O Poeta e a poesia
MOTIM
No fundo da minha poesia, clamor
E ouço apertos e queixas sangradas
Milhões de aspirações sepultadas
Imaginações submergidas na dor
Às vezes, um vazio, palavras caladas
Mas, de repente, um tumulto estertor
Rangendo dentro do peito a compor
Devaneios, desdando ilusões atadas
Cortejos, motins: uivos e ácido luto
No castigado papel... broto e renovo
Em fermentação, dum estro bruto...
E há na intuição, de que me comovo
E no coro da inspiração que escuto
A magia do espírito num versar novo!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro de 2019, final
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
A vida não é calendário— é caminho.
Encha os dias de poesia,
independente da cor que ela se pinta.
Porque, como diz o poeta,
“viver é um ato de coragem”,
e a vida, no fim,
ainda tem a cor que a gente pinta.
OUVIR POESIA
Ora (direis) ouvir poesias! Exato,
Loucura! E vos direi, no entanto,
Que, da alegria ou de um pranto
Está lá, falante, no seu abstrato
E dialogamos vário, sem espanto
Porquanto, eu e ela um só retrato
Cintilante. Cheio de enigma e fato
Porém, em cada estrofe o encanto
Direis agora: tresloucado caro!
Que falas com poesia? Que razão
Tem o que indaga, neste amparo?
Aí vos direi: - amai pra entendê-las
Pois só quem ama pode ter emoção
E assim tagarelar-lhe sob as estrelas...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
08/11/2018, 05’30”
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
NO TEMPO
Sou o eu que marcha, que andeja
Princípio, sou fim, poesia agarrida
Levo o plural: a tristura e a peleja
As vaidades, e os alardes da vida
O tempo passa, repassa, ou seja
Corre, e nesta ventura, a medida
Pra cada hora: a fé, assim esteja
Os anos no muito na sua torcida
Vou levando acertos e os danos
Vou levando o tudo e o instante
O amanhã a extensão dos anos
Ninguém pode evitar o talvez
Assim, que tudo seja vibrante
E o amor, o primordial da vez!!!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
VERSOS TATUADOS
Corpo do soneto, em versos tatuados
A poesia em delírio, e a mão a poetar
Impulso que pulsa, sonhos sonhados
E vida, em cada estrofe o vário estar:
Do beijo, do laço, desejos desejados
A fé ao nosso lado ajoelhada no altar
Ah! e o amor nos corações acordados
Em perfumes que nos fazem embalar
A inspiração: - messe e dádiva, tributo
Pra alma, semeando e colhendo fruto
Hóstia da ideia em purgação. Pensar!
E assim, saudades: - dolorosa rama
Que pelos versos, chora e derrama:
Quimeras e sorte, na pele a versejar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, novembro
Cerrado goiano
SAGRAS
Há os sonhos ocultos
dizer o que? Vultos...
Há a poesia derrocada
calhorda a sua fornada
O dedo em riste, olha
insiste, a alma desfolha
Não há poetar sonegado:
- o verso nunca é calado
Há desencontro na colisão
também o meu e seu perdão
O fado tem vida peculiar
o amor não, tem de amar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
25/09/2019
Araguari, Triângulo Mineiro
divagar
dentro do cerrado
criava a felicidade
escancarava a poesia
inventava banalidade
e ia ao mundo da fantasia
hoje a realidade!
sem divagar...
vou devagar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
setembro de 2019
Araguari, Triângulo Mineiro
SONETO CAIPIRA
Fogão de lenha na poesia a poetar
Panela a chiar, vastidão pela janela
Cheiro da noite no negror sem tramela
Desprendendo olor na roça aformosear
O entardecer se tingindo de canela
No céu estrelas soturnas a navegar
Em uma sensação de paz, de amar
Amassando jeito matuto na gamela
É só silêncio, cigarro de palha a pitar
Saudade esfumaçada na luz de vela
Arando sensos num canoro devanear
Depois, uma pitada de solidão donzela
Acalentando as lembranças a revigorar
Ah, gostoso a vida caipira na sua tutela
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
IMMAGINAZIONE
Eu queria uma sumarenta poesia
Que as rimas dessem paladar e analogia
Aos aromas do fruto maduro do amor
Onde todos degustassem com prazer e sabor
O universo do vário gosto de cada verso
Do poema, carcomendo sentimento diverso
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro de 2016
Cerrado goiano
Eu conto
Cá na minha poesia eu conto contos
Eu conto nas entrelinhas desencontros
Nos sub textos a ficção de reencontros
Eu conto várias buscas de encontros
Conto as dores sem ter descontos
Eu conto os devaneios e confrontos
Faustos atos, reticências e pontos
Os sonhos em forma a serem prontos
Tricotados no amor em prespontos
Cá só não conto segredos de contrapontos
Particulares, os que deixam tontos
Estes só a mim mesmo... Eu conto!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
11'04", 11 de junho, 2012
Rio de Janeiro
SOMBRA
Sofro... Vejo envasado numa angústia furiosa
Todo a poesia que tive na intenção esmerada
Abandona-me o criar, e a alma ficou calada
No ter a exaltação, e a inspiração é vagarosa
Criei... Mas tive prosaico, e trama enleada
O desdém que sufoca, e a simetria penosa,
Sombria, numa chama ardente e dolorosa.
