TODA FORMA DE PODER Nos longínquos anos... HUGO PIRES

TODA FORMA DE PODER

Nos longínquos anos de 1986, por sinal, ano do meu recente nascimento, os Engenheiros do Hawaii compuseram uma música cujo título tomei emprestado para encabeçar esse texto que por ora escrevo: "Toda forma de poder".

28 anos depois, um verso da música me vem à cabeça e me assola numa indignação lamentável, hoje o anúncio de uma morte encefálica ceifou também todos os cérebros pensantes desse país: o cinegrafista, em seu ofício diuturno, atingido por um rojão durante uma manifestação, veio a óbito. E são tantos atentados contra a democracia, que não demora muito e acharemos tudo isso normal, quando não é. E a música grita nas caixas ruins de meu som: "E eu começo a achar normal que algum boçal atire bombas na embaixada". E a embaixada dessa vez não foi um prédio suntuoso, mas um trabalhador que encarava as dificuldades do seu trabalho com a garra e a vontade de milhões de brasileiros no cumprimento do seu labor.

Mas regressando novamente para a década de 80, em 1988 uns homens engravatados disseram ao povo brasileiro: "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL."

E a caixa de som, um pouco furada já pelos estampidos, pula sobre a minha mesa enquanto Gessinger quase aos berros diz a todos em casa: "Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada". Ora, harmonia social e comprometida com a solução pacífica das controvérsias. Em que país? Pois não é pra esse rumo que estamos seguindo.

Aí eu me lembro de coisas que não me deixam em paz: direita, esquerda, rolezinhos, valorização do fútil, BBB, Copa do Mundo, roubalheira, Mensalão, Privataria tucana, Amarildo, Porto em Cuba e muito mais. E então, os Engenheiros do Hawaii (que não são "importados", tampouco engenheiros; assim como os médicos cubanos que não são médicos, mas são "importados") me ensinam algo que eu não quero seguir: "é tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada"...

"Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada,
Toda forma de conduta se transforma numa luta armada"

A democracia está perdendo.