Nao Controlamos o que Sentimos

Quando é preciso escolher entre liberdade e erudição, quem não dirá que prefere mil vezes a primeira?

Quem não sente amor, deve aprender a adular; caso contrário, não consegue viver.

Creio que o homem sonha unicamente para não deixar de ver; pode acontecer que um dia jorre a luz interior em nós e nenhuma outra nos será mais necessária.

As pessoas felizes não acreditam em milagres.

Quem tem imaginação, mas não tem cultura, possui asas, mas não tem pés.

O homem é a criatura que não pode sair de si, que só conhece os outros em si, e, dizendo o contrário, mente.

A riqueza não consiste na possessão de tesouros, mas no uso deles.

Mais um ano. Mais um palmo a separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento de tudo e de todos, que a morte remata.

A agitação contínua numa vida tumultuosa não é atividade saudável, mas inquietação.

Deus não pertence a nenhum povo.

A alma humana é feita para não estar sozinha.

O homem honrado nunca jura; contenta-se com dizer: isto é ou isto não é. O seu caráter jura por ele.

Se temes a solidão, não tentes ser justo.

Geometria dos ventos

Eis que temos aqui a Poesia,
a grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma. Ela flui, como um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada -
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se arranca da terra
já dentro da geometria impecável
da sua lapidação.
Onde se conta uma história,
onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao mesmo tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.

(Poesia feita em homenagem ao poema Geometrida dos Ventos de Álvaro Pacheco)

As nossas maiores dissimulações são desenvolvidas não para esconder o que há de ruim e feio em nós, mas o nosso vazio. A coisa mais difícil de esconder é aquilo que não existe.

Uma verdade claramente compreendida não pode ser escrita com sinceridade.

A vida humana não tem só um nascimento, só uma infância, é feita de vários renascimentos, de várias infâncias.

No fundo, sinto que a minha vida é sempre governada por uma fé que já não tenho. A fé tem isto em particular: mesmo quando desaparece, continua a agir.

Existem duas espécies de idiotas: aqueles que não duvidam de nada e aqueles que duvidam de tudo.

Não se compõe uma sabedoria introduzindo no pensamento os resíduos diversos de todas as filosofias humanas, tal como não se fica com saúde engolindo o conteúdo de todos os frascos de uma velha farmácia.