Ivan Martins

Cerca de 38 frases e pensamentos: Ivan Martins

Estar com alguém é partilhar a carga que ele ou ela traz consigo. São dores, traumas e decepções. São dificuldades íntimas ou conflitos de família. Não penso em problemas que se possa resolver assim, de forma prática. São coisas com as quais se vive, e por isso constituem uma carga. Não é possível livrar-se delas com um gesto ou uma solução. Elas fazem parte do outro que a gente ama.

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Às vezes, me parece que a capacidade de conviver com a dor do outro é uma das medidas da nossa capacidade de amar. Gente muito voltada para si mesmo não consegue partilhar as dificuldades alheias. Tornam-se impacientes, se entediam e, ao final, refugiam-se na indiferença.
(...)
Afinal, por que não estamos aproveitando o tempo para nos divertir? Por que não estamos falando a meu respeito? Os sentimentos egoístas nem sempre são claros, mas explicam parte da dificuldade em conviver. Quem quer atenção em tempo integral não consegue perceber o outro. Nem gostar dele realmente. Amar, afinal, da forma como eu vejo, é apaixonar-se também pela dor alheia. Mas para isso é preciso olhar além de si.

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Quem quer atenção em tempo integral não consegue perceber o outro. Nem gostar dele realmente. Amar, afinal, da forma como eu vejo, é apaixonar-se também pela dor alheia. Mas para isso é preciso olhar além de si.

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De manhã, quando chove, a presença da mulher que a gente ama torna o mundo mais fácil, não mais difícil. Quando é o caso de reclamar, ou exibir fraqueza e perplexidade diante do insolúvel, ela está lá. Assim como estamos para ela. Às vezes, a gente ri de tudo e a vida parece uma taça de champagne borbulhando. Leve, leve, leve. Em outras ocasiões, partilha-se o intolerável de mãos dadas. Assim vamos: ao som de uma melodia imperceptível, dançando juntos, cada um com a sua carga, como um par de caramujos obstinados e felizes.

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O livro mais triste que conheço sobre o amor se chama O legado de Eszter, do húngaro Sándor Márai. Quando o li, tive a sensação de que minha vida, como a da personagem, seria destruída pela esperança de um romance irrecuperável. Eszter espera pela visita do grande amor do passado, que a salvará de uma existência de solidão e vergonha. Eu esperava pelo retorno de uma mulher que nunca voltou.

Lembro o livro, o período e a dor como partes de um mesmo corpo. A prosa límpida e hipnótica de Márai ligava a vida da mulher no início do século XX à minha, que se desenrolava às vésperas do século XXI. As personagens e as palavras dele deram àquele momento as cores de uma profunda melancolia, mas a tingiram, ao mesmo tempo, de uma estranha lucidez. Lembro-me de pensar, de forma um pouco dramática, que afundava de olhos abertos.

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O tempo dispôs silenciosamente da minha paixão. Diante disso, me ocorre que esquecer é uma benção – ou uma arte, a aprimorar meticulosamente ao longo da vida. Pôr pessoas e sentimentos de lado é permitir que a existência prossiga.

Ivan Martins para a Revista Época

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Não há nada que eu gostaria tanto de ensinar aos outros e a mim mesmo como a capacidade de deixar sentimentos para trás. Olho ao redor e vejo gente encalhada como barcos na areia. Homens e mulheres. Esperam pelo passado, embora a vida se espraie em possibilidades à volta delas. Precisam de tempo para se recuperar, mas carecem de luz. Necessitam entender que a dor – embora inevitável – não constitui uma virtude, nem mesmo um caminho. Tem apenas ser superada, para que o futuro aconteça.

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A paternidade nos aproxima de um sentimento suave e agridoce de perdão por nossos pais, que agora somos nós.

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Durante um tempo, achei que a relação complicada com a figura paterna fosse uma experiência apenas minha. Aos poucos, percebi que não. Boa parte dos homens carregam pela vida emoções semelhantes, embora sejam filhos de pais diferentes do meu. O filósofo francês Jean-Paul Sartre, cujo pai morreu quando ele era bebê, dizia ter sido privilegiado pela ausência de uma figura paterna capaz de moldá-lo ou influenciá-lo. Ele julgava ser mais livre que o resto dos homens. Li essa afirmação muito jovem. Achei que fazia sentido. Hoje acho bobagem. Não há pai mais influente que o pai que não existe. Ele deixa tamanho vazio, provoca tantas interrogações, que seu filho pode gastar a vida tentando entender-se. A figura paterna é uma referência monumental. Tão grande que, se não existir, terá de ser criada.
(Ivan Martins, "Amor de Pai", p/Rev.Época)

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O passado não vai embora. As coisas perdidas nunca serão inteiramente recuperadas. A vida nos oferece, apesar disso, oportunidades de refazer de outra forma, numa outra esfera. A paternidade é uma delas. Nos permite ser homens melhores e criar homens melhores. Nos permite ser crianças novamente. Nos permite esboçar alguma compreensão e nos aproximar – apenas nos aproximar, mas já é algo – de um sentimento suave e agridoce de perdão por nossos pais, que agora somos nós
(Ivan Marins - "Amor de pai" - p/rev.Época)

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Desilusão é uma experiência terrível. Num momento qualquer, você está cheio de esperança. No outro, seu mundo veio abaixo. Como uma repentina bofetada, a desilusão machuca, desnorteia e humilha. É o evento dramático que, na vida amorosa, separa a realidade do sonho, os homens dos meninos e os tolos dos sábios. A desilusão é nosso diploma. Quem não passou por ela é um inocente. Ainda não sabe de nada.

