Frases de Valter da Rosa Borges
Misto de sonho e carne,
somos carne que sonha
ou sonho que se fez carne?
O sono é que nos divide
em dois seres paralelos.
Qual deles é o ser real?
O que não serve para nós
apenas não nos serve.
Quem percebe
a totalidade
sabe que nada é inútil,
e que as coisas existem
sem explicação.
Se tudo tem um sentido,
qual o sentido do homem,
da flor, da pulga, da estrela?
No agora não há palavras:
o que se fala, passou.
A palavra é sempre eco
do que não existe mais.
A percepção é agora.
O pensamento é depois.
Sentimos a flor conforme a vemos
não pelos átomos que a compõem.
Quem disseca a flor, não vê a flor.
É procurar o homem no cadáver.
Liberdade de uma folha
girando solta no ar,
nas circunstâncias do vento,
o vento que é sem caminho
embora seja caminho
onde vaga o seu voar.
Se o vento é que nos dirige
por que, folha, nós queremos
dirigir nosso voar?!
O vento sopra impetuoso,
vergando a copa das árvores.
As folhas caem no chão:
folhas secas, folhas verdes.
Por que não somente as secas?
Nascer é uma aquisição
em meio à luta feroz
de milhões de seres possíveis.
Morrer é uma perda solitária
Porque ainda somos cegos,
tateamos deuses falsos.
A bengala é falso guia.
A fé devolve a visão
e permite ver o mundo
além do mundo trilhado
pela bengala dos cegos.
Se por aqui vaguei, meu corpo sabe.
As células festejam meu retorno.
Meus pés andam sozinhos, eles sabem
onde encontrar os passos que ficaram
gravados na memória das areias.
Os átomos que fui, andam no mundo.
Um dia, me dirão por onde estive.
A fé é a vontade que se fez poder.
É também uma forma de perceber a realidade.
Não há uma razão para a fé: ela é a sua própria razão.
A fé é o recurso extraordinário do homem para resolver problemas que a razão não consegue.
O povo não entende o sábio. O sábio será sempre uma gota de óleo, boiando na superfície da água plebéia.