Machado e Juca Luiz Antonio Aguiar
CIRCUNSPEÇÃO
A chama? ah essa chama...
Que chama engana e esgana
inflama com gritos, ressalta e brama.
Como chama essa chama!
Será labareda, voz de articulação ou gana?
ou um chamado estridente de bacana.
Quando ouvires uma chama que chama, vá
Mas tenha cuidado... Com o fogo da chama.
Antonio Montes
EXPECTAÇÃO
Uma lagrima serena
em tardes tão pequenas
vida breve de dá pena
cravada n'essa novena.
Não chore seu choro
por príncipe nem um...
Quem sabe ele é sapo
enchendo-te de sopapos
cheio de zum, zum, zum.
Se segure, que amanhã
lhes trará um novo sol
horizonte,e bela flor
coração cheio de amor
braços aberto e arrebol.
Antonio Montes
NO PRETO E BRANCO
Um romance de amor na parede
em moldura de um tempo sem cor
à poeira que queimou nosso verde
um amor que a prisma registrou.
Os abraços e beijos...
No branco, e no preto ficou
os desejos e ensejos
suspenso na parede... Amarelou.
Flores e jardins, no chassi, estão cinza
E o arco-íris...
Um surreal preto esvoaçado no ar.
Pássaros sob espaço
chuva de risco
lágrimas pontilhadas
olhos de carvão...
Água branca para matar a sede
venha menino...
Vamos com essa vida rindo
Me de a sua mão.
Antonio Montes
FREÁTICA
Uma torneira cromada, na parede
Água, água com veneno filtrada
no calor, gelada para matar sede
poluição na rede, freática d'água.
Antonio Montes
PLANOS
Enquanto planos vertem lagrimas
o amanhã chora para alcançar
a aurora desperta em água
e os caminhos patinam no lugar.
Antonio Montes
DESAPEGO
Desapego, ah esse desapego
desapego da fome, logo sedo
salada temperado com bredo
isso , pode ser um desapego.
Antonio Montes
SURRUPIOS
Roubo de grande é desvio
diante das leis deles próprios
pequenos, porões de navios
nesse mundo de impróprios.
Antonio Montes
PEROLA
Bate pra cima a peteca
fazendo lacuna no vento
no vácuo da sua caneca
nas asas dos sentimentos.
Antonio Montes
TABUA DE CARNE
Tabua de carne...
Abre alas para o tempero da morte
A qual, todavia se oferece
para fazer dos seus adversários
seres tenebrosos e fortes.
Ali se debruçam em peças para serem
talhadas por golpes de pulsos firmes,
suados e sedentos de sangue...
Ali seres simples são cutilados pelo
poder da ganancia; insaciável dimensão
todavia despencando pelos mesmos poderes
Poderes que com suas laminas frias e afiadas...
semeiam suas mensagens terminais.
Tabuas de carne afago de, o penúltimo partir
ceifadeira de singelas vidas,
é uma peste seu empestear por aqui.
No ultimo tremor do momento final do existir
sobre aqueles mórbidos segundos,
o erro se enche de duvidas
dividindo a sepulcral partida
com os erros errados da vida.
Antonio Montes
TÉTRICO
Ações rasas embala...
Embalam, balas que não podem parar
Mas falam, falam quando dispara
... Falas e desconsolo que fazem chorar.
Tilintam na casa do desespero
em desterro por ter que enterrar
chuvas de mal gosto, ao mundo inteiro
aos gostos que podem exterminar.
Balas... Balas que ao falar cala
por dedos tesos, ao articular
depois demarcam, abscuro da cara
pra nunca mais poder voar.
São ela, pontos de toda uma vida
pesponto do dedal, magistral morte
balas, vão ao sul semeando lagrimas
aterrorizando o sol no amanhecer norte.
Antonio Montes
EXTREMADO
Contigo a meu lado
O mundo é uma musica
os momentos serão fados
... Tudo valerá apena
os risos serão de agrados
na nossa noite de novena.
Contigo a meu lado
meu outono será flor
meus planos voaram no amor
e as manhãs do meu condado
me farão ficar animado
serão risos límpido de sol
com felicidade em esplendor.
Tu será colméia do meu reino
a seiva da minha paixão
meus momentos de apego
doce mel do meu coração.
