Mensagem de Dor

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A UMA PASSANTE

A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!
Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!

Uma das missões da poesia é colocar palavras no lugar da dor. Não para que a dor termine, mas para que ela seja transfigurada pela beleza.

Está vendo a felicidade ali na frente? Não, você não está vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.

Antonio Prata

Nota: Trecho de um texto de Antônio Prata.

Se há algo que excita mais os humanos que o prazer é a dor. Sob tortura, tudo o que ouvimos e lemos volta-nos a mente. Sob tortura dizemos não só o que quer nosso inquisidor, mas o que imaginamos possa-lhe dar prazer. Uma ligação diabólica se estabelece.

Umberto Eco
O Nome da Rosa

Uma pérola é um templo construido pela dor á volta de um grão de areia.
Que nostalgia nos construiu o corpo e á volta de que grãos?

um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante

Milágrimas

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre

Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre

Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre

(Música: Itamar Assumpção)

Quando alguém que amamos se vai, fica uma dor muito grande que com o passar do tempo se torna em saudade. Ainda que Deus nos ensine muitas coisas todos os dias nós nunca, nunca aprendemos a perder!
A vida ou a morte se tornam sinônimos quando nos levam para junto de uma separação.
Aí o tempo entra em ação e dá sentido às coisas, tornando a dor de uma perda no prazer da saudade, sentimento que só ocupa o espaço das grandes pessoas que passam por nossas vidas. Às vezes faz chorar e às vezes faz sorrir.
Feliz daquele que teve, daquele que tem ou terá alguém para amar... Mas o melhor é manter, independentemente de qualquer coisa, este amor feito saudade eternamente no coração!

Hoje é o dia de dar bom dia ao fim da dor, ao fim da vingança, ao fim da espera, ao fim da defensiva. E dar bom dia ao início da primavera, ao início da minha beleza e ao amor. Finalmente. Bom dia ao amor. E bom dia para essa risada que sai livre, solta e que eu nem percebo que é risada porque não consigo olhar pra fora da pele de tanto que é bom ficar aqui dentro. Hoje é o dia de dar bom dia a mim.

CONHEÇO A RESIDÊNCIA DA DOR

Conheço a residência da dor.
É um lugar afastado,
Sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas,
Com umas imensas vigílias, diante do céu.

A dor não tem nome,
Não se chama, não atende.
Ela mesma é solidão:
nada mostra, nada pede, não precisa.
Vem quando quer.

O rosto da dor está voltado sobre um espelho,
Mas não é rosto de corpo,
Nem o seu espelho é do mundo.

Conheço pessoalmente a dor.
A sua residência, longe,
em caminhos inesperados.

Às vezes sento-me à sua porta, na sombra das suas árvores.
E ouço dizer:
“Quem visse, como vês, a dor, já não sofria”.
E olho para ela, imensamente.
Conheço há muito tempo a dor.
Conheço-a de perto.
Pessoalmente.

Porque nada volta a ser como era antes. Depois que algo é quebrado sempre vão existir marcas que vão provar que algo esteve errado. Não existem segundas chances quando um coração é magoado. Não existem outras oportunidades para algo que se deixou passar.

É notável que não pode existir dor no céu. Olhando daqui já é um pouco anestésico.

Dizem que escrever é um processo torturante para Sarney. Sem dúvida, mas quem grita de dor é a língua portuguesa.

Os homens geralmente preferem ser enganados com prazer a ser desenganados com dor e desgosto.

Se só a dor nos pode educar, pergunto porque é, filosoficamente, proibido encarniçarmo-nos contra o próximo, educando-o do melhor modo?.

Ao abuso das nossas faculdades físicas sucede a dor; às perversões do espírito seguem o pesar e o arrependimento.

O egoísta, embalsamando-se a si mesmo, transforma-se numa múmia, que não sente a dor, mas que não goza a alegria.

O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.

E você, sozinho e pensativo em sua dor, buscará sua mãe e esconderá seu rosto nesses braços; no seio que nunca muda encontrará descanso.

Teus olhos

Aonde estavam teus olhos
Quando te falei sobre o amor,
Aonde escondia teu sorriso
Quando lhe disse que sentia dor.
E que falta me fez teu abraço
Quando o inverno chegou,
E justamente na solidão
Que agora me aflige,
Já não sinto teu amor.