Coleção pessoal de Hugopires

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Escrever é colher ideias, e a gente leva um tempo para perceber que elas, na verdade, nunca estiveram em nós, mas no ar, expostas àqueles que querem vê-las ou escutá-las...

Há um tempo em que você precisa ser criança, noutros precisa ser grande, corajoso, amadurecer para voltar a ser criança. É um ciclo que nem mesmo a morte encerra, porque aquilo que você faz, ficará para sempre gravado no outro, em algum canto, em algum sorriso esparso na correria do dia a dia. A vida é, assim, feita de primeiras fases, como se a cada manhã começasse a prova do dia e no final da noite saísse o resultado... o resultado da primeira fase, que não se publica em diário oficial, mas se divulga em silêncio na consciência. E no outro dia, mais uma vez a primeira fase. E depois, e depois, e depois, tornando-o mais forte para a primeira fase seguinte.
E quando a última primeira fase chegar, faça por onde merecer passar o resto dos tempos dormindo em uma covinha escondida no sorriso tímido de alguém.

Bem que poderia haver o princípio jurídico da fungibilidade na Língua Portuguesa, sobretudo em relação àquelas palavras homônimas, ou seja, termos que possuem pronúncia idêntica (em alguns casos, a mesma grafia), mas significados totalmente diferentes (ex.: caçar/cassar, cervo/servo, cito/sito, tachar/taxar, ora/hora).
É que no Direito, com especial destaque ao artigo 273, § 7º, do CPC/73, agora com previsão no parágrafo único do artigo 305, do Novo CPC, caso o autor pleiteie tutela antecipada quando o correto seria tutela cautelar, o Juiz poderá deferir o pedido que fora elaborado de forma equivocada, dada a sua semelhança.
O mesmo ocorre em relação às Ações Diretas de Inconstitucionalidade e Ações de Descumprimento de Preceito Fundamental, a serem julgadas diretamente no STF, de modo que o acesso à Justiça não será obstruído pelo mero, corriqueiro e debatido erro de forma.
Eis o princípio da fungibilidade, facilitador da vida jurídica e que poderia facilitar a Língua Portuguesa. Afinal, em sede ortográfico-gramatical-lexical ninguém consegue ser 100% experto, mas apenas esperto no concerto de palavras e ideias.

Todos brilhamos de alguma forma. Sempre acreditei demasiado nessa premissa, mas a luz que vem de certas pessoas brilha mais forte entre a multidão. Chama a atenção só pelo olhar, como se os olhos fossem duas lanternas vivas iluminando todo o caminho. Brilhar é ser simplesmente feliz, quando tudo parece desmoronar. Humilde, quando as vitórias parecem falar mais alto que o respeito pelo próximo. Forte, para levantar de novo quando cair. Inquieto, quando a calmaria conduzir para a monotonia. Por isso eu gosto de estar ao lado de pessoas brilhantes, não para furtar a luz que elas emanam, mas porque tenho medo da escuridão.

O meu dia deveria ter 48 horas, nem que pra isso vivesse metade dos anos que viverei. Assim, eu teria tempo para ler mais, escrever mais, viver mais. Sairia mais.Quem sabe até faria aquela faculdade de Filosofia ou aquele curso de inglês, e teria horas e horas para poder pensar sobre a vida e o tempo, e também sobre o nada. Aos finais de semana, os familiares me veriam fora do quarto, distante dos papéis, canetas, computador e livros. Achariam estranho e mediriam a minha temperatura, mas ficariam felizes com a minha efetiva presença na casa. Me sobraria tempo para ficar cuidando da churrasqueira no almoço de domingo, enquanto absolutamente nada passasse em minha cabeça.
E quando o relógio marcasse as 48 horas, meu espírito se renovaria e o meu sono seria convertido em força para iniciar a primeira hora do dia. O infinito e o além estariam muito mais próximos...

