, que dá sorte brotava
Na aridez da saudade, ali disperso
No soluço d'alma a sofrência rolava
E na linha da recordação eu deitava
Aí, o sertão se tornava meu universo
Neste vazio a solidão por mim urrava
O destino rimava quimeras no averso
Então o coração amortecido chorava
Assim, eu com um olhar transverso
Devaneava sonhos, e lacrimejava
Pedaços de mim, forjando o verso!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
sem cena
quando menos se espera
o tempo nos aponta
fugaz foi a primavera
e damo-nos conta
sem que se queira
- ficamos velhos
sentados nesta cadeira
as dores nos dando relhos
a tempo sem eira nem beira
a solidão querendo ir e não vai
e a vida só de bobeira...
vai um
vai outro
um parente
aqueloutro
e de repente
vai a gente!
e a cena já era...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2019
Cerrado goiano
para a mãe que já não está entre nós
hoje é o dia de visitar a recordação,
onde a celebração da vida é saudade.
do vazio o meu, parabéns, em oração,
e neste abraço que se faz pela metade,
minha saudação.
nesta data querida, de descontinuidade...
a gratidão, o amor, em contas dum rosário,
de lembrança, de afeto, onde a dor brade.
onde estiver, mãe, feliz aniversário!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
julho
Cerrado goiano
Bolero de inverno no cerrado
No cerrado, seco, o sol da manhã
Nos tortos galhos, o ipê, a cortesã
De um inverno, em uma festa pagã
Desperta o capricho do deus tupã
Degustando a aurora tal um leviatã
E numa angústia, o orvalho, num afã
Do céu azul, num infinito, de malsã
Craquela o dia no seu tão árido divã
Do duro fado, tão pouco gentleman
E tão árido, tal uma agridoce romã
E vem o alvor, com o frígido de hortelã
Bafejando poeira cheia de balangandã
Tintando a flora em um rubro poncã
Zunindo o vento tal um som de tantã
Num bolero ávido por um outro amanhã...
São gemidos, uivos, sofreguidão
Correndo pelo sulco do cascalhado chão
Emergindo desse pântano, ressequida solidão.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, 27 julho 2018
Brasília, DF
INCONTENTADO (soneto)
Saudade sem dor, amor sem fantasia,
Que aperta o suspiro dentro do peito,
Que no sim perpetuado, assim queria,
Que nada mais se sente tão satisfeito.
Emoção, que o doce sossego repudia,
Na palavra rude dita sem o respeito,
E, tirando dos sorrisos toda a alegria,
Fica ferido, e sem qualquer proveito.
Que viva sempre a sede e a tua fome,
Paixão sem queixa, e sem lamento,
E que ebule o amor em suas rimas.
Sempre tenha, o nome que consome,
Que eu tenha sempre, contentamento,
No incontentado amar e suas pinimas.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, setembro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
ASSIM QUISERA EU (soneto)
Assim quisera eu, outra sorte
Ter o agrado dum amor afora
Sem o silêncio jaz de outrora
Onde o eu a alguém importe
De sol à lua, da vida à morte
O tempo veloz, age: e, agora
Se fico ou se vou dali embora
Nas asas dum sonho aporte
E logo, aquele: o ter podido!
Partido na saudade que chora
Chapada numa vil recordação
Assim, eu, poeto aqui perdido
Ideando! Devaneando na hora
Saudoso de ti: ignota paixão...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano.
CERRADO EM PRECE (soneto)
Cerrado é a candura do tardar do dia
Quando a poesia dos sinos, em trova
Choram o clamor do donzel ave maria
Canonizando ao encanto a boa nova
O sertão de alma sempre em prova
De messe varia no chão em teimosia
Toda a glória, resignação que renova
Do sereno à sequidão que então ardia
Da tua fulgência aos olhares é certo
Tua imensidão nos faz tão pequeninos
Céu de estrelas, em divinos pirilampos
E em uma prece a Deus Pai, decerto
Enaltecemos. Estes júbilos tão divinos
Da pluralidade de seus remotos campos
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro, 14 de 2018
Cerrado goiano
MADRUGADA DE JULHO DE 2015
Nesta madrugada, o seu silêncio escreveu saudades e com ele sua morte trazia...
Acordaste do sonho da vida, e tuas lembranças, nos acolhia...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
13 de julho, 2015
Cerrado goiano
Falecimento do meu velho pai.
(José Lino Spagnol)
DELÍRIO (soneto)
Descalço, mas pro cerrado não cabe tento
Em no teu chão, a total admiração extasia
E, em frêmitos pasmos, o meu olhar dizia:
- suntuoso, com todo possível argumento
Cantam os jatobás, encantados, ao vento
Fremente, os Joãos, Marias... os bóias-fria
Vão nos caminhos, cada qual na teimosia
Fazendo do dia em um novo nascimento
Em suspiros, seriemas, num agudo grito
No horizonte se misturam com o infinito
Regendo a alma do sertão num frenesi...
Neste fazer arrepiar em um doce arpejo
Na admiração, a diversidade em cortejo
Tudo se cala, ordena o delírio... Obedeci!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
06/11/2018, 06’06”
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
matiz
arco íris no cerrado
está sorrindo o céu encantado
que há pouco chorou, aperreado...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2016
Cerrado goiano
TALVEZ ILUSÃO, QUANDO SENTI (soneto)
Talvez ilusão, quando senti, mas sentia
Que, ao desânimo da alma nela enleada
Entre a dor, o fôlego, pelos poros subia
Numa preamar de esperança prateada
E eu a via no olhar, olhava-a... Ferroada
Assim em cada raio, aí então eu resistia
E construía degraus nesta dura escada
Mesmo que se risco corria... ou se feria...
Tu, alegria sagrada! E também, capital
Sede das sedes!... que venha por nós
Tal reticências, e não como ponto final
E, ó desejada! E tão buscada, aporte
Como um emaranhado de um retrós
Súbito. Vi que rompe na medida sorte!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
A Terra onde nascestes
Cresceu e tornou-se fato.
Na vida de seus filhos,
Onde conto esse relato.
Aqui o povo é de Jesus,
E também de Pilatos.
Chorar é bom para aliviar o peso do fardo espiritual. Todavia faça isso no segredo da noite reerguendo-se na fagulha de um Novo Dia.
Um idiota sozinho não oferece perigo algum. No entanto quando esse inepto é seguido por milhares de néscios a humanidade corre risco de vida.
Ajudar o próximo não pode ser visto como um ato de penitência, mas uma gratidão por encontrar a Paz Universal.
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