Inserida por EmOutrasPalavras

O iludido acredita, essencialmente, que o outro sente por ele o mesmo que ele sente pelo outro. Vive a fantasia de ser amado ou, pelo menos, tem esperança de um dia ser correspondido. É um sonhador que pode passar anos caminhando no interior do seu sonho, vendo apenas o que deseja ver. A desilusão é o despertar. Deveria ser saudada como libertação, mas costuma ser recebida com ressentimento. A pena de si mesmo é maior que a gratidão.

Inserida por EmOutrasPalavras

A verdade, é importante que se diga, nem sempre é nítida. Quando se trata de afeto, somos criaturas confusas, habitadas por dúvidas e contradições. Por isso, mais importante que aquilo ouvimos é o que vemos. Mais importante que sentimentos, são ações.

Inserida por EmOutrasPalavras

Da minha parte, tendo vivido ilusões e desilusões, prefiro as últimas. Elas me salvaram de vexames profundos, me tiraram de enganos demorados, me abriram portas que eu desconhecia e me puseram no caminho certo. Tem sido assim com todos que eu conheço. Os mais tristes, os mais dignos de piedade, são os que se agarram a ilusões que todos em volta reconhecem, menos eles. A esses faz falta uma desilusão. Uma boa bofetada – pleft! – que os devolva de volta à vida.

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Os mais tristes, os mais dignos de piedade, são os que se agarram a ilusões que todos em volta reconhecem, menos eles. A esses faz falta uma desilusão. Uma boa bofetada – pleft! – que os devolva de volta à vida.

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Se o sujeito acha que uma garota que dá na primeira vez não serve para ele, então ele certamente é um conservador que não serve para mim.

Inserida por Vickyhxp

O silêncio de Dilma

A passividade da presidente é tão estranha que demanda explicação. Talvez nem ela saiba ao certo qual o seu mandato.
Alguém que tivesse votado em Dilma Rousseff no segundo turno, viajado em seguida e voltado ao país no fim de semana passado não entenderia o que aconteceu. Eleita com 3 milhões de votos de vantagem, ela parece derrotada. Manifestações de rua pedem sua saída, adversários tentam vinculá-la à corrupção na Petrobras, na economia se apregoam cenários catastróficos. Como Dilma não reage ao cerco, perde espaço nas ruas, nas manchetes e no mercado. Também no coração e na mente dos que nela votaram.
A passividade de Dilma é tão estranha que demanda explicação. Não pode ser atribuída apenas a seu temperamento insular ou à falta de iniciativa de seus assessores. Há algo mais, que talvez tenha a ver objetivamente com o resultado das eleições.
Dilma venceu, mas não ficou claro, talvez nem para ela própria, qual é seu mandato.
A eleição derrotou (por pouco) o projeto de Aécio Neves para a economia, encarnado pela figura do financista Armínio Fraga. Mas não é evidente com que projeto Dilma venceu. Seria com "mais do mesmo" -- impedir o ajuste econômico e lançar o governo contra o mercado, com resultados imprevisíveis? Seria com o "ajuste gradual" -- tentar recolocar a economia no rumo sem sacrificar os níveis de emprego e renda? Ou seria, ainda, o "estelionato eleitoral" -- a adesão às teses do adversário, representada pela escolha de um nome de mercado para a Fazenda, como Henrique Meirelles?
Em eleições passadas, não houve tal dúvida. Fernando Collor de Mello era o "caçador de marajás" que tiraria o país do atraso. Fernando Henrique Cardoso, o presidente da estabilidade da moeda, com mandato para integrar o Brasil ao mundo global. Lula, o pai da inclusão social que aceitara, depois da carta as brasileiros, as ferramentas de mercado. Dilma, na primeira eleição, a seguidora do período Lula. Todos receberam das urnas uma missão clara e trataram de executá-la com mais ou menos tirocínio. Agora, pela primeira vez em anos, especula-se sobre o que Dilma fará no segundo mandato. A eleição não resolveu a contento esse aspecto do futuro.
O problema talvez se deva à maneira como Dilma venceu. Ela ganhou com uma plataforma à esquerda. Acusou Marina Silva e Aécio de curvar-se aos desejos do mercado e dos banqueiros. Ao falar em mudança de rumos e pessoas, ao prometer um novo ministro da Fazenda, porém, induziu parte dos eleitores (e do seu próprio partido) a acreditar que a gestão da economia no segundo mandato inclinaria alguns graus em direção à austeridade e ao mercado.
Agora, Dilma colhe os frutos da sua ambiguidade. Parte da aliança que a elegeu quer que ela dobre a aposta à esquerda. Outra parte apoia as mudanças que o mercado exige. Ambas as facções estão representadas no governo. Refém das duas - e pressionada pelo ruidoso descontentamento dos que não votaram nela - Dilma hesita. Ao fazê-lo, permite que a vida econômica do país entre em compasso de espera, enquanto a política se organiza contra ela.
Não há saída simples dessa situação. Dilma terá de fazer agora a escolha que não fez antes da eleição e renunciar ao apoio e à simpatia dos que ficarem insatisfeitos com ela. Qualquer escolha será melhor do que a paralisia.

