Frases de Valter da Rosa Borges
O sonho é o nosso modo
de caminhar sem o corpo.
O corpo pouco nos leva:
somos nós que o arrastamos.
Queremos ver mais que os olhos,
ouvir mais que os ouvidos,
e exercer a onipresença,
em qualquer lugar do mundo.
Uma estátua, por mais bela,
não se equipara
à pessoa mais humilde.
Uma simples planta no jardim
é mais formosa
do que qualquer natureza morta.
O silêncio também é voz.
É aquilo que não foi dito,
porque, se dito, era pouco.
O silêncio não se mede
pela medida da frase.
Excede qualquer semântica.
Não é dicionarizável.
No princípio era o verbo,
mas antes dele o silêncio,
anterior ao princípio.
Mais fiel que a nossa sombra
é a nossa solidão.
Jamais nos perde de vista
no meio da multidão.
É a nossa alma gêmea?
É o nosso anjo da guarda?
O xifópago invisível?
Ninguém viu a solidão
que nasceu quando nascemos.
Em cada homem que morre,
morre a gêmea solidão.
Não somos influenciados apenas pelas nossas ações, mas também pelos nossos sonhos.
O homem é um compósito de fatos e sonhos.
Não chore as flores que murcharam:
elas já cumpriram seu papel.
Reverencie as flores que florescem,
porque, na sua essência,
elas são as mesmas flores
que morreram.
Um vazio pulsante é o que somos,
vivendo na ilusão da solidez.
Matéria são vazios que colidem.
As formas são momentos do vazio.
Tudo é mudança.
Mas, o que dirige
a universal mudança do vazio?
A visão é maior que os olhos:
o real é mais do que o visto.
Os olhos nos prendem à vida,
que é nosso modo de ver.
Na morte, a visão são olhos
de ver em outro lugar.
Os átomos se fizeram homens
para se conhecerem a si mesmos
e tudo o mais que fizeram.
Como homens, pensam que Deus
foi o criador de tudo.
Os átomos enlouqueceram?
A brincadeira nos devolve
a pureza original.
O paraíso é o lúdico.
A inocência perdida
nos condenou ao trabalho.
Só o ócio primordial
é a redenção do homem
que não soube ficar criança.