Os ponteiros do relógio
Muito já se falou sobre o tempo, mas quase nada se disse sobre os ponteiros do relógio. Cazuza, Drummond, Shakespeare, Nietzsche, Fernando Pessoa, talvez Sócrates e outros tantos se debruçaram sobre o tempo e colocaram no papel aquilo que de repente brotou em suas imaginações, como se estivessem ali debaixo da cama só esperando que se deitassem para fazê-los levantar e brincar com as palavras.
E os ponteiros? Você já reparou nos ponteiros do relógio? E não venha me dizer que é de somenos para ser observado, Mário Quintana falou de algo muito menos importante e foi louvado pela crítica, basta ler "Pausa" e ver que os óculos sobre a mesa são bem menos relevantes que esses dignos operários do tempo, que não param um segundo sequer para fazer a máquina do mundo girar.
A má notícia é que, se você não foi capaz de reparar nos ponteiros, os quais estão a lhe consumir dia após dia, pense no tanto de pequenas minúcias que perdeu ao longo de todo este tempo (impossível fugir do tempo).
E porque é impossível fugir do tempo, passemos então a observar tudo que se pode ver, sentir ou tocar. Já parou pra pensar que os ponteiros do relógio formam uma família com três membros, provavelmente pai, mãe e filho? E que eles se abraçam mais vezes por dia do que muitos que se acham donos do tempo?
Mas o ônus dos ponteiros é serem partes essenciais do tempo, e girarem em torno do círculo repetidas vezes no mesmo lugar. Pessoas serenas, pensantes e pontuais, nunca atrasam. Devem se comunicar entre si através do carolinês, enquanto o filho usa o peculiar dialeto tique-taquês.
Quantos de nós não estamos sendo partes essenciais do tempo, mas parados no mesmo lugar?
Como disse Arnaldo Jabor: "Você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais".

P.S.: A moça da meteorologia também fala todos os dias do tempo. Não podia me esquecer dela...

"Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais"

A todos que irão fazer o Exame de Ordem neste domingo, e a mim também (que preciso sempre me cuidar para que meus passos não sejam nunca depressa o bastante para serem desordenados), tenhamos em mente que não importa o resultado no final do dia, mas sim aquele resultado que já alcançamos nesses quase cinco anos de caminhada jurídica e, sobretudo, pelos próximos anos e décadas que temos a trilhar pelo Direito. Levemos o sorriso para a prova, e para depois dela também, porque a caminhada é longa e "há muitos que esperam que cheguemos para que possam seguir-nos".

"Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei"

Não sabemos tudo, jamais saberemos. Isso significa dizer que não somos obrigados a sermos aprovados em uma simples prova, porque na prova da vida já estamos disputando a melhor colocação em relação a nós mesmos. E para aqueles que acham que sabem tudo, eles nada sabem sobre vida, conhecimento, humildade, sabedoria e virtude. Decorar leis não engloba todas essas outras qualidades que somente o tempo pode nos proporcionar.

"Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou"

Compreendamos a marcha e sejamos críticos para perceber que o Exame da OAB não mede da melhor forma a nossa capacidade, de modo que há milhares de aprovados que se agarram apenas à sua memória fotográfica, decoradores de leis, mas memória fotográfica não tem som, não fala, não organiza as ideias. Ir tocando em frente implica na nossa responsabilidade de termos olhos para ver que a estrada é longa, e não se resume a uma prova, apenas. Há muita gente que irão precisar dos nossos serviços, há muitas vidas que dependerão de nós, por isso sejamos interpretes da lei, hermeneutas, e não meros leitores de códigos. Afinal, nós somos a estrada por onde passará a Justiça, bem assim as injustiças e agruras do mundo, a depender da nossa capacidade como JURISTAS.

Que venha a 1ª fase da OAB, mas, sobretudo, que venha o destino que planejamos no universo do Direito. A vida segue, independentemente do resultado de hoje. Ao infinito e além...

Da matemática só me lembro do velho jargão: "a ordem dos fatores não altera o produto". Lembro pouco porque enveredei meu caminho para longe dos números e dos cálculos, pois não gosto da exatidão das coisas, mas da discussão proporcionada por pontos de vista distintos. E, por incrível que pareça, pouco gosto das regras gramaticais, apesar de ser graduado na área e tentar obedecê-las, mas elas não exigem argumentações; afinal, o "m" vem antes do "p" e do "b" porque assim se quis, e somente por isso, só para citar um exemplo.
Gosto do Direito, da Literatura e da Filosofia porque chego perto daquilo que sempre prezei enquanto estudante: o debate e a circulação de ideias. De sorte que, mesmo incauto na matemática, chego a pensar que a regra da ordem dos fatores que não altera o produto se faz totalmente presente no processo civil, uma vez que não importa como se deu o ato processual, desde que alcançado o seu fim devemos tê-lo como válido e existente.
Na seara da Literatura, penso que a ordem dos fatores altera sim o produto, pois basta ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas para notar que uma vida narrada a partir da morte altera totalmente o ponto de vista do narrador-personagem sobre os seus atos em vida, a morte torna-o mais sensato, ou, pelo menos, deveria torná-lo, visto que defunto-autor e sem compromisso algum com a sociedade.
Já no campo da Filosofia, prefiro crer que se a ordem dos fatores não altera o produto, a soma deles o acresce. Por isso, na vida devemos procurar pessoas que somam, e não que nos subtraiam de nós mesmos.
Talvez tudo isso seja apenas parafernalha para o apaixonado por números e cálculos maçantes, mas são ideias que de repente brotam e pedem por palavras, sem esperar por algum resultado...