Que fazer pra ser bom, nesta vil jornada?
- Amar? - Perdoar? Eu ser apenas prosa?
Não sei, sei que amei, perdoei, mais nada,
Porém, não tive todo este mar de rosa...
Em sangue e fel, o coração me só é cilada
Remordo o papel, branco, em ter gloriosa
Chamada. E só vejo a quimera em retirada.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Setembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Lealdade da poesia
Pode haver um dia
em que se mude
de lugar, de atitude
mas leal é a poesia
ela que tira o tédio
gargalha de alegria
se veste de fantasia
ri, brinca, é assédio
também chora
partilha solidão
sem luz é escuridão
ora fica ora vai embora
uma coisa é fato
nos leva longe, além
além de ser desdém
de ter e ficar sem
fala o que convém
envolvente no vaivém
nina, acorda, porém
no relato melodia têm
e teor no quinhão exato...
Luciano Spagnol
...Pedaço de mim é poesia
Escritas em pedaços de vigor ou melancolia
Pedaço de mim é paixão
Nos pedaços do afeto onde sempre fiz alusão
Pedaço de mim é dor
Antagonizada nos pedaços da alma em louvor
Sou pedaços, parte, um todo no amor...
Minha poesia
Cada verso da minha poesia
Rima choro rima alegria
E neste côncavo e convexo
A voz e o olhar estão anexo
Na ilusão que delira cada trova
Atadas ao afeto e posto em cova
O que prova toda a alquimia
Da paixão que tenho na poesia
A lágrima escrita com sorriso
Também escreve o improviso
Da vida, com sua diversidade
“Poemando” toda a fertilidade
Da inspiração, do amor, da emoção
Todas rimas vindas do coração
A minha poesia é caipira é do mar
Do cerrado, montanha, qualquer lugar
(São falas da alma que se põe a poetar)
Adverso
Eu trago loucuras na lucidez
A poesia é a minha variedade
Inquieto translado timidez
Com palavras de venustidade
Trovando o amor exagerado
Do desalento da soledade
Me apego fácil ao ser amado
Mais fácil saio desta comodidade
Amo mais do que sou capaz
Tenho mais do que a prioridade
Se nos versos eu sou um audaz
No sentimento pura lealdade
Sou um eterno amador fugaz
Na inconstância tranquilidade
Um adverso com fragilidade, assaz
QUARESMEIRA
Floresce em fascínio e reflexão
A Quaresmeira em sua poesia
É silêncio, alma, esplendor, perfeição
No céu do cerrado colorido de magia
Encanta, embevece, nos conduz
Quaresmeira eterna emoção
Simplicidade ,saudade, luz
Aos olhos passo a passo canção
Quaresmeira desabrocha a promissão
Lírica poesia
Musicando o meu pensamento
Em ritmo de doçura e alegria
Escorre pelas bordas da inspiração
O amor é sua magia
Essência que invade a afeição
E a alma acaricia
Fonte de fecunda imaginação
Nutrindo a alquimia
Da fantasia e da emoção
Compondo lírica poesia...
Ao coração
Lágrima vertida
versejava,
quando uma lágrima caiu
na poesia que eu forjava
o meu poetar quem sentiu
e viu,
que era o amor que chorava
de uma saudade que partiu...
Maio, 08, 2016
Cerrado goiano
E assim a poesia é reticência...
Começo, recomeço, interrupção
De balanço na ilusão em reverência
Num recanto totalmente atemporal
Dum balé de palavras em penitência
De amor, alegria, lágrima, em arte final
Sou um incorrigível romântico
A poesia é a lira do meu coração
Com ela alinhavo um cântico
Para embalar-te na emoção
Da rima de verso semântico
Desbravada da iluminação
