Nao Existe o Belo e o Feio

Palavras não existem
fora da nossa voz as
palavras não assistem
palavras somos nós

(A doença, Poemas Reunidos, Publicações Dom Quixote, 1999)

Um erro que impede os homens de agir é o não saberem daquilo que são capazes.

Quem se apressa é porque compreendeu: não devemos demorar as coisas; surpreender-nos-ia que os mais claros discursos fossem feitos de termos obscuros.

Quem não fez nada não sabe nada.

Não julgue um homem pelas suas opiniões e sim pelo que ele se tornou em virtude delas.

Não fales asperamente a ninguém, pois aqueles a quem falas te responderão no mesmo tom.

Quando era jovem, descobri que nove de cada dez coisas que eu fazia eram um fracasso. Eu não queria ser um fracasso. Então, passei a trabalhar dez vezes mais.

A verdadeira história de um ser não está naquilo que fez, mas naquilo que pretendeu fazer.

A estirpe herda-se e a virtude conquista-se; e a virtude vale por si só o que a estirpe não vale.

O poeta não deve crer nos anjos, mas nas palavras que os criam.

Compra não o que consideras oportuno, mas o que te falta; o supérfluo é caro, mesmo que custe apenas um soldo.

A fama não é uma planta que cresça em solo mortal.

A sabedoria é geralmente reputada como pobre, porque não se podem ver os seus tesouros.

Reta ação é a praticada sem apego, sem paixão, por dever, não por prazer, nem ódio, nem proveito próprio.

O estilo não passa do movimento da alma.

Se um jovem escritor conseguisse abster-se de escrever, não deveria hesitar em o fazer.

A mente não é uma vasilha para ser enchida, mas um fogo para ser acendido.

Não construais estátuas aos vossos heróis, é melhor erguer estátuas às vossas vítimas.

Quem não ama o seu semelhante vive uma vida estéril e prepara um túmulo triste para a sua velhice.

Contemplação

Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre ideias e espíritos pairando...

Que é o Mundo ante mim? fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre vácuo insondável rastejando...

E dentre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
É a queixa, o profundíssimo gemido

Das coisas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só pressentindo...