Livre para Voar sem Destino
LIVRE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Não quero ser como pipa,
pois a pipa voa,
mas não voa sozinha.
Carece de linha,
de vento e cabresto
e quem a empine.
Quero ser como águia,
que mergulha no céu
até que o céu não termine.
BICHO LIVRE
Demétrio Sena - Magé
Pensarei no futuro lá na frente,
quando a vida mostrar que sou passado;
que o presente já foi presenteado;
há um mundo no furo do meu dente...
Porque tudo no mundo já foi dado
aos meus olhos e braços, minha mente,
desde quando aceitei como presente
ser o bicho mais livre; mais alado...
Não importa o destino, vale a rota
que a janela do trem me presenteia;
ver brotar é melhor do que o que brota...
Digo ao meu coração: prefiro a veia,
vale mais o meu eco do que a grota
e dispenso as aranhas; quero a teia...
... ... ...
#respeiteautorias É lei.
POETA LIVRE
Demétrio Sena - Magé
Sou um poeta livre.
Livre, inclusive,
quando me meto
a me pôr à prova...
A fazer uma trova,
compor um soneto
rimado e teso...
Um poeta livre.
Livre, inclusive,
pra posar de preso.
... ... ...
#respeiteautorias É lei
LIVRE ARBÍTRIO
Demétrio Sena - Magé
Só entendo que peco ao atingir alguém;
causar trauma, tristeza, provocar a dor;
ir além dos limites, violar vontades
ou direitos que a vida concedeu a todos...
Não existe pecado contra um Ser Supremo;
porque sendo Supremo, nada O ferirá;
quando remo sozinho contra correnteza,
sou meu próprio castigo; sofro meu efeito...
Inventamos heróis, construimos verdugos,
como deuses criamos e nutrimos deuses
e forjamos os jugos; demônios; infernos...
Caso tenha remorsos, é por causar danos
para seres humanos e não divindades
que não posso atingir, se realmente há...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
META HUMANA
Demétrio Sena - Magé
A mentira está livre pra ser difundida;
é verdade por lei; certamente por moda;
tem a sua guarida oficial imposta,
sua nódoa virou logomarca sagrada...
Estão livres as raivas insanas e fúteis;
esse ódio gratuito pelas diferenças;
os inúteis que geram violência e guerra
ditam crenças e suas fobias humanas...
Nesse mundo covarde na palma da mão,
é preciso criar um atalho pro sol;
contramão das barbáries da brutalidade...
Vale tudo; então vale fazermos o certo;
acharemos a flor no deserto inumano
e teremos as mudas de florir mais almas...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
Entre sarandeios e sapateios
o meu tatu virá solto e livre
com os melhores galanteios,
Toda vestida de poesia com
ele dançarei em liberdade
porque quero envolvimento
além do salão em movimento,
para mostrar com intensidade
que eu sou a tal paixão
que desde sempre esteve,
e está (tatua)da no coração.
Se a pessoa não está bem,
ninguém está livre de passar
pelo mesmo também,
Se a pessoa tem alguma dificuldade,
amanhã também pode ser a sua vez,
Se a pessoa está com
mais pressa do que você,
Fale ou gesticule esta expressão
mágica deixando claro
que ela "pode passar",
Todo mundo pode ter pressa
e também pode ter calma,
Melhor ter calma e transformar
a rotina em passeio e festa
para você não se transtornar
por aquilo que não merece,
Portanto, não se apresse
e sempre encontre em tudo uma
oportunidade para fazer uma prece.
A gratidão te faz livre
e a ingratidão te faz preso,
você tem a liberdade
de escolher o quê quer ser;
a ingratidão é problema
do ingrato e a bondade
é a dádiva da liberdade.
Apreciando as sombras
das Caixetas floridas,
que delas fazem tamancos,
artes, violas caipiras
e lápis para escrever
sempre as minhas poesias.
Se estiver escrito
no meu caminho retribuir,
espalharei sementes
para que não deixem de existir:
Ser grato sempre faz a vida fluir.
Meu mar doce,
represa-la?
Não posso.
És livre mar...
Navegantes?
Só os que permitiu,
mas
não há ainda quem
o desbrave.
És livre mar,
de
ondas curvilíneas,
poente de toda luz.
Povoa a mente dos homens,
morada do desejo.
És livre mar,
a ti, tenho
apenas
um pedido.
Afoga-me.
Mente livre, ventre livre
Não era liberdade completa, é certo
a lei mantém a condição de objeto.
A liberdade não veio das mãos de quem
escravizou. Nem escravo, nem livre foi
o que o negro se tornou. Mas a liberdade
caçou seu jeito de acontecer. Quando o
ingênuo viu que a verdadeira alforriaera oacesso ao saber.
Às margens do teu ser.
Meu mar doce,
represá-la?
Não posso.
És livre, mar...
Navegantes?
Só os que permites,
mas
não há ainda quem
te desbrave.
És livre, mar,
de
ondas curvilíneas,
poente de toda luz.
Povoas a mente dos homens,
morada do desejo.
És livre, mar,
a ti, tenho
apenas
um pedido:
Afoga-me.
14 de Maio
No 14 de maio de 1888, o Brasil amanheceu livre. Ou ao menos, livre o suficiente para se parabenizar diante do espelho.
A escravidão fora abolida na véspera, por um gesto régio, breve e elegante, como convinha à pena de uma princesa. A tinta mal havia secado, e já se cochichavam loas nos salões. O Império, enfim, provara sua humanidade — ainda que com duzentos e tantos anos de atraso. Diziam-se modernos. Civilizados. Cristãos.
Mas, nas ruas, não houve fanfarra. Nem pão. Nem terra. Nem nome.
Os que saíram das senzalas na véspera encontraram, no dia seguinte, o mesmo chão duro, as mesmas mãos vazias, e o mesmo olhar de soslaio da cidade que os libertara com uma assinatura, mas não com dignidade.
Alguns acreditavam que o trabalho viria como recompensa. Outros, que a caridade cristã desceria dos púlpitos e dos palácios como chuva mansa. Mas a chuva não veio. Nem a caridade. Nem o trabalho. A liberdade, como os santos nos altares, era bonita de se ver, mas inerte ao toque.
Os senhores — agora ex-senhores — mostraram-se melancólicos. Alegaram prejuízos, saudades das "boas relações" com seus cativos, e passaram a vestir ares de vítimas. Alguns, mais práticos, converteram antigos escravos em serviçais por salário algum, chamando isso de transição. Outros apenas viraram o rosto, como quem se desobriga de um cão abandonado ao portão.
O Estado, por sua vez, considerou missão cumprida. E foi descansar.
No dia 14 de maio, portanto, nasceu no Brasil uma nova classe: a dos livres-sem-lugar. Cidadãos sem cidadania. Homens, mulheres e crianças com a dignidade estampada na Constituição e negada na calçada.
Seguimos livres no papel, presos na realidade. As correntes caíram, é verdade — mas com elas não caiu o silêncio, nem a desigualdade. Só mudou a forma da prisão.
Lute todos os dias por líderes democráticos,
altruístas,empáticos e por uma enfermagem livre de tribulações e mais humana.