Eu tive um sonho... Essa noite eu tive um sonho que me deixou encucado. Sonhei que eu estava entre os cegos de Saramago, mas na ala da história que não foi narrada no "Ensaio sobre a cegueira". Lá não havia nem o médico e nem a sua esposa. Era uma turma diferente, todos portugueses. Percebi isso pelo sotaque. Um Camões no canto falava sobre mares e restelo, outras corolas criticavam o Eça e o crime do padre Amaro. O Eça falava dos maias. Umas jovens, bonitas até, falavam de Cristiano Ronaldo enquanto ele se olhava no espelho, e não via nada além da cegueira branca. Outras pessoas falavam de Pessoa. Enfim, todos falavam muito, mas só eu não era cego. Então comentei com o Camilo a minha condição. Ele não acreditou. Distanciou-se um pouco e me pediu para ler a capa do seu livro que estava em sua mão. Não consegui decifrar o que estava escrito. Xingaram, me chamaram de mentiroso, sem coração e maldoso, e vieram atrás de mim como zumbis. Nessa hora eu acordei. Ufa. Mas hoje eu durmo de óculos e volto lá para provar que sou míope, e não cego.

Antes de dormir, pensei bastante nisso. Se juiz for realmente Deus, e parece mesmo que é, isso pode ser bom pra nós. Isso porque, o art. 6º do Estatuto da OAB diz que não há hierarquia entre advogados, membros do ministério público e magistratura. Logo, se um for Deus, todos serão. Politeísmo? Sim. Mas tudo bem. E se somos estudantes de Direito, pretensos juristas, por óbvio que deuses não somos (posto que não está na Lei), mas estamos quase ali. Somos, portanto, quase semideuses. Tipo Aquiles que Prometeus e não Cumpreu-se. O problema disso tudo é convencer os ateuses...

Um brasileiro será legalmente executado hoje na Indonésia por tráfico de drogas. Antes que me refutem, não defendo bandidos, não quero adotá-los, não tenho a pretensão de torná-los impunes, apenas gosto de defender a lei e todas as suas nuances interpretativas. Assim, se a legislação daquele País prevê a pena capital, e se não houve absolvição, então que se cumpra (infelizmente) a lei. Digo "infelizmente", porque não acredito na falácia do pensar que a pena de morte seja o remédio certo para aquilo que é errado. Afinal, em uma sociedade doente, e a Indonésia não me parece ser menos moribunda que o Brasil, pior que a pena morte só a pena de vida.

É uma forma demasiado pequena crer que somente aqueles que leem palavras podem ser chamados de leitor. Não. De forma alguma. Somos todos leitores. Há aqueles que nunca leram um livro sequer, mas conseguem ter uma leitura corporal para além da "capa" que cada pessoa veste; já outros, acredite ou não, são magos na leitura da palma de uma mão e da sorte. Há aqueles mais experientes e mestres da vida que fazem a melhor e mais difícil leitura nesse universo: são capazes de ler os olhos do outro e sentir as dores e emoções que nem mesmo o melhor dos autores conseguiriam descrever em signos. Curiosos que fazem leitura labial a metros de distância. E há, por fim, aqueles que conseguem ler a si próprios, pois leem-se diuturnamente sobre os erros mais intrínsecos e os pensamentos mais insanos que habita somente o "eu". A leitura, em quaisquer de suas formas, é sempre um presente. Dia 07 de janeiro - dia do leitor.

Bons livros são como os bons amigos. Ainda que um dia nos cansemos deles e conheçamos outras histórias, eles estarão sempre lá guardados na estante de casa, à nossa espera; prontos para nos contar as mesmas histórias de outrora, mas de um jeito diferente. É que livros, assim como os amigos, ficam melhores com o passar do tempo...

Essa coisa de selfie aqui, selfie ali, tem tomado proporções preocupantes ultimamente. Já disse em outra oportunidade que Narciso sente inveja quando lembra que se apaixonou por sua imagem refletida nas águas do Estige, e não teve um celular com câmera e um espelho cristal três milímetros para tirar fotinhos quinze vezes por dia, postar na rede e ter muitas curtidas por isso. Só que hoje, durante um sequestro com reféns na Austrália, várias pessoas na frente do Lindt Café posaram para uma "selfie adrenalina". É a moda. E agora ela vem acompanhada de um bastão. Algo como "selfie-varinha-de-condão-harry-potter" - estão quase todos enfeitiçados.