Ivan Martins para Época

Inserida por OswaldoWendell

Prazo de validade

Há que ser romântico também no fim. Quando tudo em volta parece ter virado plástico, é preciso sonhar, sair e recomeçar

Ser romântico no início raramente é um problema. O problema é ser romântico no fim – recusar-se a perceber que as coisas acabaram, persistir, contrariar a realidade, a inteligência e os próprios sentimentos. Não interessa se é uma semana, um mês ou se são 10 anos depois do primeiro beijo. Quando as coisas terminam, deveríamos ser capazes de perceber e aceitar. Raramente é o caso. Nos recusamos, coletivamente, a reconhecer o prazo de validade de sentimentos e relações. Queremos que durem para sempre.
Há um paradoxo aí. Aquilo a que nos apegamos no final nada tem a ver com a beleza do que sentíamos no início. O encantamento pelo outro sumiu. O desejo tomou um ônibus e foi morar em Barra do Piraí. A paciência, o carinho, o prazer de estar perto do outro quase desapareceram. Os planos estão cada vez mais turvos, enquanto as conversas se tornam cada vez mais ásperas. Ainda assim, nos agarramos. A quê? Provavelmente ao pavor da solidão e a suas implicações sociais, que não são pequenas.
Nessas horas, sinto que nos falta coragem e memória. Coragem para saltar no escuro insondável do futuro. Memória para lembrar que já fizemos isso antes, dezenas de vezes, com enorme sucesso, desde que éramos bebês e começamos a nos aventurar longe do colo da mãe. O mundo sempre foi uma sequência misteriosa de deslumbramentos e decepções que se renovam. É preciso acreditar e caminhar. De certa forma, há que ser romântico também no fim. Quando tudo em volta parece ter virado plástico, é preciso sonhar, sair e recomeçar.
Uma das coisas que acontecem quando perdemos contato com o amor é secretamente deixarmos de acreditar nele. Afundados na rotina insípida da sobrevivência emocional, ou mergulhados na solidão brutalizante, passamos a dizer a nós mesmos que aqueles sentimentos de exaltação e esperança que chamamos de amor não existem. A lembrança da existência deles é tão dolorosa que preferimos negá-la. Tratamos o assunto como ilusão, imaturidade, pieguice. Nos esquecemos, espantosamente, que um mês antes, um ano antes, dez anos antes, nos sentíamos apaixonados – e não pela primeira vez. Perdemos a memória de um sentimento que deveríamos cultivar com carinho. Ela nos permitiria comparar. Também poderia nos guiar quando fosse a hora de procurar de novo.
Como saber que essa hora chegou? Cada um tem seu jeito de perceber.
Há quem use o termômetro do desejo: acabou, já era. Mas o desejo pode ser vítima de um zilhão de circunstâncias alheias ao relacionamento. Às vezes, basta um fim de semana tranquilo para renová-lo. Como saber? Outros usam o carinho, tão essencial no dia a dia de quem vive próximo. Mas ele está sujeito aos diferentes temperamentos e humores de nossa vida profissional e familiar. Há que levar em conta essas circunstâncias. Muitos se fiam na queda nos padrões de paciência e no outro lado da moeda, a irritação com o outro. É um bom teste, mas poucos casais que partilham a intimidade há muitos anos resistiriam a ele. Rabugice passa a ser quase uma norma.
Não é fácil. Mais simples, acho, é captar o conjunto da obra e os sinais emocionais que ela nos manda.
Quando o olhar do outro não nos comove mais, quando seu corpo não nos diz mais nada, quando ouvir não é mais um prazer, quando falar parece um cansaço inútil, quando a beleza que se via antes não se acha, quando a personalidade vira resmungo, quando chegar em casa parece um saco, quando sair para encontrar torna-se um fardo, quando já não se ri, já não se enternece, já não se tem vontade de chorar na despedida, parado na esquina, abraçados – bem, então talvez tenha chegado a hora de acabar e começar de novo. Cheio de dor, cheio de esperança, cheio de medo e excitação pelo futuro que há de vir.

Ivan Martins para Rev.Época

Inserida por PensandoComOCoracao

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