Será flores do meu jardim
em primavera do meu tre,le,le
harmônicas pétalas para mim
e eu ramalhete p'ra você.
Antonio montes
O CAROÇO
O caroço esta grosso
não cabe mais na panela.
O rango esta ensosso
a canjica cheia de osso
será que a culpa é d’ela?
São tantas as fomes sobre as mesas
que até falta prato e tigela.
Falta também alegria
e esta sobrando tristeza
e o requinte perdeu a beleza.
A moda agora é surrupiar
é rico roubando pobre
e pobre a se enterrar.
Isso sempre aconteceu
Deus acode o mundo teu
e se não for de mais, diga...
Quanto isso vai acabar?
Antonio Montes
REINAÇÃO
Enquanto o fole folheava a folia
o fado era sapateado pelos pés
a dança, demarcava n'aquele dia
o pulsar do coração em aranzel.
Musica, voava como asas no salão
flutuando, elevando o sentimento
era sola solada, pulsando coração
Era corpo trepidando o momento.
Enquanto o fole folheava o fado
a noite tremia e se fazia criança
para vontade, tudo era agrado
a imaginação, bolia a esperança.
O ritmo requebrava os lados
o peito seco arfava uma canção
o fole folheava folia com o fado
o fado a folia, vagava imensidão.
Antonio Montes
O TOMBO
Splaft! Escorreguei!
cobri o chão com as costas
e de barriga pra cima
avistei o céu desfocado.
Já não esta azul assim
perdeu o blue para minha ótica
pra mim, está carmim.
Rasguei o esqueleto
pintei o chão com meu vermelho
fiquei menos preto
menos cor para o espelho.
Seu doutor cai?!
Machuquei a coluna
vê se apruma
pois só tenho uma.
Não posso ficar de papo pro ar
sou pobre me arruma
eu tenho que trabalhar.
Não quero injeção
não fure o meu coro
cuide de mim
se não eu morro.
Antonio Montes
O TOPO
Estrondo no topo
olhares para o morro
é chuva apagando poeira
é agua despencando na ribanceira
Os bêbados...
Estão todos encharcados
Os relâmpagos...
Com seus pontos e encantos,
correm costurando as nuvens
tudo sempre foi como esta.
Maria pra que falar mal...
Corra, corra! Corra...
Vá recolher as roupas do varal.
Antonio Montes
PASSAR PASSAGEIRO
Uma pena pintada
de uma ave dourada
a saltar pela estrada
se expandindo ao ar
com envergadura aberta
a voar.
Voa, voa passarinho
sua beleza consagrada
sem enfado em seu ninho
vai planando em revoada.
Chega sempre em seu destino
Com seu passar passageiro
outros mares outros hinos
passando ao mundo inteiro.
Passarinho, passarinho
me leve ao destino meu
na hora antes do tino
no tempo antes do adeus.
Antonio Montes
PATA DA PATOTA
A pata da patota
anda choca
e vai nascer os seus patinhos
todos pequenos
e pelo terreiro...
andarão serenos.
São todos amarelinhos
vagando no quintal
Eles piam
eles correm
E sobre a água
eles a nadam.
A patota não se importa
e todo dia abre a porta
para ver a pata choca.
Antonio Montes
Tudo na vida tem um ponto.
Ponto incerto.
Ponto sem nó.
Ponto de interrogação.
E aquele três pontinhos atravessando.
Dizendo que nada acabou.
Muito a se dizer.
E o prazer de uma flor florir.
Uma incerteza dentro da outra.
Sou um ponto de exclamação no universo de uma reticência.
A vida é assim, cheia de reticências, exclamações.
Menos um ponto final...
VAQUEJADA
Quanto boia por amor,
boiando, causando, dor
boias nas águas dos oceanos
aboiando sonhos e planos.
Ao povo boiá, quando mente
inocentemente coração de inocente
política demente boiá arduamente...
Ao mentir para muita gente.
Aboia tropeiro vaquejador...
A vacada com poeira na estrada
pela caatinga do sertão, pelo senhor
aboia o gado, aboiado, por nada.
Aboia o mundo todo... Todo tempo
pelos trilhos e caminhos da vida
aboia a dor paixão, ventos sentimentos
aboia a morte na hora da partida.
Antonio Montes