Entre lições – Parte I
É de longa data o ditado “planta hoje, colhe algum dia”, que nas palavras polidas de Robert Louis Stevenson, poeta escocês do século XIX, implica não julgar cada dia pela colheita que você obtém, mas pelas sementes que você planta.
"Planta hoje, colhe algum dia" é imperativo que nos dá a certeza de que devemos plantar exatamente hoje, mas a colheita não sabemos qual dia virá, de modo que falacioso é o pensar que se colhe sem plantar.
Tudo isso é lição que aprendemos somente com a própria vida, e não vai adiantar muito explicar para quem não quer escutar, pois só a vida pode dizer e mostrar aquilo que os ouvidos não são capazes de ouvir e os olhos não querem enxergar.
Lição de vida cabe a cada um apreender ou não, a prova somos nós quem fazemos. Assim, a colheita só pode ser feita se um dia se plantou a semente. E semente só arvora se chover na medida certa. Como a vida: só crescemos quando lutamos e cuidamos para sermos melhores que nós mesmos; seguindo em frente, ainda que algumas lágrimas caiam vez em quando...

Eu e minha mochila

Ontem, enquanto eu saía do colégio, parei diante de uma lixeira na esquina e decidi fazer uma limpeza rápida em minha mochila. Só então me dei conta do quão importante ela é para mim e do quão eu fui descuidado com ela durante todos esses anos.

Por isso decidi escrever algo, afinal não é sempre que vemos as pessoas reconhecendo o valor de quem está conosco todos os dias. Somos tão apegados aos nossos planos e aos nossos compromissos, à nossa correria do dia a dia e à nossa gana por chegar lá, que nos esquecemos que para chegarmos temos que ter bagagem, e essa bagagem pode estar um pouco dentro de uma mochila.

A verdade é que foram tantos anos juntos desde o vestibular na primeira faculdade, tantos e diversos livros que ela carregou, algumas poucas peças de roupas nas viagens que fiz, a pé, de carro, de ônibus, de carroça e até de avião, que muitas vezes não sei ao certo se sou eu que a carrego ou se é ela que me leva.

E se é ela que me leva, que carrega parte dos meus sonhos e enaltece a minha sombra quando olho para trás, que deita ao lado da minha cama ou jogada em algum canto do quarto, que esteve comigo nos dias de alegria e nos dias de tristeza, que venceu comigo a Faculdade de Letras, que esteve comigo nos tempos em que trabalhei como vidraceiro (Chaplin, que também cumpriu esse ofício, sentiria pena em não tê-la como eu a tenho), que carregou meu primeiro Vade Mecum na Faculdade de Direito, e que hoje (dia 25/11/2014) protegeu da chuva a minha monografia, quero poder dizer que ontem, naquela esquina de Santa Cruz, depois de um dia de aulas no colégio, com todas as desventuras da vida, eu reconheci verdadeiramente o valor das coisas pequenas em si, mas grandes nos significados.

Mochilas não são só mochilas, depende de nós...

O advogado tem o condão de proteger os desesperados. É interessante pensar que todos somos passíveis de erros e, porque somos imperfeitos, temos direito à defesa. O advogado assume, pois, quase o papel de um salvador; a pessoa entra em seu escritório, imersa em suas desventuras, na escuridão de suas crises, e o bom advogado com o seu conhecimento jurídico acalanta o desafortunado mostrando um novo caminho, uma saída. É como se o seu saber jurídico fosse uma lanterna aos afogados. Quando essa pessoa sai dali, cheia de luz e esperança, talvez o seu problema nem tenha se resolvido, mas ela vai esperançosa por um porvir melhor, e se enche de força para encarar os seus problemas, pois sabe com quem contar.

Tomo a liberdade de propor um novo e profano princípio constitucional: o princípio do ateísmo jurídico, que consiste basicamente em não acreditar que juiz seja Deus.

Escrever é algo fantástico, do nada você sente uma vontade mágica de criar o mundo, então suas mãos falam mais rápido que sua boca, seus olhos são engolidos pelas palavras e, de repente, o texto está pronto. É como se estivesse predestinado a ser você o seu autor.

No conto "O alienista", de Machado de Assis, um médico que achava que todo mundo era louco, no final descobre que dos loucos somente ele o era. Isso me faz pensar nos que têm visão romântica e apaixonada sobre a Política, visão que tira o cidadão da razoabilidade do pensar, como aqueles que parecem amar o Partido, a tal ponto de não ter a responsabilidade de ter olhos quando todos os perderam. Mesmo Saramago parece tê-los perdido, tal como o médico de Machado de Assis.